Não são só as ruas, calçadas e paisagismo da Rua 14 de Julho, principalmente via comercial no Centro de Campo Grande, que mudaram nos últimos anos. O perfil das lojas que integram o ecossistema comercial também se transformou.
O fechamento da unidade central da C&A não é exclusividade na região. Outros grandes nomes do cenário varejista nacional também fecharam as portas na região, geralmente por conta de problemas financeiros.
Nesta lista, além da recente adição, entram a Bumerang, lojas Romero, Americanas, City Lar e Lojas Seller — todas na 14 de Julho. Além disso, pontos com placa de aluga-se também já fazem parte da paisagem central. O prédio da antiga Bumerang, inclusive, cruzou toda a revitalização da via e não é alugado desde 2015.
A ‘vítima’ mais recente é a gigante holandesa C&A, que não abrirá mais as portas na Rua Marechal Rondon. Fechada desde o dia 16 de julho, a loja de departamento era um dos grandes nomes que ainda resistem na região central, que amarga fechamento de empreendimentos após a revitalização da região.
Aluguel caro
O aumento do aluguel naquela via tem desencorajado empresários a continuarem empreendendo na região, causando o fechamento de muitas lojas. Comerciantes contam que o valor do aluguel chegou a triplicar em período de sete anos, nos imóveis localizados no trecho revitalizado pelo projeto Reviva Campo Grande.
“Um detalhe muito importante também para os empreendedores é que o aluguel do centro continua com valores muito acima daquilo que é interessante para quem está no comércio. O bairro acaba tendo um aluguel mais barato e tem uma condição de vagas de estacionamento melhor. Todo esse conjunto de fatores implica nesse problema que a gente está vivendo na área central hoje”, explica o presidente da CDL (Câmara dos Dirigentes Logistas), Adelaido Vila.
Uma busca em um site especializado em comercialização de imóveis mostra que os valores dos aluguéis na Rua 14 de Julho variam de R$ 4 mil a R$ 32 mil, a depender da quadra e do tamanho da loja.
Mudança de conceito do Centro
Ao longo dos anos, entre idas e vindas, vários nomes menos conhecidos do grande público também passaram pelo comércio regional. Entretanto, essa história tem dois lados.
Enquanto uns fecham, outras gigantes ainda permanecem no Centro de Campo Grande. É o caso de lojas como a Casas Bahia, Magazine Luiza, Riachuelo e Móveis Gazin. Outra parcela ainda diminuiu o tamanho das unidades, como foi o caso da Studio Z, que antes reinava no cruzamento da Rua 14 de Julho com a Barão do Rio Branco. Hoje, aquele espaço é dividido com uma loja de cosméticos.
Para Adelaido, Campo Grande vive uma forte influência das ações do poder público nos últimos 40 anos. Ele cita o fechamento da ferroviária, depois o da rodoviária na área central, retirada das fachadas e de algumas vagas de estacionamento após a reforma do Reviva.
“Foi uma reforma traumática. Foram dois anos de reforma e deixou um rastro de dificuldade para esse varejista. A reforma deixou a 14 bonita, mas também mudou um conceito de comércio. Mudou um conceito de vivência da cidade, mudou muito”, explica ao Jornal Midiamax.
Pandemia em Campo Grande
Se a reforma da 14 transformou o conceito do centro, a pandemia da covid-19 mudou a forma de consumo das pessoas. “Logo depois que terminou a reforma, nós passamos por apenas dois meses e entramos na maior pandemia que a humanidade já viveu. Passamos dois anos dentro dessa pandemia e a pandemia trouxe uma série de mudanças de hábitos de consumo”, acrescenta Adelaido.
A compra online ficou muito mais forte nos últimos anos. Além disso, o presidente da CDL também cita a tendência da cidade de 15 minutos. “Eu vivo, eu trabalho, eu me exercito, eu consumo 15 minutos próximo da onde eu moro”, diz. Ou seja, a população não vai muito longe de onde vive para consumir.
Falta de vagas de estacionamento também é entrave
Depois que a Rua 14 de Julho e a Rui Barbosa passaram por reformas, muitas vagas de estacionamento foram retiradas, o que virou crítica de lojistas e clientes. Segundo Adelaido, foram cerca de 800 vagas.
Ele argumenta que o resultado foi menor movimento e, consequentemente, queda no faturamento das lojas. Os empresários contam que a falta de lugar para estacionar, o valor caro cobrado pela hora do estacionamento privado e avanço dos comércios nos bairros, desencoraja muitos campo-grandenses de ir ao centro fazer compras.