“Pôquer nunca foi esporte de azar”, diz CEO da Federação Mundial

Leonardo Cavarge conheceu o pôquer nos tempos de estudante universitário, com os colegas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. Os jogos eram brincadeira, mas o ambiente era competitivo. De repente, um dos amigos passou a dominar as partidas.

“Ele amassava em todos os jogos. Perguntei a ele como conseguia. Ele me explicou que, lá fora, existiam fóruns, estatísticas e diversos materiais relacionados a estratégias de pôquer”, conta Leonardo, que diz ter sido presentado pelo amigo com um livro sobre o tema.

Na medida em que ele e os colegas passaram a estudar, as estratégias evoluíram. “Não demorou muito e percebemos que estávamos em um nível melhor do que o dos profissionais do exterior. Se fôssemos jogar lá fora, teríamos condições de vencer quem quer que fosse”, explica.

Na última semana, Cavarge concedeu entrevista exclusiva à Máquina do Esporte. Com experiência no mercado financeiro, em empresas como Itaú Unibanco e HSBC, a partir de 2012 ele passou a se dedicar inteiramente ao pôquer, que seguia como seu hobby dedicado.

Conquistou diversas competições no país e no exterior e, atualmente, ocupa o cargo de CEO da Federação Mundial de Poker (World Poker Federation, em inglês, ou simplesmente WPF), entidade fundada no Brasil e que já conta com 40 nações filiadas, de cinco continentes.

Um dos grandes desafios da WPF, além de unificar as regras da modalidade, é fazer com que ela seja reconhecida como um esporte de mente.

“Pôquer nunca foi um esporte de azar. Tem 0% de sorte envolvida. Essa ideia é uma construção baseada no puro preconceito”, afirma Cavarge.

Segundo ele, o estigma envolvendo o pôquer tem diminuído de maneira considerável, em tempos recentes. “Antes, as pessoas olhavam ficha, baralho, e logo associavam a cassino. Mas isso era fruto da falta de informação. É um jogo de habilidade. Não há sorte envolvida”, diz.

Luta pelo reconhecimento

Para ser reconhecido como esporte de habilidade, o pôquer não teve de enfrentar apenas a falta de informação do público em geral, mas o desconhecimento das próprias autoridades.

De acordo com Cavarge, a Federação Brasileira de Poker acumula 134 vitórias nas diferentes esferas judiciais, em ações que tentavam barrar a prática da modalidade. “Hoje, somos reconhecidos pelo Ministério do Esporte“, afirma.

Um dos trabalhos que a WPF tem procurado fazer, em tempos recentes, é o de buscar a unificação internacional das regras do esporte. “O pôquer está se estruturando. Como não havia uma entidade global, as federações locais acabaram definindo seus próprios regulamentos. O objetivo agora é definir, em conjunto, regras únicas para os campeonatos e disputas”, diz.

Organizar um Campeonato Mundial de Pôquer é um dos grandes objetivos da WPF para os próximos anos, afirma o CEO.

Na visão de Cavarge, o mercado brasileiro atualmente está maduro e as marcas possuem uma percepção saudável a respeito do pôquer. “Hoje, os campeonatos atraem patrocínios de diversas empresas que não são diretamente ligadas ao esporte, como de carros, roupas e alimentos. O público do pôquer é atraente para essas marcas”, explica.

Ultimamente, ele tem realizado diversas palestras em empresas, sobre como as estratégias do pôquer podem contribuir na tomada de decisões no mundo corporativo.

De acordo com o CEO, as competições também têm firmado parcerias com entidades sociais, caso da Make a Wish e da ONG Teto, beneficiadas por ações promovidas pelo Campeonato Brasileiro de Poker.

“O pôquer tem muito coisas importantes para contribuir fora do jogo”, diz Cavarge.

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