As lições da Kings League para o esporte tradicional

Não é de hoje que temos abordado, aqui na Máquina do Esporte, a trajetória da Kings League, liga de futebol de 7 inventada pelo ex-jogador de futebol Gerard Piqué. Em abril do ano passado, entrevistamos o influenciador Gaules sobre sua participação na empreitada. Pouco tempo depois, mostramos que a liga havia obtido 60 milhões de investimento para expandir-se mundialmente.

No último domingo, a consagração do título mundial do Brasil de Kelvin Oliveira, em transmissão para 2 milhões de pessoas apenas no país, de acordo com a organização da Kings League, foi também a consagração do torneio que começou como uma brincadeira e, agora, tem tudo para se consolidar no mercado.

O que a Kings League traz de diferente para quem gosta de futebol?

“É um jogo rápido e que tem emoção o tempo inteiro”.

A definição foi dada por minha sobrinha, de quase 21 anos de idade. Ela foi “fisgada” pela Kings League durante as férias em que os primos, todos mais novos do que ela, apresentaram a competição para a família.

O interesse dela em acompanhar o torneio foi também dos avós, dos tios e dos pais. E é exatamente esse dinamismo que a Kings League tem que a transforma num atrativo para um público que pode ir dos 8 aos 80 anos.

A maior dificuldade que existe hoje, para qualquer um que não seja fanático pelo esporte, é ser seduzido a acompanhar um jogo de futebol por 90 minutos.

Num mundo em que tudo está conectado e acelerado, ficar por uma hora e meia com a atenção totalmente voltada para um único assunto é cansativo. Não é à toa que séries são cada vez mais fatiadas em episódios de curta duração. Ou que eventos esportivos tentam se reinventar com paradas técnicas e outras mudanças que possam criar pausas para recuperar o interesse do fã.

O grande sucesso da Kings League não é ter jogadores fora de série ou uma presença maciça em TV aberta (o que não é difícil de acreditar que venha acontecer em breve). O segredo dele foi cuidar para que o esporte seja leve, dinâmico, imprevisível.

Um jogo que está 6 a 0 pode mudar radicalmente nos 2 minutos finais quando o gol passa a valer o dobro. Ou, ainda, uma carta pode ser acionada tirando o craque do time adversário por 4 minutos. Cada time ainda tem direito a uma cobrança de pênalti ao longo de 38 minutos da partida. Isso sem falar nos minutos iniciais, em que a competição começa com 2 em quadra e vai aumentando minuto a minuto até ficar com os 7 jogadores de cada lado.

Tudo isso faz com que, nos dois tempos de 20 minutos que dura um jogo, tenhamos muitas ações que mudam o roteiro da partida. E faça com que o torcedor fique ligado o tempo todo no que está para acontecer.

Não por acaso, a Copa do Mundo que se encerrou no domingo tinha Adidas, McDonald’s e Red Bull como patrocinadores. É a prova de que o produto está sintonizado com as novas gerações e traz uma linguagem moderna para quem quer patrocinar.

A Kings League não vai acabar com o futebol, mas pode ajudar bastante a mostrar que temos de rever um pouco conceitos seculares que cercam o esporte. A tradição é um dos grandes negócios da força de marca do futebol. Mas ele precisa, urgentemente, achar formas de encontrar novos públicos.

O Super Mundial de Clubes da Fifa poderia ser uma plataforma de testes para buscar a modernidade que insiste em ser repelida do ambiente do futebol. Porque o sucesso da Kings League mostra que, mais do que o conteúdo, o que pode afastar o fã do futebol é o formato um tanto quanto antiquado que ele tem para muitos da nova geração.

O futebol ainda é enorme demais para perceber que é preciso mudar. E, quando novos ídolos surgirem dentro do esporte, mas sendo jogado de outra forma, talvez seja tarde demais para perceber que era preciso ter mudado…

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