
Formato de vídeos tem alavancado perfis nas redes sociais e já é adotada pelo Marketing de empresas “Dois reais ou um presente misterioso?”, “Não fala nada e eu pago o que colocar na cesta”, “A primeira coisa que citar em três segundos, eu compro para você”. Os enunciados são variações da corrente de presentear desconhecidos na rua, cujos vídeos surgiram no Tiktok e acumulam milhões de visualizações na internet. Ouvir uma dessas frases na rua, portanto, virou um sonho compartilhado por usuários de redes sociais nos últimos meses.
Mas, afinal, como é feita essa distribuição de mimos, que podem ser livros, roupas, maquiagens e até brinquedos eletrônicos que custam milhares de reais? Para entender a dinâmica, vale observar que este formato de vídeo tem alavancado os seguidores de influenciadores digitais e já é adotada pelo Marketing de empresas como O Boticário, Prime Video, Aramis, Cacau Show, Livraria Leitura e outras.
Ou seja, os recursos podem ter diversas origens. O próprio bolso do influenciador, como um tipo de investimento no seu trabalho; ou serem obtidos através de parcerias, como quando uma loja libera crédito em troca de divulgação; e ainda por contratação de empresas para produção de vídeos patrocinados.
Blogueiro desde 2008, Ilan Kriger já acumulava 700 mil seguidores quando, em 2021, começou a dar presentes para pessoas na rua. Seu número de seguidores então disparou. Hoje, são 17 milhões de pessoas que querem ver vídeos das surpresas feitas ou saber se ele está por perto e nutrir a esperança de ser abordado.
— Quando eu comecei a fazer este tipo de vídeo, eu tinha uma receita de R$ 5 mil e usava essa verba para comprar os presentes. E eu continuo olhando para as visualizações dos meus vídeos para entender o que vai ser pago de monetização pelas redes sociais e construir a métrica do que tenho para gastar no mês seguinte — conta o influenciador de Curitiba, que viaja pelo país gravando vídeos no formato e ficou conhecido como “Moço do Te Amo”, por se despedir assim em vídeos.
Atualmente, ele também conta com empresas parceiras ou patrocinadoras.
— Eu fiz um vídeo numa loja de brinquedos uma vez, pagando do meu bolso, e na segunda vez que estive lá, propuseram parceria. Uma menina escolheu uma moto de R$ 3 mil e, se eu bancasse, teria prejuízo — diz: — Já ganhei R$ 30 mil para fazer um vídeo como publicidade. Aí tenho que pagar meu tempo gasto, o cinegrafista, o editor, mas também escolho investir muito no presente. Poderia colocar mais no bolso e dar um presente barato, mas perderia a chance de fazer um vídeo maior.
Trend pode reforçar ou reposicionar
O coordenador do curso de Publicidade e Propaganda do Ibmec, Victor Azevedo, explica que, para aderir a esta corrente, as empresas precisam ser do setor de Varejo, ou seja, ter produtos para entregar na mão da pessoa abordada, ou de Serviço, desde que disponibilize um voucher. Em geral, o que elas buscam é conexão com um público mais jovem, de 20 a 25 anos, que começa a ter poder aquisitivo.
Analisando o comportamento dos seus quase 3,9 milhões de seguidores no Tiktok, O Boticário já notou que postagens com correntes virais são seus maiores sucessos. Além da promessa de trazer muitas curtidas ao perfil, a proposta desta, especificamente, combina com a marca. Não a toa as lojas recebiam visitas espontâneas de influenciadores digitais gravando seus vídeos. E também resolveu investir na produção própria.
— Entendemos que a “trend” (tendência) tinha uma grande sinergia com a marca, já que nós priorizamos a conexão por meio do gesto de presentear, que consideramos ser uma das nossas fortalezas — diz Sylvia Cardoso, gerente de Comunidades e Marketing de Influência do Boticário.
Enquanto a corrente reforça o potencial das duas marcas de beleza, a Aramis tem usado as “trends” como estratégia de reposicionamento desde 2020, quando incluiu jovens como público-alvo.
— As novas gerações estão cada vez mais criteriosas no momento de consumir e, ao mesmo tempo, mais conectadas. Então, como marca, precisamos mostrar que estamos inseridos na sua maneira tão dinâmica de comunicação — explica Monique Freire, Gerente de PR da Aramis.
Para gravar o vídeo oferecendo R$ 50 ou um presente misterioso, no fim do ano passado, a marca contratou um influenciador já parceiro, que sabia exatamente qual mensagem passar.
— A ideia era abordar homens que já se cuidavam, pois essa pessoa ia virar um cabide da marca. Como gravamos logo depois do Natal, a proposta era montar um look completo casual e festivo. E a pessoa que topou acabando sendo alguém que ia para uma festa de Réveillon no Rio — lembra Rodolfo Kanematsu, o “Guru do Estilo”, que obteve 500 mil visualizações na publicidade postada.
Editoras e livrarias adotam estratégia
Parceira de editoras, Mithi Silva recebe livros para resenhar nas redes. Em 2023, com a corrente já em alta, ela resolveu destinar as obras, após as leituras, a desconhecidos nas ruas. Gravando vídeos, espontaneamente, em Recife, ela viu o engajamento subir e chamou a atenção de livrarias, como a Leitura, que viraram parceiras também.
— Eu tinha 18 mil seguidores e hoje tenho 42 mil. E os vídeos mais visualizados são realmente esses. Tem um no Tiktok com 4 milhões de visualizações. Na maior parte das vezes, presenteio, espontaneamente, com livros que ganho. Mas já fui paga também — diz a jovem, de 25 anos.
O segmento editorial entrou com tudo na “trend”.
— Há alguns meses, a HarperCollins fez contato com influenciadores e sugeriu a ação de entrega de livros na rua. Participar de “trends” como essa gera um bom engajamento nas redes. E ainda é incentivo à leitura. As pessoas ficam surpresas ao receber um presente misterioso, mas quando se trata de um livro, a reação costuma ser bastante especial — conta a gerente de marketing da editora, Milena Lourenço.
A ação costuma ser feita, principalmente, com livros voltados ao público jovem, segmentando as estratégias de marketing. No Grupo Editorial Record, a editora Galera Record é a líder na trend.
— É a editora com maior participação na venda para o público jovem. Então estamos atentos a “trends”, memes e brincadeiras que estão acontecendo, atualizando nossas redes com essas práticas. Na época da pandemia, por exemplo, estimulamos a criação de “fofocas literárias” (formato de vídeos em que o leitor conta o enredo principal de um livro como se fosse uma fofoca) no TikTok com nossos livros e isso ajudou muito a impulsionar a venda de alguns mega sellers do grupo — explica Everson Chaves, gerente de marketing do grupo.
O poder das redes sociais é comprovado pela livraria Leitura Dom Pedro, em Campinas. Livros indicados pelo Tiktok representam, atualmente, 10% do faturamento da loja, revela o gerente Raul Skug. E, por isso, ele faz questão de manter a conversa com quem entende do universo.
— Temos influenciadores pequenos regionais como parceiros, os Leitura Lovers. E uma vez por mês eles vêm escolher produtos para levar. Então foi uma influenciadora que sugeriu fazer com os livros que ela pegaria o vídeo de presente misterioso aqui. Repetimos já outras vezes e, a partir de março, vai ser uma ação mensal feita por funcionários dentro da loja.
Saiba-mais taboola
Fonte










