Decisão judicial que autorizou investida do Gaeco contra o presidente da Federação de Futebol do MS, Francisco Cezário, revelou que o dirigente mais antigo do Estado fazia reuniões na própria casa para receber dinheiro dos comparsas também investigados.
Uma interceptação autorizada pela Justiça mostra um diálogo bastante peculiar entre Aparecido Alves Pereira e a esposa. Em determinado momento ele diz que Umberto Alves Pereira, sobrinho do cartola e primo dele, estaria ”enfiando dinheiro no rabo do Cezário”.
O trabalho de campo dos investigadores flagrou investigados indo a agências bancárias e sacando o dinheiro. Em seguida se encontravam com Francisco Cezário e era feita a distribuição do desvio.
Segundo o pedido de prisões e buscas e apreensões, foi anotado que, em quatro anos, Cezário recebeu 84 transferências da Federação de Futebol identificadas como ‘’pagamentos em cheque’’, que somaram R$ 4,3 mil. Esse valor, diz a apuração, não foi declarado à Receita Federal.
Francisco, segue o texto, usava as contas de Aparecido Alves Pereira, conhecido como ‘’Cido’’ e Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira para movimentar os valores desviados. Cido também teria movimentado quase meio milhão de reais em quatro anos e recebido de clubes de futebol outros R$ 450 mil entre 2019 e 2023.
Já Umberto, que não era funcionário da FFMS, recebeu da entidade, entre 2018 e 2023, R$ 2,2 milhões, sendo as transferências não justificadas. Quebra de sigilo também mostrou que Umberto recebeu 279 transferências em espécie, que somaram R$ 621 mil.
Toda a movimentação bancária, quebra de sigilos telefônicos e trabalho de campo convenceu o juiz Eduardo Eugênio Siravegna Junior a autorizar as prisões e buscas e apreensões contra sete investigados. A decisão é datada de 24 de abril, sendo a operação deflagrada nesta segunda-feira (20).
O caso
Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco, na manhã desta terça-feira (21), constatou que o presidente da Federação de Futebol do MS Francisco Cezário e demais suspeitos desviaram cerca de R$ 6 milhões, seja do Governo do MS e da CBF.
Sete mandados de prisão e outros de busca e apreensão são cumpridos em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas. Segundo o MPE detalhou, os integrantes da quadrilha faziam saques frequentes nas contas da Federação – em valores abaixo de R$ 5 mil a fim de não chamar atenção dos órgãos de controle. O valor era dividido entre os comparsas.
Nessa modalidade, diz o Gaeco os suspeitos fizeram mais de 1.200 saques, que renderam R$ 3 milhões.
Investigados
Os investigados são: a própria FFMS; Francisco Cezario de Oliveira; Aparecido Alves Pereira; Francisco Carlos Pereira; Marco Antonio Tavares; Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Rudson Bogarim Barbosa; Francisca Rosa de Oliveira; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; Marco Antonio de Araujo; Patricia Gomes de Araujo (Invictus Sports) e Jamiro Rodrigues de Oliveira
Hoteis
Ainda conforme divulgado, a quadrilha da FFMS também tinha esquema de desvio de diárias de hotéis pagos pelo Governo do MS em jogos do Campeonato Estadual. O modus operandi, diz a investigação, se estendia a outros estabelecimentos, sendo que os membros recebiam de volta parte do dinheiro de serviços e produtos contratados pela FFMS.
Equipes da PM deram apoio operacional ao GAECO. A operação contou também com a participação de representantes da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados de Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil.
Até o momento foram apreendidos mais de 800 mil reais. Os advogados de Cezário disseram que “nessa fase qualquer investigação é sempre unilateral; logo ela será submetida ao necessário contraditório; devemos aguardar os esclarecimentos, que serão prestados, oportunamente’’.
O espaço está aberto a todos os citados.