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O que aconteceria com a Terra após a extinção humana?

O que aconteceria com a Terra após a extinção humana?

Embora o pedido de oficialização do Antropoceno como nova era geológica tenha sido rejeitado recentemente pela Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS), é inegável que as intervenções humanas na Terra são extensas o bastante para causar impactos profundos ao planeta.

Por isso, alguns cientistas investigam se a epidemia da covid-19 não teria sido uma espécie de “reação da natureza” “a ação negativa do homem no meio ambiente.

A tese não é nova. Em 2010, uma década antes da pandemia que matou quase sete milhões de pessoas, o respeitado virologista australiano Frank Fenner afirmou que os seres humanos serão extintos nos próximos 100 anos, devido à superpopulação, destruição ambiental e mudanças climáticas.

O que aconteceria com a Terra após a extinção humana?

Sem humanos, nossas casas não teriam água, eletricidade, nem TV ou computador.Fonte:  Getty Images 

Em um artigo publicado na plataforma The Conversation em junho de 2023, o professor de desenho urbano da Universidade de Iowa, Carlton Basmajian, afirma que o primeiro grande impacto do desaparecimento humano não seria percebido com os olhos, mas sim com os ouvidos.

O mundo ficaria em silêncio, e só um observador privilegiado que sobrevivesse poderia notar como nós, nossos edifícios e nossos carros somos barulhentos. Após um ano sem gente, afirma Basmajian, o céu ficaria mais azul, e o ar, mais claro. Com o tempo, o vento e a chuva conseguiriam limpar a superfície da Terra da maior parte da poeira e poluição produzida pelos humanos.

Quem voltasse para casa nesse primeiro ano, provavelmente não encontraria água nem eletricidade, quanto mais TV, sinal de WiFi e computador. Mas certamente haveria muitas plantas novas, e estranhas, no jardim e no quintal. E também uma grande população de insetos no ar.

Um mundo sem nós: a extinção

A natureza é rápida em enterrar civilizações extintas.Fonte:  Getty Images 

Quando fazia pesquisas para seu livro “Um mundo sem nós”, o jornalista Alan Weisman percorreu uma floresta tropical da Guatemala, onde há vestígios de uma cidadela maia com cerca de dois mil anos, chamada Tikal. Hoje, a cidade é Patrimônio Mundial da UNESCO e um dos destinos turísticos mais populares da Guatemala.

Mas, na época, Weiman só enxergava a floresta tropical realmente densa e colinas.  “E os arqueólogos então explicavam que aquele local no qual você realmente está caminhando são pirâmides e cidades que não foram escavadas”, afirmou ele ao site WordsSideKick.com.

Isso significa que, se não houvesse humanos para desenterrar e restaurar suas ruínas, a civilização jamais seria conhecida sob o solo e a vegetação da floresta. “É incrivelmente emocionante a rapidez com que a natureza pode nos enterrar”, afirmou Weisman.  Mas, o que seria das cidades, indústrias e da própria natureza sem nenhum ser humano?

Cidades da Terra: colapso e renascimento

Em pouco tempo, cidades sem pessoas são cobertas pela vegetação.Fonte:  Getty Images 

Na pesquisa de Weisman, baseada em uma improvável erradicação súbita e completa da raça humana, a primeira consequência seria a inundação, em cerca de 36 horas, dos metrôs de cidades como Londres e Nova York, pela falta de gerenciamento das águas subterrâneas. Em seguida, viriam acidentes decorrentes de falta de manutenção humana em refinarias de petróleo e centrais nucleares. 

Em meio a esse caos inicial, a natureza encontraria um jeito (ela sempre encontra) de florescer, e logo a antiga “selva de pedra” estaria coberta de pastagens, arbustos e bosques fechados. O acúmulo de folhas e galhos secos resultaria em excelente material combustível a alimentar possíveis incêndios.

Mas, todo esse material carbonizado “será fantástico para nutrir a vida biológica. As ruas converter-se-ão em pequenos prados e florestas que crescerão dentro de 500 anos”, prevê Weisman.

O que seria das espécies animais em uma Terra sem humanos?

Sem o homem a destruir a megafauna, a diversidade explode.Fonte:  Getty Images 

Segundo o professor de macroecologia e macroevolução da Universidade de Gotemburgo, Søren Faurby, à medida que os habitats — formados por comunidades vegetais, solos, cursos d’água e oceanos — se recuperarem da influência longeva dos produtos químicos, a vida selvagem irá mudar e “fixar residência”.

Esta transição, diz Faurby, tem potencial para aumentar a biodiversidade em escala global de forma nunca vista. Em entrevista ao WordsSideKick.com, ele diz que, sem os humanos se espalhando pelo mundo (e reduzindo as populações de megafauna), a Terra se tornaria tão diversa nessas espécies quanto o Serengeti, citando o famoso parque nacional da Tanzânia, considerado um dos maiores ecossistemas de vida selvagem no mundo.

Weisman diz que as pessoas rejeitam previsões de ambientalistas por medo de perceber o quanto os danos ao planeta estão acelerando nossa própria morte. “Descobri que uma maneira de me livrar do fator medo era simplesmente matar [os humanos] primeiro”, brinca. Livre do sentimento, foi possível focar no que ele queria dizer.

“Eu queria que as pessoas vissem como a natureza poderia voltar lindamente, e até mesmo curar muitas das cicatrizes que deixamos nesse planeta. E então pensar: será que existe uma forma de nos reintegramos a essa imagem de uma Terra restaurada?” — conclui, Weisman.

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