Censores viam potencial incentivo entre choque de gerações no enredo da novela da Tupi e barraram representação fiel de fenômeno hippie na televisão
Em 24 de setembro de 1970, há 54 anos, a TV Tupi, pioneira da televisão brasileira, lançava Toninho On The Rocks como sua nova novela das oito. A trama, que tinha texto de Teixeira Filho e direção de Lima Duarte, pretendia representar o fenômeno hippie e incomodou a censura da ditadura com gírias jovens e hipnose.
A expectativa era de que a novela fosse uma nova Beto Rockfeller, que havia sido exibida pela Tupi em 1968 e foi um grande sucesso. Entretanto, apesar de ter o mesmo diretor, a obra não foi bem recebida pelo público e precisou ser encurtada.
Toninho On The Rocks enfrentou algumas mudanças de texto impostas pelos censores do regime militar, que implicaram com as gírias usadas para representar a geração hippie. As modificações na trama podem ter atrapalhado o público a se conectar com a história que queria ser contada, mas não foi feita livremente.
O jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, resgatou um trecho do livro Beijo Amordaçado – A Censura às Telenovelas Durante a Ditadura Militar, do pesquisador Cláudio Ferreira, que narra as justificativas dos censores para barrar falas da novela:
“[A emissora] teve que cortar várias gírias da época, como ‘sarro’, ‘bicho’ e ‘troço paca’. A censora Luzia B. de Paula viu uma mensagem negativa: ‘Revolta e choque de uma geração mais velha com a geração jovem, contraditória, confusa, refletindo-se nos costumes e ideias de toda a cidade’. E acrescentou: ‘desvalorização da autoridade dos mais velhos, que são colocados quase sempre em situação de inferioridade em relação à nova geração’.
Teresa Cristina dos Reis Sardinha examinou capítulos diferentes e fez novas restrições: ‘Diálogos: vulgares, excesso de gíria, gramática incorreta. Também pessimistas, por vezes violentos. Cortes: cenas de hipnotismo que induzem ao estado de dependência da pessoa, ofensas a pessoa religiosa (padre), revolta contra o domínio paterno, exaltação à não obediência aos pais“.
O enredo do jovem milionário que chega a pequena cidade Santa Cecília das Rochas pode não ter sido sucesso entre o público, mas foi um dos primeiros trabalhos de Antônio Marcos e Débora Duarte, que no futuro se casariam e dariam a luz à atrizPaloma Duarte, como par romântico.