A novela do “devo, não nego; pago quando puder” em que mergulhou o Corinthians, em tempos recentes, teve um novo capítulo, nesta terça-feira (15).
A Brax, agência que detém a exclusividade na exploração da publicidade estática nos jogos em casa do time na Neo Química Arena, em São Paulo (SP), resolveu se pronunciar, a fim de tentar se afastar do envolvimento na disputa envolvendo o clube paulista e o Flamengo, que acusa o Corinthians de calote na compra dos direitos do lateral-direito Matheuzinho.
Contratado no início da atual temporada, o jogador custou cerca de R$ 24 milhões. O Corinthians chegou a pagar as duas primeiras parcelas do acordo, de R$ 4 milhões cada. Mas em agosto o clube deixou de honrar o compromisso, levando o Flamengo a acionar a cláusula que obriga o Alvinegro a quitar o restante de uma só vez e com multas, totalizando R$ 17 milhões.
A Brax entra nesse imbróglio porque o Corinthians apresentou como garantia justamente o contrato com a Brax para exploração da publicidade estática de seu estádio, que passará a vigorar em 2025 e renderá R$ 48 milhões anuais (um total de R$ 240 milhões até 2029).
Em nota, a empresa de marketing esportivo, que também é parceira do clube carioca na exploração da publicidade estática dos jogos do clube em casa (que renderá R$ 330 milhões, entre 2025 e 2029), admitiu ter sido “notificada pelo Flamengo a respeito da execução das garantias”.
A notificação foi extrajudicial. A Brax diz ter informado o Flamengo de que “os próximos vencimentos do contrato ocorrerão a partir de janeiro de 2025” e que os pagamentos estariam em dia.
“A Brax Sports Assets reforça que a sua relação nessa negociação é apenas como garantidora e sua obrigação é, havendo eventual inadimplência por parte do Corinthians, repassar ao Flamengo os valores que por contrato deveriam ser pagos ao Corinthians no prazo e na forma ajustada entre o clube paulista e Brax. Portanto, a empresa esclarece que não existe qualquer débito da Brax com os clubes”, afirma a nota.
Devo, não nego
Além da disputa envolvendo o atraso no pagamento pelos direitos de Matheuzinho, o Flamengo possui outra polêmica com o Corinthians, relativa ao goleiro Hugo Souza.
A equipe carioca recusou a proposta de compra dos direitos do jogador, feita pelo clube paulista, por não aceitar o fiador apresentado pelos alvinegros.
O goleiro atualmente está emprestado ao Corinthians, que fica sujeito a uma multa de R$ 500 mil, cada vez que ele enfrenta o Flamengo. Os dois times irão se enfrentar no próximo domingo (20), no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil.
O Flamengo não é o único cobrar publicamente o Corinthians. Há poucos dias, Cristiano Dresch, presidente do Cuiabá, acusou o Alvinegro de “dar um golpe no futebol brasileiro”.
A fala feaz referência ao fato de o clube paulista dever R$ 14 milhões ao time mato-grossense, deixar a dívida em aberto e seguir contratando com voracidade, como no caso do holandês Memphis Depay, que custará R$ 70 milhões ao longo de dois anos.
Em entrevista concedida ao repórter André Hernan, do UOL, Fred Luz, CEO do Corinthians, tentou rebater as declarações de Dresch.
“Não é que o clube seja caloteiro. Vou pedir licença para o Cristiano e dizer que ele exagerou e muito. No momento adequado essas respostas serão dadas. O que tem é um descasamento entre a capacidade de pagamento do Corinthians e o vencimento dessas dívidas do clube no curto prazo. Nós vamos precisar da compreensão, inclusive do Cristiano”, declarou.
Ao analisar a resposta do executivo corintiano, o CEO e fundador da Máquina do Esporte, Erich Beting, ponderou que “o futebol vive um descasamento com boas práticas de gestão”.
“Deve-se, não se nega e ainda se vai a público dizer que é isso mesmo. Quem está com dinheiro a receber que pegue a senha, espere para ver e, se estiver vivo até lá, receba sua parte, com sorte ainda de ser próxima do valor original. O problema é que o descasamento virou regra. Não se questiona o mau pagador, apenas negocia-se maneiras alternativas de receber menos do que se deve. Não se trabalha para evitar novos descasamentos”, afirmou Beting.
De acordo com ele, a “solução” oferecida por Luz para a inadimplência do clube que comanda é a mesma “que o futebol brasileiro pratica desde que começou a ser transformado em um negócio”.
“Promete-se uma coisa, cumpre-se outra e fica a massa falida, que nunca entra de fato em falência. E quem tem a receber? Bom, que se vire para não receber o que se deve. E nem tente penhorar propriedades ou conta de dirigentes. Apesar da lei prever isso, nenhum juiz tem coragem de colocar em prática”, disse.