Faltando cerca de cinco meses para o início dos Jogos Olímpicos de Paris, o esporte brasileiro vê uma de suas principais esperanças de medalha, o skate, seguir envolto em uma polêmica que aparenta estar distante de acabar.
No novo capítulo dessa saga sem fim, a Corte Arbitral do Esporte (CAS) resolveu reverter, pelo menos por enquanto, a decisão da World Skate, entidade que representa os esportes olímpicos sobre rodas, que, no fim do ano passado, havia desfiliado de seus quadros a Confederação Brasileira de Skateboarding (CBSk).
A resolução da CAS baseia-se no argumento de que e mudança da representatividade do skate olímpico brasileiro, neste momento, poderia afetar a preparação do time do país para a disputa nos Jogos de Paris.
Em janeiro, quando explodiu a notícia de que a CBSk havia sido desfiliada da World Skate, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou que assumiria a preparação da modalidade para os Jogos.
Na época, o comando da CBSk chegou a criticar publicamente o COB, que teria se mantido em silêncio diante de apelos feitos por estrelas da modalidade para que a entidade máxima do esporte olímpico do país se posicionasse sobre a polêmica com a World Skate.
Na prática, porém, o COB não chegou a desfiliar a CBSk de seus quadros, fato que foi admitido em nota divulgada à imprensa pelo Comitê, que devolveu à entidade de skateboarding o comando sobre a preparação do time olímpico de skateboarding.
Disputa milionária
Conforme noticiou a Máquina do Esporte em janeiro, a disputa pela representatividade do skate brasileiro envolve razões econômicas, em especial repasses na casa de R$ 10 milhões anuais, provenientes da Lei Agnelo/Piva, de incentivo às modalidades olímpicas.
Com a decisão tomada pela World Skate no ano passado, quem assumiria o controle da modalidade no país e administraria essa verba seria a Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP).
Desde a última sexta-feira (23), a CBSk voltou a administrar os recursos da Lei Agnelo/Piva, que estavam sob a responsabilidade do COB. A medida foi ratificada em reunião que contou com as participações de representantes do Comitê e da Confederação, além de integrantes do Ministério do Esporte.
“Recebemos a decisão da CAS com muita alegria e com a certeza de que o skateboarding volta para as mãos da entidade da qual nunca deveria ter saído. A CBSk realiza um trabalho de quase 25 anos. São vários colaboradores atuando pelo desenvolvimento da modalidade. É muito bom poder voltar a trabalhar com foco em mais uma Olimpíada”, afirmou o presidente da CBSk, Eduardo Musa.
De acordo com ele, o foco do trabalho, neste momento, será voltado aos Jogos de Paris. Ele não quis tecer prognósticos sobre como a CAS irá se posicionar em relação ao mérito da polêmica com a World Skate.
“A gente acredita que não haverá mudanças até as Olimpíadas, já que a cautelar foi concedida justamente na intenção de não prejudicar a sequência de preparação dos atletas. Então, apesar de não sabermos ao certo quando teremos o resultado final do processo, vamos continuar trabalhando com foco em Paris”, disse. Ele também alegou estar aberto para eventual diálogo com a entidade rival.
Procurado pela Máquina do Esporte, Moacyr Júnior, presidente da CBHP, classificou a decisão da CAS como uma ocorrência do “rito processual”, ocasionada pela judicialização do caso. Vale salientar que a CAS ainda não se pronunciou sobre o mérito da questão.
“No decorrer desse longo período em que se desenrolou este assunto, mais precisamente desde 2016, a CBHP nunca se permitiu desfocar de sua missão, que é seguir seu trabalho construindo um futuro melhor para todas as modalidades dos esportes sobre rodas. Neste sentido e como sempre fez, a CBHP acatará com resiliência as decisões emanadas das instâncias superiores e às entidades às quais diretamente se relaciona como filiada, quer sejam as federações internacionais (World Skate, Pan-Americana e Sul-Americana) e o Comitê Olímpico do Brasil”, disse.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, o skate brasileiro contou com 12 competidores (seis homens e seis mulheres) e conquistou três medalhas de prata, com Rayssa Leal, Pedro Barros e Kelvin Hoefler.