Colega de elenco e esposa foram responsáveis pelo crime cruel; Autora, que também era mãe da vítima, decidiu seguir a novela da Globo até o fim
Em 3 de agosto de 1992, De Corpo e Alma estreava como a 46ª novela das oito exibida pela Globo. Apesar de Glória Perez, autora da trama, ser conhecida por conquistar o público com suas histórias, o que marcou De Corpo e Alma na memória brasileira foi o cruel assassinato de sua filha, a jovem atriz Daniella Perez.
Na história, a intérprete vivia Yasmin e tinha um relacionamento conturbado e passional com Bira, interpretado por Guilherme de Pádua. Com a aproximação dos últimos capítulos da novela, o casal seria separado para que Yasmin finalmente ficasse com seu verdadeiro amor, o personagem Caio, vivido por FábioAssunção.
A última cena de Daniella e Guilherme foi o término do namoro de seus personagens, gravada na tarde do dia em que a atriz seria assassinada pelo colega de trabalho. Após o final das gravações do dia, Daniella foi emboscada por Guilherme e levada para um local ermo na Barra da Tijuca, onde foi morta pelo ator e sua esposa, PaulaThomaz. Daniella tinha 22 anos e era casada com o ator Raul Gazolla.
Os assassinos só foram julgados mais de quatro anos depois, em 1977, quando foram condenados por homicídio duplamente qualificado. O crime chocou o país e a comoção popular — junto com os esforços de Glória Perez — resultou em uma mudança na legislação penal: a inclusão de homicídio qualificado como um dos crimes hediondos. Popularmente, a Lei 8.930/1994 ficou conhecida como “Lei Daniella Perez“.
Apesar da grande repercussão midiática no Brasil e em outros países, como os Estados Unidos, Portugal e China, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz cumpriram menos de 7 dos 19 anos e 6 meses (ele) e 15 anos (ela) a que foram condenados em regime fechado.
Antes de morrer em 2022 por um infarto, Guilherme de Pádua levava uma vida tranquila como homem casado e pastor. Sua ex-mulher, Paula Thomaz, mudou de nome e tenta seguir longe dos holofotes da mídia com a nova família.
Como ficou a novela?
Mesmo enquanto lidava com a perda, Glória Perez decidiu que De Corpo e Alma deveria continuar e ficou à frente da obra até o seu final. Nos sete dias após o crime, entretanto, a autora precisou se afastar e os autores Gilberto Braga e Leonor Bassères a apoiaram ao assumir a responsabilidade de dar sequência à novela e encontrar uma explicação para o sumisso dos personagens de Daniella e Guilherme.
O desfecho para a jovem Yasmin, que era uma ótima dançarina, foi partir para os Estados Unidos para seguir a profissão. Bira teve um final curto e grosso: mudou-se de cidade e nunca mais foi lembrado pelos demais personagens da história.
Quando retornou ao trabalho, Glória usou a novela para abordar temas que estavam relacionados com o desfecho do assassinato de sua filha, como a lentidão das decisões judiciais no Brasil e o Código Penal desatualizado. Uma série de depoimentos de colegas de trabalho de Daniella foi exibida como uma homenagem no final do primeiro capítulo sem ela. Depois disso, a história prosseguiu.
Por muitas razões, como o respeito à autora, a negativa da emissora em pagar direito de imagem ao ex-ator e o desejo em não relacionar ainda mais o canal com o crime, De Corpo e Alma nunca foi reprisada pela Globo e não está disponível no Globoplay. Mesmo após a morte do assassino confesso e questionamentos do público sobre uma possível reprise, a emissora não manifestou nenhuma vontade em disponibilizar a novela.