Nesta semana, os fãs do basquete foram surpreendidos por aquela que talvez seja a mais chocante negociação de atletas ocorrida na National Basketball Association (NBA), nas últimas décadas. O Dallas Mavericks trocou com o Los Angeles Lakers seu ala-armador esloveno Luka Dončić, recebendo em contrapartida o pivô Anthony Davis.
A negociação entre as duas franquias ocorreu às escuras, ficando restrita aos seus proprietários e um círculo mínimo de pessoas próximas. Nem mesmo os atletas faziam ideia de que seriam trocados à revelia, situação que é permitida nos Estados Unidos.
Com a proximidade dos playoffs decisivos, que terão início em 19 de abril, muitos tendem a avaliar a negociação pela ótica puramente esportiva. Enquanto o Dallas Mavericks, vice-campeão da temporada passada, reforçou seu setor defensivo com a chegada de Davis, o Lakers tem a chance de construir um ataque arrasador, com a dupla LeBron James e Luka Dončić.
Mas a causa secreta por trás dessa troca misteriosa responde por outro nome, dinheiro (muito dinheiro), e tem relação direta com as regras de fair play financeiro da NBA.
Troca alivia cofres das equipes
Dončić, 25 anos, iniciou sua carreira nas categorias de base do Olimpija Ljubljana, da Eslovênia, mas logo chamou a atenção do Real Madrid, que o contratou em 2012. Passados três anos, ele já atuava como profissional, aos 16 anos de idade.
Não demorou muito e, em 2018, o atleta já estava no draft da NBA, onde se tornou a terceira escolha daquele ano, feita pelo Atlanta Hawks. Porém, a equipe da Geórgia optou por entregá-lo ao Dallas Mavericks, em troca de Trae Young, que havia sido a quinta opção na temporada, além do compromisso de exercer a primeira escolha em 2019.
No Texas, não demorou muito para Dončić firmar-se como ídolo. Com uma média de 21,7 pontos, 7,8 rebotes e seis assistências por partida, ele se tornou, em 2018/2019, o segundo atleta europeu e primeiro jogador da equipe a conquistar (sozinho) o título de “Rockie of the Year”, algo equivalente a novato do ano.
Nas duas temporadas seguintes, o esloveno seria escolhido para o All-Star Game, até que, em 2021, teve seu contrato renovado pelo Dallas Mavericks, passando a receber US$ 207 milhões anuais (quase R$ 1,2 bilhão, pela cotação atual), naquele que se tornaria o maior contrato da história da equipe. Dončić tornou-se o quinto jogador da NBA na história a firmar um acordo acima dos US$ 200 milhões.
Mas, ao mesmo tempo em que garantiu a permanência do ídolo esloveno no Texas, essa renovação criou um sério problema para a franquia, a longo prazo.
O contrato firmado em 2021 teria duração de cinco temporadas. Ou seja, ele chegaria ao fim no ano que vem, quando Dončić poderia exercer o direito de negociar para permanecer no Dallas Mavericks ou buscar uma nova equipe.
Se optasse por continuar no Texas, ele estaria elegível a firmar um extensão de contrato conhecida como supermax, que lhe garantiria uma bolada de US$ 345 milhões ao ano (em torno de R$ 1,98 bilhão).
O que é contrato supermax?
Os acordos supermax foram introduzidos em 2017 na NBA, como forma de garantir que os times mantenham em seus elencos as estrelas contratadas via draft.
Tais cláusulas passam a valer a partir da sexta temporada consecutiva do atleta na franquia, quando o jogador pode receber o equivalente a 25% do teto salarial da equipe. Com o tempo, o percentual vai crescendo e chega a 30%, entre os sete e nove anos de permanência, atingindo 35%, a partir dos dez anos de vínculo.
Os acordos supermax são voltados a atletas que se enquadram em alguns critérios, como ser selecionado para o All-NBA Team, ser escolhido o Jogador Defensivo do Ano ou eleito o Most Valuable Player (MVP).
Com a mudança de franquia, o contrato máximo permitido para Dončić será US$ 229 milhões (R$ 1,3 bilhão). Apesar de essa quantia superar seu salário atual, convém lembrar que o Texas, onde ele residia até então, não possui imposto de renda estadual. Já a Califórnia, seu novo lar, cobra um percentual de 14,4% sobre salários que excedem US$ 1 milhão ao ano.
Ou seja, com a mudança Dončić pagará em torno de US$ 33 milhões em imposto de renda estadual (R$ 190 milhões), passando a receber um salário menor do que em seu contrato com o Dallas Mavericks.
No caso de Davis, o atleta de 32 anos tinha contrato com o Lakers até 2028. Atualmente, seu salário anual é de US$ 186 milhões (cerca de R$ 1 bilhão), com o detalhe de que, a partir do ano que vem, ele estaria elegível para receber o percentual de 35%.
Ao abrir mão de Dončić, o Dallas garante margem para contratar novos talentos, sem estourar o teto salarial imposto pela NBA, e manter sua equipe competitiva nos próximos anos.
Vale lembrar que o atleta esloveno sofreu uma séria lesão nesta temporada, conseguindo atuar em 22 de 49 partidas possíveis. Nico Harrison, gerente geral do Dallas Mavericks, citou as preocupações com a questão física como um dos fatores que levaram a franquia a abrir mão de seu jovem ídolo.
Em contrapartida, o Lakers espera reforçar seu campo ofensivo e preparar um novo ídolo para chamar de seu, já que LeBron James, principal astro da equipe, está prestes a completar 41 anos e, portanto, em vias de se aposentar.










