Indika: jogo de freira com demônio traz enredo envolvente, mas é simples demais – Review

Indika vem chamando atenção desde a sua campanha de divulgação O motivo é o seu enredo cheio de polêmicas, onde o jogador assume o controle de uma freira, que parte em uma jornada de descoberta, com ninguém menos que o diabo auxiliando a sua aventura.

Desde então, houve muita expectativa para saber se ele será somente mais um game em busca de um lugar ao sol, ou melhor, na prateleira dos jogadores, ou se realmente fará história com o seu enredo controverso. Confira o review completo!

Enredo polêmico agrada e levanta debates

A história de Indika é de longe o grande ponto alto do game. Todo o burburinho gerado em cima do seu enredo controverso não chega perto do que ele realmente é na prática, mostrando que tudo é muito mais que um motivo para chamar atenção. A narrativa é uma crítica a muitos elementos que até hoje vemos em meio a assuntos religiosos, e que nunca antes foram tão bem questionados em um jogo.

Tudo começa em um simples convento. O game mostra, mesmo que brevemente, que Indika nunca foi bem aceita pelas outras freiras. O motivo não fica exatamente claro, deixando a entender que pode ser por conta de seu comportamento, boazinha até demais, como por atitudes que vão contra as regras do convento, como no momento em que tem uma visão assustadora na hora de receber uma benção.

Indika traz história cheia de questionamentosFonte:  Reprodução / Voxel 

Sendo assim, ao receber uma simples missão de levar uma carta até um padre, a jovem sai em busca de respostas fora do convento. Ao mesmo tempo, ao invés de ouvir a voz de Deus, Indika é sempre “aconselhada” pelo diabo, ao ponto de ter visões distorcidas do mundo, onde é preciso rezar para não enfrentá-las.

Tudo fica ainda mais complexo quando ela encontra um soldado ferido pelo caminho. Ilya é um elemento chave para os questionamentos de Indika. Há diversos momentos em que a mesma é confrontada tanto pela voz demoníaca de sua mente, como por seu aliado de jornada.

E Ilya funciona muito bem para ajudar o jogo a colocar em questão temas controversos até hoje. Crendo em um mesmo Deus, a todo momento tanto o soldado quanto Indika se veem diante de um debate, bem sadio por sinal, sobre crenças e obrigações. Como por exemplo onde a freira se recusa precisa tirar suas roupas molhadas para não morrer de frio, e é questionada por ele como isso afetará suas crenças, uma vez que “ninguém está olhando ela fazer aquilo”.

Indika mostra como algumas questões envolvendo a religião ainda merecem ser debatidasFonte:  Reprodução / Indika 

Também há momentos mais pesados, principalmente que envolvem agressões sexuais. Em uma delas, Indika se questiona se deve ajudar ou não uma jovem que está sofrendo uma tentativa de abuso. Enquanto isso, o diabo em sua mente dá mais força para que ela deixe a questão de lado e finja que nada aconteceu, já que se intrometer não é uma atitude digna de uma freira, segundo ele.

O interessante de tudo isso é que o jogo soube implementar muito bem esse debate. A todo momento as questões são jogadas na tela, deixando para o jogador a forma com que ele acha melhor para interpretar tudo. Confesso que, durante décadas cobrindo jogos, não me recordo de um enredo tão bem encaixado. Pena que em outros elementos o título deixe a desejar, senão poderia ser facilmente uma das grandes surpresas do ano.

Protagonista caprichada, mas simplicidade no gameplay

Indika é um jogo que não se vende como um dos mais realistas já feitos. Pelo contrário, ele traz cenários até certo ponto simples, mas cuja ambientação se encaixa muito bem para a proposta do jogo. Em outras palavras, mesmo que não haja um capricho em cabanas, conventos, e até fábricas de latas de sardinhas gigantes, ainda assim eles mantêm o clima sombrio em toda a jornada da jovem freira.

E sobre ela, essa sim merece muitos elogios. A começar pela sua caracterização que, desde a primeira cena, faz questão de dar uma série de zooms para mostrar o quanto a atriz Isabella Inchbald foi bem reproduzida no game.

A protagonista de Indika possui um alto nível de detalhamentoFonte:  Reprodução / Voxel 

Curiosamente, o mesmo não podemos dizer de outros personagens, como o próprio Ilya, que traz um semblante bastante estranho e um corpo que merecia um capricho maior, já que em muitas partes é possível ver o quanto ele ficou artificial.

O review foi feito em um PC munido com uma GeForce 3080, onde pude testá-lo com todas as opções gráficas no máximo, já que, mesmo desenvolvido na Unreal Engine 5, não é um título tão pesado. Entretanto, mesmo assim foi possível notar problemas de travamentos e quedas de frames por segundo, principalmente em áreas de maior conjunto de iluminação.

Ilya e outros personagens não tiveram o mesmo capricho que IndikaFonte:  Reprodução / Voxel 

Puzzles simples e sistema de evolução inútil

Por conta do foco na história e por uma jogabilidade baseada na resolução de puzzles, poderia até mesmo dizer que Indika bebe muito da fonte de Hellblade: Senua’s Sacrifice. Entretanto, o game peca em trazer quebra-cabeças simples, onde dificilmente o jogador terá grandes dificuldades para prosseguir.

Em um deles, é preciso empilhar latas de sardinhas gigantes para encontrar o caminho. Porém, a grande sacada é que a última peça na verdade é a própria empilhadeira, que deve ficar na direção do caminho. Por mais que a primeira vista pareça complexo, depois de analisar o que deve ser feito, em questão de segundos você consegue solucioná-lo.

Os puzzles de Indika são em grande parte simples demaisFonte:  Reprodução / Voxel 

Outro elemento no qual senti ausência é a de confrontos contra animais, humanos, ou até mesmo criaturas. No começo do jogo, e até mesmo na versão demo disponível de graça, Indika e Ilya devem fugir de um lobo gigante. Essa é de longe uma das partes mais tensas e desafiadoras do jogo, mas que é esquecida e não volta a se repetir, o que torna essa experiência bem frustrante.

No meio de tudo isso, há um sistema também onde mundos são intercalados. Nele, Indika precisa “rezar” para alternar entre as dimensões, e com isso resolver quebra-cabeças, como encaixe de plataformas, etc. Por mais que seja promissor, também é muito raso e se torna um mero elemento coadjuvante diante do conjunto da obra.

É preciso “rezar” para mudar as dimensões em IndikaFonte:  Reprodução / TecMundo 

Se não bastasse, para contar sobre o passado de Indika, o game leva o jogador a uma espécie de mini jogo com gráficos pixelados, que remetem a era 16 Bits. Além de serem simples e curtos, eles possuem uma mecânica falha, e tão pouco ajudam a entender a história.

Mas nada supera a inutilidade do “sistema de habilidades” do jogo. Confesso que, mesmo depois de concluir a história, até agora não entendi a sua finalidade, já que não muda em nada a jogabilidade e qualquer outro elementos do game.

Indika tem momentos onde vira um jogo 16 BitsFonte:  Reprodução / Voxel 

Vale a pena?

Indika é um game muito fora da curva que prometeu mais do que cumpriu. Com um estilo que lembra Hellblade: Senua’s Sacrifice, o título aposta em uma história muito bem construída, principalmente pelo debate que ela gera, mas peca em outros elementos, como puzzles simples e uma jogabilidade sem grandes novidades. O clima de tensão da demo poderia ser explorado melhor, mas acabaram desperdiçando uma grande chance de trazer ao mundo uma nova franquia promissora.

Nota do Voxel:  78

Pontos positivos (prós):

  • Enredo muito bem elaborado e cheio de reflexões;
  • Atuação e reprodução da personagem principal;
  • Ambientação incrível.

Pontos negativos (contras): 

  • Cenários sofrem com problemas de detalhamentos;
  • Linear e curto demais;
  • Puzzles simples e algumas vezes confusos.

A review de Indika foi realizada no PC com uma cópia cedida pela desenvolvedora. O game também possui versões para PS5 e Xbox Series S e X.

Fonte

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