Sucesso dos brasileiros supera queda precoce de astros internacionais e impulsiona Rio Open 2024

Não é fácil organizar um torneio de tênis. Sem contar tudo que se faz nos bastidores, do lado de fora das quadras, para entreter o público, como erguer um amplo complexo (caso do Rio Open), a modalidade está sujeita a inúmeros fatores que podem complicar e muito a vida do organizador, como questões climáticas, contusões. Mas, assim como pode haver muito “azar” envolvido, a “sorte” também pode sorrir e transformar aquilo que poderia ser um problema em uma solução ainda melhor.

O Rio Open 2024 é um exemplo claro dessa volatilidade. Quando um organizador de um torneio, ainda mais quando se trata do maior da América do Sul, começa a montar a chave, ele tenta, claro, trazer os melhores jogadores possíveis. Isso não é nada fácil porque envolve uma série de fatores que não convém explicar aqui. Mas a questão é que nem sempre aquela chave sonhada se torna realidade.

Para o Rio Open 2024, por exemplo, o croata Marin Cilic era presença confirmada. Ganhador de Grand Slam e ex-Top 3 do ranking da ATP, ele seria uma das grandes atrações do torneio. No entanto, sofreu uma lesão na semana passada, durante a disputa do ATP de Buenos Aires, na Argentina, e não viajou para o Rio de Janeiro.

Cilic, no entanto, não era o único astro internacional na chave principal em 2024. O maior nesse quesito, aliás, já é velho conhecido do público brasileiro, tendo sido finalista das duas últimas edições (com o título em 2022 e o vice em 2023). Ex-número 1 do mundo e atual número 2, o espanhol Carlos Alcaraz é adorado no Rio Open. Por onde passa no complexo do Jockey Club Brasileiro, é tratado como ídolo, especialmente por crianças e adolescentes. E sempre corresponde ao carinho.

Só que, dentro de quadra, aconteceu com ele o tal do “azar do organizador”. Depois da rodada da terça-feira (20) ter sido atrasada por cerca de três horas por conta da chuva (primeira parte do azar) e bagunçar toda a programação, Alcaraz conseguiu jogar apenas dois pontos no Rio Open 2024. Em uma troca de bolas com o brasileiro Thiago Monteiro, o espanhol torceu feio o tornozelo direito. Ainda tentou voltar, completou o primeiro game, jogou mais um, mas desistiu.

Carlos Alcaraz e Thiago Monteiro cumprimentam-se após o espanhol desistir da partida por conta de uma lesão – Reprodução / X (@dThiagoMonteiro)

Para piorar, no mesmo dia, o suíço Stanislas Wawrinka, campeão olímpico, vencedor de três Grand Slams e ex-número 3 do mundo, também caiu na estreia, diante do embalado argentino Facundo Díaz Acosta. No dia seguinte, quarta-feira (21), foi a vez da revelação francesa Arthur Fils, atual número 36 do mundo e também protagonista de todas as chamadas publicitárias do torneio, cair na estreia para um impressionante João Fonseca, carioca de apenas 17 anos que venceu sua primeira partida na vida em um torneio de nível ATP.

É claro que ainda existem nomes internacionais fortes vivos no torneio, casos do próprio argentino Acosta, campeão em Buenos Aires no último domingo (18), e o britânico Cameron Norrie, atual vencedor do Rio Open e que conseguiu passar pela primeira rodada. No entanto, para a torcida, que estava querendo ver Alcaraz, Wawrinka e Cilic em quadra, o que realmente está compensando essas quedas precoces é a atuação dos brasileiros, que já fazem história na atual edição do Rio Open.

Além de Thiago Monteiro e João Fonseca, outros dois tenistas do país passaram pela primeira rodada: Thiago Wild e Felipe Meligeni. No caso de Felipe, com uma pitada histórica: nunca um brasileiro havia furado o qualifying do Rio Open e chegado à chave principal em 10 anos de torneio. Agora, ele já está nas oitavas de final.

Felipe Meligeni vibra após bater o argentino Pedro Cachín na primeira rodada do Rio Open – Reprodução / X (@atptour)

E quer mais uma pitada histórica? O Brasil não via quatro tenistas passando para a segunda rodada de um torneio nacional de nível ATP desde 2001. Como bem lembrou o portal Tênis Brasil, Flavio Saretta, Ricardo Mello, Alexandre Simoni e Fernando Meligeni alcançaram o feito naquele ano no Brasil Open, disputado na Costa do Sauípe, na Bahia.

Uma curiosidade é que, nessa época, o país tinha o número 1 do mundo, Gustavo Kuerten, que perdeu na estreia para Saretta e não foi um dos quatro brasileiros a alcançar a façanha até então não repetida.

Como Monteiro e Meligeni se enfrentarão nas oitavas de final, é certo que pelo menos um tenista do país estará nas quartas de final. Wild, por sua vez, já iniciou seu jogo nas oitavas, contra o espanhol Jaume Munar. O paranaense venceu o primeiro set, mas viu o jogo ser interrompido por conta da chuva e voltará à quadra nesta quinta-feira (22). João Fonseca, por sua vez, enfrentará o chileno Cristian Garín, campeão do torneio em 2020.

Com tudo isso, mesmo com as estrelas internacionais caindo uma a uma e de forma precoce, os brasileiros estão conseguindo impulsionar o Rio Open dentro de quadra. No duelo entre João Fonseca e Arthur Fils, por exemplo, mesmo com a chuva pré-jogo e uma garoa insistente durante parte da partida, a quadra central esteve bem cheia. No duelo seguinte, que acabou interrompido, muita gente também acompanhou o confronto entre Thiago Wild e Jaume Munar.

Até nas duplas o Brasil conseguiu atrair um público considerável. Mesmo jogando em uma quadra menor do complexo, Marcelo Melo e Rafael Matos tiveram bastante torcida. Com a quadra perto da sala de imprensa, foi fácil ouvir gritos e aplausos para os dois. O triste é que estavam de lados opostos da quadra, e apenas Matos passou à próxima rodada, ao lado do colombiano Nicolás Barrientos.

Com praticamente todos os ingressos vendidos antes do início e o sucesso dos brasileiros, será difícil conseguir um lugar nas arquibancadas nos últimos dias do torneio. A movimentação por todo o complexo tem sido intensa, mesmo com a chuva dando as caras em diversos momentos nos últimos dias. O Rio Open parece realmente consolidado e não foi abalado pela saída de suas principais estrelas.

Nesta quarta-feira (21), logo após a vitória de João Fonseca sobre Arthur Fils, a reportagem da Máquina do Esporte conversou com alguns torcedores nos arredores da quadra central do Rio Open, e as opiniões foram unânimes: é legal ver um astro internacional de perto e vê-lo mostrar toda sua habilidade em quadra, mas não há nada como torcer por um brasileiro.

Talvez o engenheiro Pedro Colombo, que frequenta o Rio Open desde 2019, tenha sido o dono da resposta que resume bem o pensamento geral:

“Claro que dá para torcer para o Alcaraz, até porque parece ser um menino legal e joga muito. O mesmo vale para o Wawrinka e para outros grandes nomes que já passaram por aqui, mesmo em outros anos. Mas ver um brasileiro obtendo sucesso é diferente. A vontade de ajudar a empurrar para a vitória é diferente. Parece que é sangue do nosso sangue”, afirmou.

No podcast Maquinistas no Rio Open, gravado pouco antes do torneio, a diretora-geral Marcia Casz e o diretor Lui Carvalho falaram sobre o sonho de ver um brasileiro campeão.

“Então, assim, essa relação e essa não relação só com a equipe, mas essa relação com a cidade, com o evento é superimportante para a gente continuar atraindo os grandes atletas. Estamos aí há dez anos, e a gente, de fato, sempre entregou um line-up de muita qualidade, e a gente torce muito para que esse line-up de qualidade venha agregado de uma equipe de atletas brasileiros também nesse patamar mais acima, que a gente cobra e a gente espera. Porque a gente sabe que os jogadores têm talento, agora a gente está aí torcendo para eles despontarem, enfim, sem citar nomes, mas a gente sabe mais ou menos as nossas esperanças, tomara que vingue, dê certo, que vai ser superimportante para o futuro do evento”, disse Lui.

“A gente tem brasileiros jovens, muito jovens, o que é maravilhoso, né? E, corroborando com o que o Lui falou, é um sonho nosso, é uma nova geração de brasileiros fortes, potentes, que tem aí a possibilidade de estar entre os melhores do mundo e, quem sabe, campeão do Rio Open, que é o grande sonho que a gente tem. Agora, a gente também quer alguém bicampeão, né? A gente nunca teve um bicampeão. Quem sabe, na 10ª edição, a gente vai ter um bicampeão, mas o grande sonho é ter um brasileiro campeão no Rio Open”, acrescentou Marcia.

Os dois ainda comentaram sobre diversos outros assuntos envolvendo o Rio Open. A entrevista completa pode ser acompanhada aqui.

Nesta quinta-feira (22), o Brasil pode ver até três brasileiros chegando às quartas de final. Claro que ainda faltaria muito para uma possível final, o que já seria algo inédito, e até um possível título. Mas o que fica cada vez mais claro no Jockey Club Brasileiro é que torcida e arquibancada lotada, com chuva ou sem chuva, não vão faltar.

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