Houve uma época em que, quando um time de futebol começava a tropeçar demais nas principais competições, a diretoria se prontificava em trocar de técnico ou buscar um novo atacante ou camisa 10, na esperança de retomar o caminho das vitórias.
Hoje em dia, porém, a nova tendência é procurar um CEO no mercado. Na semana passada, por exemplo, o Corinthians movimentou o noticiário com as negociações envolvendo Fred Luz, ex-executivo do Flamengo e que atualmente responde pela área de esportes e entretenimento da Alvarez & Marsal.
Mas enquanto o Corinthians, que luta para sair da zona de rebaixamento na primeira divisão, não chegou a assinar contrato com o novo manda-chuva, o rival Santos, que tenta retornar à Série A do Brasileirão, já conta com um CEO para chamar de seu. Paulo Bracks foi apresentado pelo Peixe na última quinta-feira (27). Ele terá a função de cuidar não apenas do departamento de futebol, mas também de ajudar a gerenciar outras áreas da equipe.
Logo que assumiu, Bracks fez questão de respaldar o trabalho do diretor de futebol Alexandre Gallo. O Santos vinha de um momento conturbado nos gramados, iniciado no último dia 19 de maio, quando perdeu para o América-MG, por 2 a 1. Até então, o clube vinha fazendo uma campanha tranquila na Série B do Brasileirão, mas engatou uma sequência de quatro derrotas consecutivas.
O time voltaria a vencer contra o Goiás. Atualmente, ocupa a segunda colocação na tabela, com 22 pontos, um a menos que o líder Avaí.
O Peixe tem a mesma pontuação do terceiro e do quarto colocado, América-MG e Operário-PR, e um ponto a mais que o Vila Nova, primeiro de fora da zona de classificação.
É nesse cenário, ainda um tanto conturbado e em que o técnico Fábio Carille e o próprio Alexandre Gallo chegaram a balançar, que Bracks assume. Mas ele já está acostumado a lidar com situações adversas.
Experiência profissional
Paulo Bracks, novo CEO do Santos, é advogado e tem pós-graduação em ciências criminais. Também possui MBA em direito desportivo e negócios do esporte, além das formações de gestor em futebol e analista de desempenho, ambas obtidas com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Ainda realizou o curso de gestor técnico na Universidade do Futebol, instituição que se dedica a estudar, pesquisar, produzir, divulgar e propor mudanças nas diferentes áreas e setores relacionados ao universo desse esporte.
Atuou no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) a partir de 2007, primeiro como auditor e depois como presidente da comissão disciplinar. Deixou o órgão em 2014, para assumir como diretor de competições da Federação Mineira de Futebol (FMF).
Sua experiência em clubes teve início em 2018, no América-MG. Logo naquele ano, o clube foi rebaixado à Série B do Brasileirão. Bracks, porém, estava à frente das categorias de base da equipe.
Em 2019, quando o executivo já atuava no futebol profissional, o Coelho conseguiu sair da zona de rebaixamento à Série C e terminar o campeonato em quinto na classificação geral. O acesso à elite viria em 2020, quando o América terminou em segundo lugar na tabela e garantiu o retorno à Série A.
Naquele ano, Bracks transferiu-se para o Internacional, que fez boa campanha no Brasileirão. Na fase final, concluída em 2021, por conta da paralisação forçada em decorrência da pandemia da Covid-19, o clube chegou a liderar a competição, mas acabou perdendo o título para o Flamengo, por apenas um ponto de diferença.
Em 2021, o Internacional disputou a Copa Libertadores, mas acabou sendo eliminado pelo Olimpia, do Paraguai, nas oitavas de final. No Gaúchão, a taça ficou nas mãos do arquirrival Grêmio. E no Brasileirão a equipe terminaria em 12º lugar.
Bracks permaneceu no clube de Porto Alegre até 2022, quando foi contratado pela 777 Partners, dona de 70% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Vasco, para o cargo de diretor esportivo.
Vasco
A experiência de Bracks à frente do América-MG foi decisiva para sua contratação pela 777 Partners. Na época em que atuou no clube mineiro, o executivo priorizou atletas da base e, com um elenco jovem, obteve bons resultados em campo.
Quando a 777 assumiu o controle da SAF do Vasco, o clube estava na Série B do Brasileirão. No ano seguinte, no retorno da equipe à elite do futebol nacional, a investidora adotou uma política agressiva de abrir os cofres, na esperança de obter bons resultados esportivos.
No planejamento estabelecido pela direção da SAF para a temporada 2023, o Vasco deveria ter alcançado, pelo menos, uma vaga na Pré-Libertadores – ou algo muito próximo a isso, no andar de cima da tabela.
Na prática, porém, o clube passou grande parte da competição navegando pela zona de rebaixamento e só escapou do cadafalso na última rodada, com apenas dois pontos a mais que o Santos, que foi parar na Série B. O time paulista caiu graças, entre outras coisas, à vitória do Vasco (que estava atrás na classificação) por 2 a 1, contra o Red Bull Bragantino.
A gestão de Paulo Bracks gastou cerca de R$ 110 milhões em contratações para o Vasco, em 2023. A falta de resultados da equipe, mesmo após esse grande investimento em elenco, aliada à demora na troca de técnico depois da demissão de Maurício Barbieri (o substituto Ramón Díaz demorou três semanas para ser anunciado), foi decisiva para a demissão de Bracks pela 777, anunciada um dia depois de o time garantir a permanência na Série A.
Por ironias da vida, a própria 777 Partners agora está mergulhada numa crise sem precedentes ao redor do mundo e vê sua permanência no Gigante da Colina (e no próprio universo do futebol) seriamente ameaçada. Enquanto isso, caberá a Bracks a missão de trazer de volta para a Série A o mesmo Santos que ele, com seu titubeante Vasco, de certa forma também ajudou a mandar para a segunda divisão.