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Com estagnação de carreira, advocacia enfrenta desafio de tráfico de influência nos tribunais

Com estagnação de carreira, advocacia enfrenta desafio de tráfico de influência nos tribunais

Em Mato Grosso do Sul há 20,4 mil profissionais do Direito em atividade. A maioria é formada por advogados de 24 a 44 anos, auge do pleno vigor profissional, com 61% da classe nesta faixa etária. 

Os anos recentes mostram que também é quando o desencanto pela profissão fica mais evidente. Não apenas pela concorrência, complexidade das leis, alteração de regulamentos e demandas digitais e automatizadas. As altas rodas jurídicas parecem dominadas por super campeões de decisões, em uma injusta e predatória concorrência. 

Sempre se soube nos corredores como funcionava o sucesso de certos profissionais do berço de ouro. A operação Ultima Ratio, da Polícia Federal, apenas escancarou como funciona o esquema que tira a esperança de quem se forma e pega a carteira da Ordem dos Advogados do Brasil de conseguir um sustento digno. 

O advogado Rodrigo Gonçalves Pimentel, filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel (que iria assumir a presidência do Tribunal de Justiça de MS, caso não tivesse sido afastado), teve o rendimento aumentado em 174 vezes em seis anos. 

Era de 52,5 mil reais em 2017, passou para 3,3 milhões em 2018 e chegou a 9,2 milhões em 2022. Os investigadores detectaram que ele recebeu 21 milhões de reais da JBS num intervalo de nove meses, entre 2022 e 2023. 

Felix Jayme Nunes da Cunha tem mais de 200 ações no STJ. Três delas são investigadas como parte da venda de sentenças por resultados favoráveis. Uma vasta maioria envolve vendas de fazendas, com honorários estratosféricos. 

Fábio Leandro, advogado e filho do desembargador Paschoal Leandro (aposentado em julho deste ano), fez 1.489 saques em contas suas e de seu escritório de advocacia entre 2016 e 2019. Os saques totalizaram mais de 3 milhões de reais. Ele ainda teria participado de esquema que envolve a advogada Emmanuelle Silva, esposa do juiz Aldo Ferreira da Silva, e que desviou quase seis milhões de um engenheiro do Rio de Janeiro, apenas com decisões e identidades falsas, tamanha a desfaçatez. 

(Escritório de Rodrigo Pimentel: Palácio onde funcionam diversas empresas / foto: reprodução)

RENDA EXTRA

Quase 30% dos advogados em atividade precisam de atividades complementares para conseguir pagar as contas e anuidade. E da grande maioria dos profissionais, 70% são autônomos, trabalham artesanalmente e sozinhos, sem ligação com os grandes escritórios. 

Mesmo os que trabalham em grandes bancas, passam por sufocos de salário defasado e denúncias de assédio moral. 

A grande fatia do bolo dos operadores do Direito em MS ganha até R$ 6.600. Enquanto os advogados príncipes, apontados na operação da Polícia Federal, fazem saques de R$ 300 a 500 mil em dinheiro vivo, em um mês. 

O advogado ainda pode ter o azar de advogar em uma ação contra os protegidos e ver o patrimônio do cliente desaparecer em poucos despachos, caso da fazenda que foi tomada mesmo com escrituras falsificadas ou do congelamento de R$ 6 milhões em bens que foram dados em uma dívida fabricada por carteira de identidade falsa. 

O surpreendente é que os advogados têm um conselho profissional, a OAB, que é gigante e tem muitas prerrogativas, principalmente para defender a grande maioria dos profissionais. Em Mato Grosso do Sul ela recebe R$ 20 milhões para defender os interesses de quem paga as anuidades.

MAIS OPORTUNIDADES (?)

Nos últimos dois anos, 62% dos advogados de Mato Grosso do Sul, um contingente de mais de 12 mil profissionais, não utilizaram nada do que a OAB oferece, a não ser o boleto para pagamento da anuidade. Seja por falta de serviços que sejam essenciais ou por desconhecimento, a OAB/MS parece não tem mais o que oferecer para a advocacia.



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