As tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, vistas inicialmente como ameaça à economia nacional, podem acabar jogando a favor do presidente Lula (PT). É o que avalia o economista Samuel Pessôa, em entrevista à BBC News Brasil.
Segundo ele, a medida tem o potencial de conter a inflação no país — especialmente em setores ligados ao agronegócio — e, indiretamente, beneficiar a popularidade do governo brasileiro às vésperas da eleição de 2026.
“A tarifa de 50% sobre o aço, por exemplo, pode provocar uma queda de preços aqui dentro, já que parte da produção nacional deixaria de ser exportada. Isso pressiona o mercado interno a baixar preços”, analisa Pessôa.
Com a inflação ainda sendo um dos grandes calcanhares de aquiles do governo, qualquer alívio nos preços pode repercutir diretamente no humor do eleitorado — e é aí que Lula pode lucrar politicamente. “É contraintuitivo, mas esse protecionismo americano pode funcionar como um auxílio indireto à campanha do presidente”, diz o economista.
Apesar da narrativa de confronto entre Trump e Lula — potencializada pela aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes e pelo discurso beligerante do republicano —, os efeitos concretos da política comercial de Trump no Brasil podem gerar um paradoxo: o aliado do agronegócio americano pode acabar ajudando, indiretamente, o líder da esquerda brasileira.
Mesmo com a análise técnica apontando ganhos de curto prazo, o Palácio do Planalto adota postura cautelosa. A equipe econômica ainda avalia os impactos sobre setores estratégicos e tenta manter pontes abertas com o governo dos EUA por meio de canais institucionais.
Enquanto isso, lideranças do Congresso Nacional seguem pressionando por uma reação diplomática mais dura — principalmente com a aproximação das eleições presidenciais nos EUA, que podem reacender o embate ideológico entre Biden, Trump e, claro, Lula.










