MPMS confirma que empresa não cumpriu acordo após denúncias contra lago do Nasa Park

Pouco mais de um ano antes do rompimento de barragem do lago artificial do Nasa Park, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) havia encerrado investigações contra o empreendimento após firmar um acordo com os empresários. Apesar do interesse público por envolver meio ambiente, o processo tramitou em total sigilo no órgão. No entanto, nesta sexta-feira (23), o Ministério confirmou que a empresa não cumpriu o acordo.

Ao Jornal Midiamax, o promotor de Justiça de Bandeirantes, Gustavo Henrique Bertoldo, disse que a empresa não cumpriu o acordo completamente. “Uma cláusula não foi cumprida, que é reparar alguma questão do dano erosivo”.

Porém, os pontos firmados no TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) os quais os sócios da A&A Empreendimentos Imobiliários Ltda (CNPJ 02.231.914/0001-99), empresa proprietárias dos loteamentos e do lago, devem cumprir não foram divulgados pelo MPMS.

Além disso, o promotor disse em audiência pública que o acordo “não tem nada a ver com a barragem em si”.

Após o Jornal Midiamax revelar que o acordo ‘enterrou’ as investigações, o MPMS, através de assessoria de imprensa, publicou nota em site oficial limitando-se a informar que o acordo teve como “objetivo solucionar os problemas que motivaram a instauração do inquérito civil, quais sejam: a utilização irregular da Área de Preservação Permanente por moradores, bem como a necessidade de contenção de processos erosivos em alguns pontos próximos à margem da represa, distantes, porém, da barragem que cedeu no último dia 20”.

No entanto, não informou especificamente quais eram as medidas que a empresa deveria adotar para solucionar esses problemas.

Ainda de acordo com a nota oficial do MPMS, a investigação iniciada em 2014 baseou-se no levantamento de documentação. Logo, a equipe técnica do órgão recebeu detalhes como mapa do empreendimento, discriminação das áreas do lago, dos lotes, das vias, das áreas não edificantes e das áreas verdes.

Denúncia foi arquivada após o acordo. Depois, o órgão apenas acompanha o TAC (Reprodução)

Conforme apurado pela reportagem do Jornal Midiamax, a denúncia a qual o MPMS apurou é problema antigo e que nunca foi resolvido de fato, e que pode ter contribuído para o desastre ambiental ocorrido na semana passada.

O problema é justamente o lago artificial construído sobre uma APP (Área de Preservação Permanente). A mesma questão foi alvo de fiscalização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em 2008, que resultou em multa de R$ 160 mil contra a A&A.

Então, o inquérito instaurado em 2014 pelo MPMS foi a partir da fiscalização do Ibama. O caso somente teve um ‘desfecho’ em 2023, com o acordo.

Saiba mais – Lago artificial pivô de tragédia ambiental foi construído em área de preservação no Nasa Park, diz Ibama

A reportagem tentou obter as informações sobre os inquéritos e sobre o TAC com a assessoria de imprensa do MPMS em dois e-mails enviados a vários endereços eletrônicos oficiais do órgão, nos dias 21 e 22 de agosto, que não foram respondidos. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

Após o desastre ambiental provocado pelo rompimento da barragem, o MPMS abriu novamente inquérito civil para apurar as responsabilidades pelo ocorrido.

Imagens aéreas mostram rastro de destruição deixado pelo lago, seco após rompimento da barragem no Nasa Park (Divulgação, Defesa Civil)

Rompimento de barragem afetou moradores e meio ambiente

O incidente aconteceu no Nasa Park e afetou moradores, tráfego da BR-163 e até ecossistema da região. Então, uma equipe dos Bombeiros atuou na vistoria da área para analisar as questões de segurança e possíveis irregularidades.

Imagens exclusivas enviadas ao Jornal Midiamax, registradas na área interna do condomínio de luxo mostram uma cratera formada no lago após o rompimento da barragem.

Além disso, destruiu a avenida de acesso para as casas após a formação de um ‘sumidouro’ com o rompimento da barragem.

Assim, em um dos vídeos é possível notar a profundidade e a força da água. Os moradores que fizeram as imagens demonstram preocupação com a situação: “Está rompendo tudo”.

A represa secou após o rompimento da barragem. Imagens registradas por moradores revelam a tragédia ambiental e estrutural na região. “Acabou tudo, só galho e peixe. Tomara que não tenha ninguém em cima dessa ponte”, descreve.

Colaborou: Dândara Genelhú e Fábio Oruê.

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