Em entrevista à Contigo, o ator e humorista Jonathan Nemer revela que viajou, em 2023, no mesmo avião da Voepass que caiu, matando 62 pessoas
Há um mês, o ator e humorista Jonathan Nemer usou os stories do Instagram para relatar a experiência negativa que teve após embarcar com a companhia aérea Voepass. Na última sexta-feira, 9, ele repostou o vídeo na rede social, após a repercussão do trágico acidente em Vinhedo, no interior de São Paulo, que matou 62 pessoas que seguiam de Cascavel (PR) para Guarulhos, e lamentou o ocorrido. Em entrevista à Contigo! neste sábado, 10, o artista relembra as condições precárias do avião e revela que acabou de descobrir que também já voou na mesma aeronave que caiu, em dezembro do ano passado.
Jonathan fala do sentimento de tristeza que o assolou, assim que soube da notícia. “Me vi no avião. A hora que vi o vídeo do avião caindo, me vi dentro dele. Desde ontem (sexta), estou bem ansioso e tenso, uma sensação muito ruim. Descobri esta manhã (sábado), que voei no avião que caiu, no mês de dezembro, em Presidente Prudente. Triste demais e com uma sensação ruim, por saber que podia ter sido vítima também”, confessa o artista, que não lembra como foi a viagem do final do ano passado. “As pessoas que estavam perto de mim me falaram que quando cheguei em Prudente, eu tinha reclamado do voo, que eu estava bem bravo e tinha reclamado. Só que eu não postei nada”, acrescenta.
Por conta do trabalho, ele precisa percorrer o País e acaba usando muito o transporte aéreo, mas revela que foi a primeira vez que decidiu compartilhar a experiência com seus 4 milhões de seguidores, no mês passado. “Viajo bastante por conta de shows, de stand-up, e sempre uso as maiores companhias; mas, às vezes, tenho que usar Passaredo (Voepass Linhas Aéreas, anteriormente Passaredo Linhas Aéreas). É uma empresa que torço muito. Então, até para fazer uma crítica, não quero pegar muito pesado, porque é uma empresa pequena e quanto mais concorrência, melhor para o mercado, né? A Passaredo, sempre via que era avião pequeno, muitas vezes não era da melhor qualidade, mas ok”, diz.
O humorista conta que nos últimos três meses, viajou o equivalente a duas voltas ao mundo. “Foram 45 shows, teve turnê na Europa, Portugal, Irlanda, fui para o Canadá. Viajei muito! E de todos esses voos que fiz, o único que eu fiz um post foi desse voo da Passaredo, que foi de Rio Verde para São Paulo. O voo foi uma experiência muito ruim para mim. Acho que desconforto todo voo tem. Pode ter um problema com a bagagem, no atendimento, ter turbulência, normal. Nunca fiz vídeo sobre isso. Para eu fazer esse post é porque realmente foi muito ruim. Então, o voo não foi legal”, destaca.
“O avião teve bastante turbulência e tudo bem, pode ser coisa climática. Mas o ponto principal é que o avião parecia acabado por dentro, sabe? As poltronas bem velhas, com defeito, sequer reclinavam. Alguns compartimentos em cima sequer tinha porta. Se não me engano, nesse voo ainda teve uma coisa que caiu do teto de uma parte, pequenininha, mas caiu. E isso para a gente que está no voo, gera um medo, né? Porque se a gente pensa, se dentro está assim, que garante que outras partes também não estejam? Além de tudo, ainda foi um voo de duas horas. O avião atrasou para sair, ou seja, deu mais de duas horas a gente dentro do avião”, emenda.
Ar condicionado sem funcionar e um calor fora do normal, também estão entre as reclamações de Jonathan. “A gente passou calor para caramba. Não é um calorzinho, é um calor fora do normal. E de verdade, dá dó até das comissárias, porque na situação (…) Eu estava na saída de emergência, bem na frente, e dá para ver que elas também estão com calor. Mas aí tem que dar desculpa para o passageiro, sabe? A gente reclamava e elas eram extremamente educadas, simpáticas, queridas. Mas eu não sei até que ponto que a estrutura do avião é boa”, salienta.
OUTROS RELATOS
De acordo com o artista, de sexta para este sábado, ele recebeu muitas mensagens de pessoas que já trabalharam na Voepass. “Falaram que a estrutura realmente não é legal, sejam comissários ou pessoas que trabalham na parte mecânica. Tiveram algumas pessoas que até vieram falar: ‘Ah, mas esse não é o motivo da queda do avião; um ar condicionado não funcionar, um banco não reclinar’. Tudo bem, ninguém está falando que é. Só que para quem está voando e vê essas coisas, coisas simples, básicas, que não estão funcionando, dá medo. A gente pensa: ‘Será que o resto está funcionando? Será que está bom? Porque está chacoalhando tudo, está tudo solto; é mais nesse sentido”, fala.
“Então, são coisas que podem não ser determinantes, mas para quem está voando tem medo. E a gente vê isso agora. Cara, dá medo, dá medo. E como eu disse, torço pela Passaredo, mas que pudessem ter aeronaves melhores, mas bem conservadas. Não tenho nada contra os donos, pelo contrário. Desejo que cada empreendedor cresça, mas que depois dessa, dá mais medo de voar, dá. Porque eu tinha feito esse vídeo tem um mês. E eu poderia ter tido uma postura ainda mais agressiva, sabe? Saindo do avião, falando: Que bosta de voo, que desconforto, que chatice. Não, tive até um cuidado de colocar de um jeito mais suave possível para não prejudicar, para não trazer medo, mas para gerar um alerta, alguma coisa não está legal. Acredito que seja isso”, completa.
Jonathan ainda pondera: “Praticamente, todo voo que a gente pega tem um desconforto. Bagagem extravia, tem empresas, não é passaredo, mas tem empresas grandes que têm funcionários mal preparados, mal educados. A gente paga muito caro – para o valor brasileiro, para a realidade nossa. É um valor muito caro e um serviço muito mal prestado. Onde, inclusive, a nossa vida pode entrar em jogo, como nesse caso”.
O humorista vai continuar viajando de avião, mas confessa que sentirá muito mais receio do que antes: “Não tem como, vivo fazendo show, mas vou falar para você: a gente que está no avião, já está lutando contra esse medo, porque às vezes vem uma turbulência e a gente tem medo. Então, a gente fica pensando: Não vai dar nada, não vai dar nada. E fazia tempo que não caía um avião, e isso faz passar pra gente muita segurança. Há muitos anos já que não caía nenhum. Agora, vai voltar a dar aquele frio na barriga, aquele receio. Mas nossa vida está na mão de Deus, e a gente tem que descansar nele”.