Ícone do site SUDOESTE MS

Prisão do CEO do Esportes da Sorte aumenta cenário de incerteza para clubes patrocinados

Prisão do CEO do Esportes da Sorte aumenta cenário de incerteza para clubes patrocinados

O CEO do Esportes da Sorte, Darwin Henrique da Silva Filho, entregou-se à Polícia Civil de Pernambuco na tarde desta quinta-feira (5). A Justiça havia emitido um mandado de prisão contra o empresário e sua esposa, Maria Eduarda Quinto Filizola.

O casal é investigado na Operação Integration, da Polícia Federal (PF), que apura supostos esquemas de jogos ilegais e lavagem de dinheiro envolvendo empresas de apostas esportivas.

A prisão do CEO de uma das principais patrocinadoras do futebol brasileiro ampliou o clima de incerteza para os clubes patrocinados. Conforme publicou a Máquina do Esporte, as equipes parceiras da marca optaram, inicialmente, pelo silêncio, alegando que preferiam esperar o desenrolar os fatos, antes de se posicionarem publicamente.

Esse mandado de prisão cumprido contra o executivo não tem caráter definitivo, já que ele sequer foi julgado por um tribunal. Toda a situação, portanto, pode ser futuramente revertida em favor da empresa.

Por outro lado, o estrago feito até aqui na imagem e nas próprias finanças da casa de apostas são consideráveis. Além do CEO, que se entregou à polícia, o pai do executivo, Darwin Henrique Silva, também é alvo de um mandado de prisão na Operação Integration. Ele, porém, optou por não se apresentar, até que a decisão judicial seja derrubada.

Por enquanto, a defesa de Silva Filho tenta obter um habeas corpus no Tribunal de Justiça de Pernambuco (PE). Um outro problema com o qual o Esportes da Sorte convive, nesta maré de azar, é que a Operação Integration resultou no sequestro de bens e no bloqueio de recursos do conjunto dos investigados, na ordem de R$ 2,2 bilhões.

Nem todo esse dinheiro é da empresa, obviamente, mas ela teve parte de seu caixa afetado pela decisão judicial, situação que tende a comprometer sua capacidade de honrar compromissos financeiros a curto e médio prazo. E isso pode incluir o pagamento dos patrocínios aos clubes de futebol.

Clubes patrocinados

Atualmente, o Esportes da Sorte é um dos principais patrocinadores do futebol brasileiro, possuindo parcerias com oito clubes importantes do país. Cinco deles estão na Série A do Brasileirão: Athletico-PR, Bahia, Corinthians, Grêmio e Palmeiras (os dois últimos são os únicos que não levam a marca da empresa no espaço máster da camisa).

Além deles, o Esportes da Sorte também é patrocinador principal de Ceará, Náutico e Santa Cruz. A Máquina do Esporte apurou que ao menos um desses oito times já solicitou ao seu departamento jurídico que analise o caso, de modo a estudar medidas legais a serem tomadas diante da operação. A diretoria do clube em questão teria sido pega de surpresa ao se deparar com o nome da marca estampado nas manchetes policiais.

O que chama a atenção, porém, é que as apurações tiveram início em 2022, com uma apreensão de R$ 180 mil feita pela Polícia Civil de Pernambuco, que seria fruto de um possível esquema de lavagem de dinheiro e de jogos ilegais. A operação que resultou na prisão do CEO e de sua esposa, além da advogada e influenciadora digital Deolane Bezerra, representa a terceira fase dessa investigação.

De acordo com o delegado-geral da Polícia Civil de Pernambuco, Renato Rocha, a Operação Integration apura uma suposta organização criminosa que operaria jogos não autorizados pela legislação e que também realizaria lavagem de dinheiro.

Apesar de não estarem envolvidos na investigação, os clubes patrocinados pela empresa alvo da operação policial veem-se em meio a uma saia-justa que envolve questões como imagem pública e compliance.

A situação se torna ainda mais delicada para equipes fragilizadas financeiramente, nas quais o dinheiro do patrocínio máster tem um peso mais significativo nas contas.

O Santa Cruz, por exemplo, precisou dar entrada no pedido de recuperação judicial no ano retrasado, após ter sido rebaixado à Série D, no fim de 2021. O clube tenta profissionalizar sua gestão e superar as dificuldades financeiras.

O Corinthians, por sua vez, vive uma situação complexa, quando o tema é patrocínio máster. No começo deste ano, o presidente recém-empossado Augusto Melo anunciou o contrato com a empresa de apostas VaideBet, avaliado em R$ 370 milhões e que era, até então, o maior do gênero na história do futebol brasileiro.

Poucas semanas depois, a parceria se converteu em escândalo, na medida em que a imprensa passou a repercutir notícias sobre a existência de intermediação no acordo, fato que, inicialmente, não foi divulgado pela diretoria corintiana. Diante da dimensão alcançada pelo episódio, a casa de apostas optou por encerrar o vínculo com o Corinthians, que ficou sem patrocinador máster, mergulhando em uma crise que abalou a gestão de Melo.

Hoje, ironicamente, a VaideBet também é um dos alvos da operação que atingiu o Esportes da Sorte, marca que surgiu como bote salva-vidas para o Corinthians, em meio àquela forte maré de azar. A empresa firmou com o clube um contrato de patrocínio máster com três anos de duração e que prevê o pagamento total de R$ 309 milhões.

Desse montante, R$ 57 milhões deveriam ser empregados na contratação de um atleta durante alguma janela de transferência.

O Corinthians optou pelo centroavante holandês Memphis Depay, que defendeu times como PSV, Manchester United, Barcelona e Atlético de Madrid, mas atualmente está sem clube, na esperança de repetir com ele o mesmo ocorrido com a chegada de Ronaldo Fenômeno em 2009, quando a equipe retomou o caminho vitorioso, após haver passado a temporada anterior na Série B.

Noticiada com euforia no começo desta semana, a vinda do atacante midiático agora passa a depender de diversas incógnitas, algumas das quais estão vinculadas à própria sorte incerta do patrocinador máster do Corinthians.

Carta aberta

Nesta quinta-feira (5), a assessoria de imprensa do Esportes da Sorte divulgou uma carta aberta assinada pelo CEO Darwin Henrique Silva Filho. Confira o texto na íntegra:

Recife, 05 de setembro de 2024,

Em primeiro lugar, não existem duas verdades, mas podem existir duas, cinco, dez, mil mentiras, mas a verdade é sempre uma só. Preferi vir aqui, antes de cumprir o meu dever com a justiça, e falo com muita transparência, porque se não tivesse a consciência tranquila sobre meus atos, jamais iria me expor nesse momento, inclusive porque serei confrontado comigo mesmo daqui para frente.

Sempre fui muito vocal no intuito de contribuir com o debate favorável à regulamentação das apostas esportivas de cota fixa e jogos online no Brasil. Como representante do Esportes da Sorte, sempre colaborei com a atuação das autoridades e das investigações. Nossa atividade é lícita, já as organizações criminosas são difíceis de combater e acredito que isso deve ser separado. A minha atitude sempre foi defender a lei. Também sempre pautei nossa atuação em favor das boas práticas, do jogo responsável e o defendo como forma de
entretenimento.

Sigo colaborando com todas as investigações, inclusive ficando surpreso com a ausência de motivos que levaram a uma medida tão rigorosa, quanto a que a mim foi aplicada. Dado que sempre me coloquei à disposição das autoridades. De qualquer forma, irei cumprir os ritos legais e observar todas as nuances jurídicas.

Me encontro tranquilo neste momento. Por mais que tenha muita angústia, o que é natural, já que ninguém deseja passar por isso, sigo confiante no processo. Aproveito para agradecer aos nossos colaboradores, clientes, parceiros, e dizer que vocês jamais irão se decepcionar com o Esportes da Sorte.

Vou me dirigir às autoridades para me apresentar e o farei de maneira muito serena. Eu acredito muito na justiça e tenho absoluta certeza da minha conduta e de todas as pessoas que trabalham conosco, sei que tudo isso será esclarecido.

Muito obrigado,

Darwin Henrique da Silva Filho

Fonte

Sair da versão mobile