A Netflix lançou o documentário “It’s all over: the kiss that changed the Spanish football (“Acabou tudo: o beijo que mudou o futebol espanhol”, em tradução livre), que conta a história do beijo do então presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, na boca da atacante Jenni Hermoso, durante comemoração pelo título da Copa do Mundo Feminina.
A Espanha tinha acabado de vencer o Mundial, batendo a Inglaterra por 1 a 0 em uma final dramática. Hermoso, que teve papel fundamental no título, ficou chocada com a atitude do dirigente. O beijo forçado gerou uma crise sem precedentes na seleção espanhola, e Rubiales foi obrigado a renunciar dias depois diante da crise criada.
O documentário mostra que as cicatrizes do episódio infame ainda estão abertas entre as jogadoras da equipe.
Assédio
Durante anos, as atletas da seleção espanhola enfrentaram o comando autoritário do técnico Ignacio Quereda, que passou 27 anos no comando do time mesmo sem ganhar nenhum título. Entrevistas mostram como as jogadoras eram tratadas como se fossem “garotinhas” de Quereda.
As denúncias de assédio contra o treinador haviam começado em 2011. Quatro anos depois, houve reclamação coletiva após campanha decepcionante na Copa do Mundo Feminina. E, apesar da queda do treinador, pouca coisa mudou para as atletas.
Controles
Jorge Vilda assumiu o comando da equipe, trazido por Angel Vilda, seu pai, e aliado próximo de Luis Rubiales. As jogadoras relatam que o novo treinador, de perfil controlador, criou um ambiente pesado no elenco. Vilda costumava invadir o quarto das atletas à noite, fiscalizava as sacolas de compras das jogadoras e controlava as entrevistas do time à imprensa. Tais atitudes geraram pedido de jogadoras pela demissão do técnico.
Um movimento de 15 jogadoras reivindicou melhores condições de treinamento à RFEF. A carta seria vazada à imprensa, de acordo com as jogadoras pela própria federação. O elenco acabou sendo acusado de birrento e pouco patriota.
O documentário descreve detalhes desconfortáveis sobre como as relações entre as jogadoras, vítimas de táticas de dividir para dominar, se tornaram distantes. Mesmo após a crise Rubiales, as divisões permanecem no grupo. Algumas jogadoras se recusaram a participar do documentário, que lança luz sobre o poder de homens que comandam o futebol feminino.