O jogo fora das quatro linhas é tão importante quanto dentro delas

Vamos fechar os olhos e imaginar um jogo que se desenrola não apenas no gramado, mas no pulsar dos corações que batem nas arquibancadas. Este é o sagrado bailado do futebol, onde cada vibração da voz e cada sussurro no vazio se entrelaçam no vasto cosmos dos fãs. Aqui, os torcedores são muito mais do que meros espectadores: são alquimistas que transformam o ar em ouro, tecendo com suas emoções o manto sagrado da paixão pelo jogo.

No cerne deste fenômeno, jaz a caleidoscópica tapeçaria de aficionados, desde aqueles que vestem com fervor as cores do time até os guerreiros da era digital que brandem suas vozes nas redes sociais. São existências plurielaboradas: os que buscam comunhão, os que almejam um porto seguro no cais do esporte e aqueles que, talvez sem saber, encontram no futebol um escape onírico, um êxtase onde a alegria e a desolação se fundem em uma sinfonia intensa. Uma imersão em um mundo alternativo, onde eles podem experimentar alegria, tristeza, euforia e desilusão intensamente. É um jogo em que as emoções estão em jogo, e as regras são ditadas pela paixão.

Para ajudar a ilustrar, pense no último jogo que assistiu. Você estava lá pelo amor ao esporte, pela comunhão com os amigos ou pela adrenalina da competição? Como essa experiência se compara àquela de assistir a um jogo sozinho em casa?

Estes arquétipos (ou personas) em linguajar contemporâneo apresentam um mosaico fascinante de interações com seus ídolos. Há os torcedores cuja conexão emocional com o clube manifesta-se em comportamentos lúdicos intensos. Por outro lado, existem os menos envolvidos, que, embora ainda se considerem torcedores, tendem a interagir com o clube de uma maneira mais distante. E, atualmente, há aqueles que buscam influenciar o clube como se fossem acionistas ou consultores.

Essa visão acaba desafiando os cânones do marketing esportivo que estão acostumados a ver os torcedores como consumidores estáticos. A perspectiva inovadora é vê-los como cocriadores do espetáculo, integrantes ativos no teatro do futebol. Neste novo ato, clubes astutos oferecem experiências que ressoam com as múltiplas facetas do engajamento: realidades virtuais que transportam para o epicentro da batalha, ou fóruns onde cada voz é um tijolo na construção do futuro do clube.

Um excelente exemplo de como funciona esse “jogo humano” pode ser observado nos torcedores do Borussia Dortmund, conhecidos por sua “Muralha Amarela”. A energia coletiva e o apoio vibrante vêm de uma sincronia perfeita de cantos, cores e movimentos, criando uma experiência intimidante para os adversários e elevando o próprio desempenho da equipe. Não se trata apenas de um grupo de indivíduos assistindo a um jogo; é uma comunidade engajada em um ritual compartilhado, um jogo dentro do jogo.

Não menos fascinante é o universo dos e-Sports e de jogos como o Fifa, em que a fronteira entre o atleta e o torcedor se desfaz em pó. Os torcedores não apenas consomem futebol passivamente, mas engajam-se ativamente, criando suas próprias equipes e competindo em ligas virtuais. Aqui, a linha entre jogador e fã se desvanece ainda mais, destacando a complexidade que é o moderno fã de futebol e a importância de se entender, conhecer e saber trabalhar, cada vez mais, os torcedores como identidades únicas no jogo que acontece dentro e fora das quatro linhas.

Fernando Fleury é CEO da Armatore Market+Science, PhD em Comportamento do Consumo e trabalha com inovação e tecnologia para criar novos modelos de negócios para a indústria com a construção de soluções avançadas e modelos preditivos usando inteligência artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados para entender o ciclo de vida dos produtos, criar novos produtos e identificar e rastrear clusters a fim de aumentar a receita, o público e o envolvimento dos fãs. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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