Exibida originalmente em 2007, ‘Paraíso Tropical’ repete primeira exibição e engata como ‘novelão’ na reta final da reprise
Faltam pouco mais de duas semanas para Paraíso Tropical se despedir do público do Vale a Pena Ver de Novo na Globo. Com mistérios, intrigas e raivas tipicas de um “novelão” brasileiro, a trama, exibida originalmente em 2007, faz lembrar como é sentir “frio na barriga” assistindo a um folhetim cheio de clichês.
Desprezada pelo telespectador nas primeiras semanas, Paraíso Tropical provou que realmente demora para decolar, em qualquer época. Assim como em sua primeira transmissão, quando dar 40 pontos no ibope às 21h era pouco, a novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares repetiu uma característica da primeira exibição e engatou na reta final, mesmo diante da edição corrida e compactada – ou talvez por isso mesmo.
Quem assiste, entende o porquê. Principalmente se compararmos com as novelas atuais em cartaz nas noites da emissora. Enquanto a busca pelo “quem matou” – trunfo épico de Gilberto Braga – segura o público por um lado, as armadilhas entre os possíveis suspeitos puxam quem ainda curte se amarrar em frente a uma TV para ver novela por outro.
Com soluções e pistas que se dissolvem a todo momento, a trama consegue capturar até mesmo quem já sabe ou se lembra do desfecho e deixa à prova que não basta lançar um clichê em uma história. É preciso também saber utilizá-lo e Paraíso Tropical consegue usá-lo desde quando Taís (Alessandra Negrini) começa a se passar por Paula (Alessandra Negrini), em uma cartada que dificilmente dá errado.
Parece que não, mas muita coisa mudou!
Quem tem mais de trinta anos não percebe, mas pensar em 2007 é se remeter há 17 anos. Quem nasceu enquanto Taís era assassinada, hoje já conclui o Ensino Médio e pensa em seguir uma profissão. O buraco no tempo mostra que muita coisa mudou: dentro e fora da TV brasileira.
Nos folhetins da Globo, produções têm recebido menos investimentos, o que impacta na qualidade do capítulo e as histórias, muitas vezes, têm dado sinais de que não vale a pena desafiar o público – que gosta de um clichê, mas quer ser desafiado.
Do lado de cá, algumas coisas abordadas na sociedade carioca de então parecem seguir iguais – como na época ainda eram iguais as dos anos 80, por exemplo -; outras, no entanto, já caíram por terra. E o mais interessante é que Gilberto Braga e Ricardo Linhares já davam sinais de que sabiam disso. Basta olhar ao redor da realidade de Lúcia (Glória Pires), Bebel (Camila Pitanga) e outros personagens na história e os olhares para homens, mulheres, sexualidade, poder e status social.
Marcada por derrubar o horário que vinha intacto na audiência pelo menos há quatro anos na ocasião, Paraíso Tropical pode ter sido encarada como “problemática” um dia, quando rebolou para entrar na dança e alavancar a faixa. Mas conseguiu! E nada melhor que a reprise para provar e fazer sentir: no diálogo, na trama, na atuação, nas externas, no clichê, ou nos 12 pontos das primeiras semanas que viraram 16 nos últimos dias.