Múmias egípcias: bactérias e vírus ancestrais são ameaça ao mundo moderno?

Diversos filmes, séries e desenhos animados nos mostraram que escavações em criptas antigas podem não ser uma boa ideia. Maldições, doenças virais, bacterianas e as proféticas pragas do Egito antigo, podem sobrevir a humanidade curiosa que não permite que os mortos descansem em paz.

Mas será que realmente existe um risco eminente de contaminação por vírus, bactérias ou outros patógenos durante escavações e no contato com as múmias? Um novo apocalipse viral estaria escondido em algum sarcófago mal enterrado?

A dúvida, o medo e as informações desencontradas podem gerar um pouco de pânico quando é anunciado que novas múmias foram encontradas. Entretanto, hoje nós iremos desfazer alguns nós e explicar como o estudo das múmias, sejam as egípcias ou de outros países, nos ajudam a compreender como os vírus e bactérias se desenvolveram e afetaram os povos antigos.

Além dos corpos mumificados, as criptas também contam um pouco da história de vida de seus moradores.Fonte:  Getty Images 

São as múmias, cofres de patógenos ancestrais?

As múmias são guardiãs de segredos da ancestralidade. Os corpos mumificados trazem consigo tradições milenares, que nos revelam costumes culturais e também traços importantes da saúde e do meio ambiente em que viveram.

Sabe-se, por exemplo, que doenças virais e bacterianas, como varíola, hanseníase e tuberculose eram comuns na antiguidade. Algumas dessas doenças, deixaram marcas visíveis e “facilmente” detectáveis pelas cicatrizes na pele, ou pela ausência de membros, perdidos para doenças ou por acidentes.

Em múmias egípcias, o ritual de mumificação incluía a retirada de todos os órgãos internos, sendo preservado apenas o coração.  Segundo a mitologia, o coração seria pesado por Anúbis no outro mundo. Caso o órgão fosse mais pesado que a pena de deusa Maat, este seria devorado por Ammit, impedindo a reencarnação. Mas se fosse mais leve, a alma seguiria o caminho para nascer novamente.

Para os egípcios o coração é onde nasce nossa consciência, por isso deveria ser mantido para que cada Ka (alma), fosse reconhecida.Fonte:  Getty Images 

Devido a todo esse processo, é difícil reconhecer caraterísticas específicas do microbioma humano que pudesse estar presentes nas vísceras dos mumificados. Mas o DNA sempre deixa rastros.  Não é fácil extrair DNA de múmias.

Por centenas de anos, e até milênios, esses corpos vêm sofrendo a destruição seu material genético, que foi corroído e destruído por processos químicos que se iniciaram no processo de mumificação, e posteriormente pelo tempo e condições naturais de conservação.

Os cofres mumificados representam um caminho complexo, porém muito rico para o estudo de linhagens de bactérias genéticas de bactérias e vírus, assim como seu desenvolvimento ao longo dos milênios.  Com isso, podemos descobrir diversas coisas interessantes, como, por exemplo, doenças que essa pessoa possa ter desenvolvido e que possam ter causado sua morte.

A mumificação é um processo complexo que mata praticamente qualquer vírus ou bactéria que possam estar habitando o corpo ritualizado.Fonte:  Getty Images 

Vírus e bactérias ancestrais podem causar doenças hoje?

E assim nasce outro medo. Mas calma, apesar traços genéticos de vírus e bactérias poderem ser encontrados em corpos mumificados, eles também estão inativos e mortos há milênios.

E levando considerando que não temos uma mitologia que dê conta da ressurreição desses patógenos, estamos bem em pensar que eles são inofensivos atualmente, pois por mais resistentes que esses organismos sejam, necessitam geralmente de um hospedeiro vivo para poderem se reproduzir e continuar sua jornada infecciosa.

Em caso de parasitos intestinais, sua vida, ou estado de incubação, não precisam necessariamente de hospedeiros vivos, no entanto, grande parte dos corpos foram eviscerados, e os jarros onde foram preservados esses órgãos, não foram capazes de os manter intactos.

Obviamente, outros agentes patogênicos podem estar presentes nas criptas, como fungos, mofo ou gases produzidos pelo longo período de enclausuramento, mas nada que medidas de prevenção biológicas não deem conta. Contanto que você não tente ‘lamber’ uma múmia, tudo ficará bem.

Não mexer com o que está quieto? Veja o que podemos aprender com as múmias egípcias

Além de um extenso repertório cultural, estudos de química, religião e rituais mortuários, as múmias também nos ensinam sobre como os patógenos se desenvolveram ao longo dos anos.

Por exemplo, alguns pesquisadores compararam traços da linhagem do vírus da varíola encontrado em múmias, com as linhagens e cepas atuais. Descobriu-se que o vírus só se tornou “extremante nocivo”, após o século XVII.

O estudo das múmias e dos povos antigos é multidisciplinar, envolvendo historiadores, pesquisadores da saúde, antropólogos e muitas outras profissões.Fonte:  Getty Images 

Mesmo a varíola tendo sido considera erradicada em 1980, tivemos recentemente a circulação de outra cepa do vírus causador da doença, conhecida como varíola do macaco, circulando no mundo.

O estudo das múmias nos ajudam a traçar e compreender como os vírus e as bactérias se desenvolveram e foram agregando mutações ao longo dos anos. Sabendo do comportamento desses patógenos, conseguimos construir previsões bastante razoáveis e desenvolver tratamentos eficazes na atualidade. Outro modo pelo qual esses corpos mumificados contribuem, na atualidade, é o no avanço de análise e coleta de materiais genéticos.

Como é muito difícil coletar e tratar material genético antigo, nos obrigamos a melhorar nossa tecnologia. Então acalma o coração, as pragas egípcias, apocalípticas, maldições e outros rompantes continuarão servindo apenas nos enredos das obras de ficção.

Mantenha-se atualizado sobre ciência e biologia aqui no TecMundo. Se desejar, aproveite para conhecer os vírus pré-históricos das fontes termais de Yellowstone.

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