Reconhecido como uma das principais estrelas do futebol mundial nas últimas décadas, Cristiano Ronaldo acumula recordes, incluindo o de ser a pessoa mais seguida nas redes sociais. Apenas no Instagram, ele acumula 640 milhões de fãs. Nesta semana, o atacante português de 39 anos, que atua pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita, voltou a aparecer no topo de um ranking.
Ele é o jogador de futebol mais bem pago do mundo em 2024, de acordo com a mais recente lista divulgada pela revista norte-americana Forbes, com faturamento de R$ 285 milhões (em torno de R$ 1,6 bilhões, pela cotação atual). Desse total, US$ 220 milhões se referem a pagamentos feitos pelo clube saudita, enquanto os US$ 65 milhões restantes são de receitas obtidas com publicidade e outros negócios.
Cristiano Ronaldo obteve esse feito mesmo depois de deixar o Manchester United e a Premier League, liga de futebol mais rica e badalada do planeta. A troca, como se vê, não afetou sua renda.
Na verdade, ajudou a mantê-la em um patamar elevado, muito acima da de seu rival Lionel Messi, que, atuando pela Major League Soccer (MLS), dos Estados Unidos, ocupou a segunda colocação no ranking, ganhando “apenas” US$ 135 milhões (R$ 765,5 milhões), o que representa menos da metade do que faturou o português. O detalhe é que o atacante argentino fatura, por exemplo, parte das receitas com a venda de pacotes de streaming da liga norte-americana de futebol.
Cristiano Ronaldo não é o único representante da Saudi Pro League na lista dos jogadores de futebol mais bem pagos do mundo em 2024. Analisando-se as dez primeiras posiões, é possível notar que o ranking é dominado por atletas que atuam na Arábia Saudita.
Em terceiro lugar aparece o atacante Neymar, do Al-Hilal, brasileiro mais bem posicionado na lista, com receitas de US$ 110 milhões (R$ 623,7 milhões). Na quarta colocação está Karim Benzema, do Al-Ittihad, com faturamento de US$ 104 milhões (R$ 590 milhões).
Ao todo, a Saudi Pro League possui quatro representantes na lista dos dez jogadores mais bem pagos do mundo da Forbes. Já a Premier League conta com três, LaLiga (mais precisamente o Real Madrid) tem dois nomes e a MLS, um (o já citado Messi).
Confira, abaixo, o ranking da Forbes, dos jogadores mais bem pagos do mundo em 2024:
O que explica o predomínio saudita?
A predominância da liga saudita na lista da Forbes é reflexo do investimento de aproximadamente US$ 1 bilhão feito pelo Fundo Público de Investimento (PIF, na sigla em inglês) da Arábia Saudita, entre o fim de 2022 e o início de 2023, visando atrair algumas das maiores estrelas do futebol mundial para o país.
Esse movimento ajudou a colocar o campeonato do país em evidência. Neste ano, ao mesmo tempo em que leva adiante grandes projetos em outras áreas esportivas, o PIF (que banca, na prática, os clubes profissionais do país) foi mais comedido em suas investidas no mercado, gastando US$ 524 milhões na última janela de transferência.
Vale observar que essa postura pode não ser necessariamente motivada por uma possível falta de recursos. Por um lado, a Saudi Pro League já conta com estrelas de peso, que lhe garantem projeção em todos os cantos do planeta. Além disso, atualmente é escassa a oferta de figuras de renome disponíveis para contratação.
O Al-Nassr, por exemplo, bem que tentou contratar Kevin De Bruyne, com aval do astro Cristiano Ronaldo. Porém, o jogador belga, que aparece em 10º na lista da Forbes, optou por continuar no Manchester City, alegando que sua família já estaria enraizada na cidade britânica.
Os fortes investimentos sauditas na construção de uma liga de futebol de primeira linha representam um negócio que vai muito além do esporte. Esse movimento é, hoje, a principal expressão do “soft power” do país.
O conceito é utilizado para descrever a habilidade de uma nação em influenciar, de maneira indireta, o comportamento ou os interesses de outros corpos políticos por meios culturais ou ideológicos.
O esporte tem o papel fundamental de tentar aliviar as diversas críticas que recaem sobre o regime político da Arábia Saudita, marcado por perseguições a dissidentes políticos e também a mulheres, pessoas LGBTQIA+ e minorias religiosas.
Por isso mesmo, o reino do oeste asiático é constantemente acusado de praticar o chamado “sportwashing”, que pode ser traduzido literalmente como “lavagem esportiva”, no sentido de utilizar o jogo para limpar sua reputação ruim.
Ao mesmo tempo, vale observar, os investimentos em esporte são parte de um projeto que visa reduzir a dependência da Arábia Saudita em relação ao petróleo, que atualmente responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) real do país.
Essa estratégia foi definida em 2016, pelo príncipe herdeiro Mohammad bin Salman, e tem como pilares a diversificação econômica e o estímulo a áreas como turismo, educação, saúde e serviços públicos.
Batizado de Saudi Vision 2030, o programa estratégico busca também promover uma imagem mais leve e secular do país, prevendo, inclusive, a entrada de mulheres no mercado de trabalho.