A receita para o Flamengo fazer o sonho da casa própria não virar pesadelo

A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou, na última segunda-feira (24), a desapropriação do terreno na Cidade Nova para que o Flamengo consiga, enfim, realizar o sonho da casa própria e ter definitivamente o seu estádio.

Com o seu nome, suas cores, sua identidade. Um local que certamente a Nação Rubro-Negra terá muito orgulho de chamar de casa.

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O estádio próprio proporciona não só a maximização de receitas, mas principalmente fortalece o vínculo com o torcedor e gera diversas oportunidades de ativação junto aos parceiros comerciais do clube e também do próprio estádio.

Em 2016, tive a oportunidade de liderar o departamento de marketing de uma das arenas mais modernas do Brasil, a Arena Corinthians, hoje Neo Química Arena. Por isso, posso falar com certa propriedade os ganhos que envolvem a construção de um estádio próprio.

Tudo indica que o Flamengo não precisará de uma construtora fazendo o aporte de investimento para viabilizar a obra, como pudemos ver com grupos como WTorre, OAS, Brio e Odebrecht, entre outras. O clube carioca tem tamanho e capacidade de gestão para gerir 100% sua casa.

É claro que o Flamengo fará parcerias estratégicas para desenvolvimento de áreas específicas de negócios, mas acredito que a gestão e o controle serão do clube. Ou seja, um modelo com mais autonomia quando se compara ao de outros clubes do futebol brasileiro.

Listo abaixo as principais fontes de receita que uma casa própria pode gerar:

Naming Rights
Estrategicamente, o presidente Rodolfo Landim já fez um apelo à torcida para não batizar o estádio com nomes populares para evitar que um nome caia nas graças do torcedor e atrapalhe uma negociação de naming rights do estádio.

Sector Rights
Às vezes atrelado ao grupo econômico que adquire os naming rights, a comercialização dos setores do estádio é uma grande forte de receita da arena. Desde o estacionamento até a esplanada de eventos.

Locação do espaço para eventos
Não me refiro apenas ao campo. Se o projeto contemplar uma esplanada ampla, certamente poderá ser local para eventos em datas sem jogos. Ainda nessa linha, é possível fazer locação de espaço para filmagens. Sou capaz de afirmar que será pensada uma área para feiras e convenções. No Corinthians, criamos um projeto para comercializar festas e casamentos, iniciativa que até hoje rende frutos por lá.

Tour do estádio
Se a Gávea já é um local que desperta curiosidade de torcedores do Brasil inteiro, imaginem o estádio novo. Certamente o tour com opções temáticas será uma grande alavanca de receita. Lembro que, nos meus tempos de Arena Corinthians, contratamos atores corintianos e torcedores fanáticos para serem os guias, justamente para que eles transmitissem emoção a cada grupo presente.

Receita de A&B (Alimentos e Bebidas)
O estádio certamente abrirá um leque gigantesco de oportunidade com grandes operadores de restaurantes e bares. Pizza oficial, refrigerante oficial, hambúrguer oficial e por aí vai. Nesse ponto, a receita não virá apenas com a venda de produtos, mas também com a locação do espaço para grandes restaurantes abrirem franquias e faturarem nos sete dias da semana.

Mídia
Se tem uma coisa que já podemos afirmar é que a média de público do estádio será bem alta, vide o que os torcedores têm feito nos últimos anos. E onde tem fluxo, tem oportunidade de mídia. Não só mídia digital, mas testeiras e lonas pelo estádio inteiro.

Camarotes
Comercialização anual de camarotes proporcionará ao clube uma receita significativa.

Cadeiras Cativas
Alavancagem de receita muito importante para antecipação de recebíveis. Imagino que o clube não abrirá um leque muito grande de cadeiras. 

Estacionamento
Com a revitalização do entorno, se for criada uma estrutura de bares e restaurantes perto do estádio e/ou até mesmo modelo de restaurantes com vista para o campo, certamente haverá muita procura de vagas em datas sem jogos.

Museu do Flamengo
Mesmo que tenha lançado um recentemente na Gávea, imagino que um museu dentro do estádio poderá proporcionar uma experiência inesquecível para os torcedores.

Loja oficial
Liderada pela MF Plai, um dos cases de maior sucesso quando o assunto é gestão de lojas, mal posso esperar a megaloja do Flamengo no estádio.

Tecnologia
Rede de wi-fi será fundamental para a conectividade da torcida e certamente uma mola propulsora de geração de receita. Além disso, disparos de “push” por aproximação pode ser uma forma segmentada e inteligente de se atrair clientes e ativar os torcedores.

Essas são as principais receitas que uma arena pode gerar, sem entrar no mérito de receitas advindas de bilheteria e sócio-torcedor, que já são receitas que fazem parte do clube hoje em dia.

Destaco que o objetivo de um gestor de arena é maximizar o calendário de utilização para que sempre haja alguma atividade em datas sem jogos.

Dentro ainda da comercialização de patrocínios, o ponto mais importante para mim nessa relação marcas x estádio é o clube ter um entendimento da importância das ativações por todo o local. Por isso, tão importante quanto o valor do “cheque”, é o entendimento de qual será a ativação da marca na arena, pois só a compra de mídia pode ser muito pouco.

Em uma arena, a experiência do torcedor tem que ser pensada a todo momento. Do momento em que ele estaciona o carro até o momento que vai ao banheiro.
E só quem podem ser disruptivas e inovadoras são as empresas.

Boa sorte à Nação nesse projeto que, tudo indica, será um dos mais importantes e impactantes para a indústria esportiva do Brasil.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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