Trama do SBT tinha como pano de fundo o período da ditadura no Brasil e passou por reformulações após primeiro beijo lésbico exibido na televisão
Em 5 de abril de 2012, há 13 anos, o SBT estreou Amor e Revolução, novela inédita escrita por Tiago Santiago que ocupou a faixa das 22h30 e 23h. A trama tinha como pano de fundo o período da ditadura no Brasil, mas tratava de diversos temas relacionados com a liberdade individual. Apesar dos esforços para fazer uma novela de sucesso, o folhetim não teve um bom desempenho e a emissora barrou beijo entre homens após cena com beijo lésbico ser mal recebida pelo público conservador.
Trama inédita
Como recorda o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, Amor e Revolução era ambientada entre 1964 e 1971 e combinava romance e política com o objetivo de jogar luz sobre os horrores da repressão, os movimentos de resistência, e os dilemas morais vividos por personagens de todos os espectros — de militares linha-dura a guerrilheiros idealistas.
O Teledramaturgia relembra que, além da ficção, a novela tinha um diferencial forte: ao final de cada capítulo, exibia depoimentos reais de vítimas da ditadura, como José Dirceu, Rose Nogueira e Luiz Carlos Prestes Filho, que relatavam torturas, censura e perseguições.
A mistura de drama com documentário reforçava o compromisso da obra com a memória e a verdade histórica. No entanto, relembra Xavier, em julho de 2011 os relatos foram abruptamente retirados do ar após a emissora alegar falta de “equilíbrio” entre os lados: não haviam conseguido depoimentos de militares para “contrabalançar” a narrativa.
Beijos polêmicos
Mesmo com uma proposta tão densa e politizada, o momento mais comentado de Amor e Revolução não veio da reconstituição histórica, mas de uma cena afetiva. Em 12 de maio de 2011, a novela exibiu o primeiro beijo entre duas mulheres da teledramaturgia brasileira, protagonizado pelas personagens Marcela (Luciana Vendramini) e Marina (Giselle Tigre).
A cena, recorda o Teledramaturgia, causou furor na imprensa e nas redes sociais, dividindo opiniões e gerando debates sobre representatividade, conservadorismo e liberdade de expressão. A reação do público foi intensa, e parte conservadora rejeitou abertamente a exibição da cena.
A consequência veio semanas depois: outro aguardado beijo, agora entre os personagens masculinos Jeová (Lui Mendes) e Chico (Carlos Artur Thiré), prometido para julho de 2011, foi vetado pela emissora. Em nota oficial resgatada por Xavier, o SBT afirmou que pesquisas indicaram rejeição a cenas consideradas “de forte violência” e ao “beijo gay explícito”. Tiago Santiago tentou resistir, chegou a gravar uma nova cena entre as personagens femininas, mas ela também foi censurada — ironicamente, só foi ao ar no site oficial da novela.
Fracasso no Ibope
Apesar das intenções ambiciosas e da coragem de abordar temas raramente explorados em novelas, Amor e Revolução não conquistou o público. A audiência média foi de apenas 4,8 pontos na Grande São Paulo, desempenho abaixo do esperado para uma novela inédita em horário nobre.
Em várias ocasiões, segundo Xavier, a trama perdeu até para reprises vespertinas do próprio SBT, e isso gerou atritos entre o autor Tiago Santiago e a direção da emissora, especialmente com o diretor Reynaldo Boury.
Entre os fatores apontados para o fracasso estavam a narrativa considerada didática demais, atuações pouco expressivas e uma direção que não conseguiu equilibrar o tom entre o panfleto político e o drama novelesco.
Além disso, as cenas de tortura e violência — embora contextualizadas historicamente — foram vistas como excessivas e sensacionalistas por parte do público. O resultado: muitas dessas sequências foram cortadas e a novela passou por uma série de reformulações para se adequar ao gosto popular, medida que não teve sucesso.
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