Há muitos anos, aprendi com um amigo próximo que compreender o preconceito exige empatia: colocar-se no lugar do outro e sentir a humilhação e as sensações negativas provocadas por comentários e atitudes depreciativas.
Hoje, convido você a iniciar esta coluna com um exercício de empatia. Imagine ser uma adolescente de 16 ou 17 anos, apaixonada por videogames. Ela se diverte e é desafiada pelos jogos, mas enfrenta violência verbal, muitas vezes sexual, ao revelar sua identidade feminina, o que pode escalar para ameaças reais. Feche os olhos e sinta essa humilhação e esse medo. Pergunte-se: você teria coragem de continuar jogando? Sentiria-se parte do mundo dos games? E se isso acontecesse com sua filha?
A sensação de revolta e tristeza ao refletir sobre essas experiências realça a necessidade urgente de ação. A empatia e a compreensão do preconceito devem ser cultivadas diariamente. Todos nós temos o poder e a responsabilidade de ser agentes de mudança e transformação, trabalhando para diminuir o preconceito.
Em 2023, uma pesquisa da SkyBroadband mostrou que 49% das mulheres que jogam on-line enfrentaram assédio, e 35% sofreram ameaças de violência física. Isso é inaceitável e deve acabar.
Recentemente, a ONG Wonder Women Tech (WWT), focada na inclusão feminina na tecnologia, lançou uma resposta a essa violência covarde: uma delegacia virtual no Grand Theft Auto Roleplay (GTA RP), permitindo que jogadoras denunciem casos de assédio, ameaças e outras violências vivenciadas ou presenciadas no jogo, convertendo essas denúncias em boletins de ocorrência em delegacias reais (delegacia da mulher).
Este projeto inovador, ainda em fase de testes no Brasil, marca um passo significativo na luta contra a violência de gênero nos jogos. O Brasil, sendo o quarto maior mercado consumidor de games do mundo, com 50,90% de jogadoras, está na vanguarda desta iniciativa.
Combater o assédio é uma responsabilidade coletiva. Homens e mulheres devem unir forças.
Dessa forma, reflita sobre como você pode contribuir para tornar o seu entorno mais seguro e inclusivo.
Roberta Coelho é CEO da equipe de e-Sports MIBR e escreve mensalmente na Máquina do Esporte