Em entrevista à CARAS Brasil, Isis Broken fala abertamente sobre sua família e revela detalhes sobre final de sua personagem em No Rancho Fundo
Isis Broken, que ganhou notoriedade na televisão com No Rancho Fundo, vive um dos grandes momentos da televisão brasileira com a crescente representatividade trans em novelas, e encara na pele as alegrias e desafios de ser uma das atrizes pioneiras. Em entrevista à CARAS Brasil, ela comenta sobre o casamento com o rapper Lourenzo Gabriel e fala sobre como lida com ataques ao casamento: “Preconceito“, desabafa.
O casal de multiartistas vive um relacionamento transcentrado —uma relação amorosa entre duas pessoas trans. “O maior desafio é o preconceito; a discriminação é diária em uma sociedade machista, racista e transfóbica“, explica a atriz de No Rancho Fundo. “Porém, seguimos vivendo com muito amor, e a chegada do nosso filhe, Apolo, nos trouxe muito carinho e uma união inexplicável.“
Isis Broken conta que os dois aprendem a ser pai e mãe a cada dia com base no diálogo, e também se dividem entre os compromissos profissionais para que sempre um deles esteja ao lado do filho. Com as gravações da novela, por exemplo, a atriz ficou no Rio de Janeiro, enquanto o músico e Apolo permaneceram em São Paulo.
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Em No Rancho Fundo, trama de Mário Teixeira (56), a atriz interpreta Corina Castello, uma lojista bem-sucedida. Segundo Isis, o papel é de extrema importância para a representatividade justamente por não ter o arco principal focado na personagem ser uma mulher trans. Além disso, ela também vive um romance com Guarda Marconi (Renan Motta), com quem protagonizou um beijo.
“Uma pessoa trans ser amada é revolucionário, e em uma novela das 18h isso é transgressor em todos os sentidos, além de ser um casal afrocentrado, demos o nosso primeiro beijo em um horário onde por muitos anos, corpos como os nossos foram reservados apenas a escravidão, subserviência e exclusão. Estamos reescrevendo um imaginário social“, completa.
Abaixo, Isis Broken dá mais detalhes de sua participação em No Rancho Fundo, reflete sobre os desafios para além das telinhas da TV e conta em quais projetos também está envolvida. Confira trechos editados da conversa.
Isis, poderia dar mais detalhes de sua participação em No Rancho Fundo?
Está sendo muito significativo para mim viver esse momento da minha carreira. Viver a Corina, sendo uma representante de Sergipe, mulher trans e afro-indígena, é um momento histórico na TV brasileira. A minha personagem representa para mim uma enorme potência, especialmente pelo fato de que seu arco principal não é de uma mulher trans, levantando uma pauta importante que é essencial abordar: a questão da transexualidade em novelas, pois isso contribui para um ajuste social necessário. Além, é claro, de estar atuando ao lado de artistas incríveis, que admiro, em um projeto lindo, com diretores que me inspiram e contribuem para um audiovisual mais inclusivo.
Neste momento da história, a teledramaturgia brasileira conta com artistas trans em todas as faixas de horário das novelas da Globo. Como você avalia esse momento do audiovisual brasileiro?
Estou imensamente grata por fazer parte disso. Estamos promovendo um debate necessário para que nossos corpos trans não sejam limitados a uma única narrativa. É apenas o início de uma longa luta, mas já estamos dando os primeiros passos. Recebo muitas mensagens carinhosas de pessoas comentando sobre a representatividade da Corina Castello e como é bonito ver esse momento se desenrolar.
Você forma um par romântico com Renan Motta. Como esse momento é significativo para a televisão brasileira?
Uma pessoa trans ser amada é revolucionário, e em uma novela das 18h isso é transgressor em todos os sentidos, além de ser um casal afrocentrado, demos o nosso primeiro beijo em um horário onde por muitos anos, corpos como os nossos foram reservados apenas a escravidão, subserviência e exclusão, agora somos parte da história, e estamos reescrevendo um imaginário social. As novelas sempre tiveram esse papel e a TV Globo está junta conosco nesse novo momento da televisão brasileira, onde estamos tendo protagonismo e podendo contar novas histórias onde fazemos parte de fato. Celebremos, isso não é só uma vitória minha, ela é coletiva, a comunidade trans ganha muito com isso. O primeiro beijo em novela a gente nunca esquece!
Além da arte, quais os desafios na vida? Você também tem um filho, quais foram os desafios?
Acredito que os desafios são diários, e tudo que conquistei foi muito difícil, especialmente sendo uma mulher trans, afro-indígena e nordestina. Sempre destaco que para uma mulher cisgênera, as coisas são mais fáceis. Cada conquista minha veio com muito suor, lágrimas, trabalho e esforço. Conciliar carreira e família é complicado; além dos preconceitos que enfrentamos, há a distância —estou no Rio de Janeiro gravando e elus em São Paulo, o que gera uma enorme saudade. Mas eles entendem que tudo isso é por nossa família, e cada conquista, grande ou pequena, nos inspira a continuar
Em quais projetos você está engajada?
Neste final de ano, será lançado o documentário sobre a gestação e nascimento do meu filhe, Apolo, co-dirigido por Tainá Muller. Vamos abordar os desafios que enfrentamos durante esse processo. Além disso, estou na etapa final da produção do meu novo álbum, Orquestra Sinfônica das Cachorras de Rua, onde pretendo explorar meu lado mais sensual, trazendo referências da minha mudança para o sudeste do país. E claro, estou aberta para novas oportunidades que podem aparecer.