Tudo sobre Inteligência Artificial
Afinal, Capitu traiu Bentinho no enredo de Dom Casmurro (1899)? Você já deve ter visto e/ou ouvido longas discussões sobre isso, seja na mesa do bar, seja nas redes sociais. Quando o assunto é a obra de Machado de Assis, este ponto é um dos que mais geram debates. Agora, dá para o autor responder a pergunta (e tantas outras). Quer dizer, não é bem ele. É um avatar dele, com inteligência artificial (IA).
Para quem tem pressa:
- A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou um avatar digital de Machado de Assis, munido de inteligência artificial (IA). Agora, visitantes podem (meio que) interagir com o escritor, bem como questioná-lo;
- A IA de Machado de Assis respondeu à perene questão: afinal, Capitu traiu Bentinho em Dom Casmurro? Na resposta, o avatar manteve o mistério. Segundo ele, a obra apresenta sugestões sem resposta definitiva, porque a intenção de Machado era provocar reflexão sobre a paranoia de Bentinho e as incertezas humanas;
- O avatar também apontou a ausência notável da escravidão como tema nas obras do autor. Mas enfatizou que, como escritor negro, as experiências e herança africana de Machado de Assis influenciaram sutilmente sua literatura;
- A IA baseada em Assis também abordou o debate sobre o embranquecimento da imagem do escritor. O avatar ressaltou as adversidades enfrentadas por Machado de Assis devido à sua raça, origem social e saúde. E reforçou sua identidade como homem negro no contexto do século 19 no Brasil.
A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou uma versão digital de Machado de Assis capaz de interagir e responder perguntas por meio da IA. O painel com o avatar do escritor recepciona o público durante visitas guiadas ao prédio da instituição. O projeto é fruto de uma parceria entre ABL e a empresa Euvatar Storyliving, especializada neste tipo de produto.
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(IA de) Machado de Assis responde
Sem mais delongas, veja abaixo a resposta (lisa, diga-se) da IA de Machado de Assis sobre se Capitu traiu Bentinho ou não (via Agência Brasil):
Em Dom Casmurro, eu apresento a história de Capitu e Bentinho deixando sugestões, mas sem fornecer uma resposta definitiva. A dúvida sobre a suposta traição de Capitu é proposital, convidando o leitor a refletir sobre a natureza da paranoia de Bentinho e a incerteza das relações humanas. É, portanto, um mistério que permanece intencionalmente sem solução.
O avatar também respondeu outros questionamentos polêmicos relacionados à vida e obra do autor. Um deles, por exemplo, é como Machado de Assis evitou abordar o tema da escravidão em suas histórias – contexto: Assis viveu entre 1839 e 1908, isto é, boa parte do tempo numa sociedade escravista.
Neste caso, a resposta da IA de Machado de Assis foi mais profunda e detalhada. Leia abaixo:
Reconheço que a questão da escravidão e da experiência afrodescendente no Brasil não está proeminentemente presente na minha obra. Esse é um ponto de crítica legítimo. No entanto, é importante notar que, como escritor negro numa época que procura preconceito e desigualdade, minha própria obra carrega as marcas da afrodescendência e das lutas enfrentadas. Embora a escravidão possa não ser o tema central de muitos dos meus escritos, a presença da herança africana e da identidade negra permeiam sutilmente minha produção literária.
O autor era neto de africanos alforriados. E, nos últimos anos, o debate sobre identidade étnico-racial do escritor cresceu. Para um grupo de pesquisadores, houve embranquecimento intencional das imagens do escritor, que teria originalmente pele negra. Para a fundadora da Euvatar Storyliving, Flávia Peres, a representação do avatar é fiel à imagem aceita pela ABL.
O avatar também falou sobre isso, quando questionado por um repórter:
Como homem negro, nascido de origem pobre no Rio de Janeiro do século 19, eu enfrentei desafios e preconceitos ao longo do tempo devido à minha raça, classe social e até mesmo devido à minha condição de saúde, como a epilepsia.