A Polícia Federal dedicou um capítulo à parte para explicar a investigação contra o empresário e advogado Rodrigo Pimentel, em Campo Grande. Ele é filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel, afastado por suspeita de vender decisões judiciais. Saltou aos olhos o aumento vertiginoso do patrimônio de Rodrigo.
Nesse e demais casos, a PF apura se filhos de magistrados usavam seus escritórios de advocacia como forma de receber dinheiro daqueles que compravam decisões favoráveis.
O envolvimento de Rodrigo, diz a Polícia Federal, começou quando este recebeu valores de uma advogada suspeita de aplicar golpe de R$ 5,5 milhões em um aposentado do Rio de Janeiro. Parte desse valor foi passado para Rodrigo, a fim que o desembargador Sideni Pimentel, o pai dele, desse decisão favorável a Emmanuelle Silva.
Com o aprofundamento da apuração, descobriu-se que Pimentel filho tinha diversas empresas, que somavam capital social de R$ 12 milhões. São seis empresas em ramos como soluções médicas, móveis planejados e consultoria em projetos.
O relatório consta em decisão do ministro do STJ que autorizou a deflagração da Operação Ultima Ratio. Chamou a atenção dos investigadores o fato das empresas, algumas que trabalham com comércio varejista, conforme o Cadastro Nacional de Atividades Empresariais, não constar registro de funcionários em seus quadros.
”… em 2018, declarou ter recebido de rendimento anual o valor total de R$ 3.310.068,00, ou seja, de um ano para o outro o investigado aumentou seus rendimentos em mais de 62 vezes. Mais do que isso, Rodrigo Pimentel declarou ao fisco no ano de 2022 rendimento anual no valor total de R$ 9.226.989,95, isto é, em 6 anos ele aumentou seus rendimentos em mais de 174 vezes”, diz trecho da apuração dos investigadores federais.
O crescimento vultuoso do patrimônio de Rodrigo foi considerado pela polícia como algo que ”destoa da normalidade”.
A polícia analisou movimentação financeira do filho de Sideni. Em algumas delas, o advogado envia o mesmo valor ou valores próximos de uma conta de pessoa jurídica para outra antes de enviar o dinheiro para determinada pessoa. Isso, dizem investigadores, é prática comum usada com recursos de origem ilícita para disfarçar o patrimônio ou repasse de dinheiro para terceiros. Também dificulta a fiscalização e controle de órgãos do sistema financeiro.
Armas e dinheiro estavam com desembargadores e advogados (Foto: divulgação PF)
Ultima Ratio
Os magistrados são investigados em uma ação que apura possíveis crimes de corrupção envolvendo vendas de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, extorsão e falsificação de escrituras públicas.
Os desembargadores foram afastados no dia 24 de outubro, na Operação Ultima Ratio, deflagrada pela PF. Foram cumpridos 44 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STJ em Campo Grande/MS, Brasília/DF, São Paulo/SP e Cuiabá/MT.
O STJ determinou o afastamento do exercício das funções públicas de servidores, a proibição de acesso às dependências de órgão público, a vedação de comunicação com pessoas investigadas e a colocação de equipamento de monitoramento eletrônico.
Entramos em contato com o escritório de advogacia que seria de Rodrigo, no Carandá Boques, mas a ligação não atendeu. O espaço está aberto a todos os citados.