Para facilitar e proteger as fraudes da quadrilha, o deputado federal e candidato à prefeitura de Campo Grande do PSDB, Beto Pereira, contava com uma prima dele que foi nomeada diretora no Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul).
A nomeação dela saiu logo após Pereira cooptar o despachante David Clocky Hoffaman Chita para tocar o esquema de corrupção e repassar mesadas das propinas para, segundo denúncia do despachante, alimentar o caixa de campanha de Beto.
David Chita está foragido após ter prisão preventiva decretada justamente em uma ação que investiga fraudes no órgão estadual. Ele agora tenta um acordo de colaboração premiada com o MPMS para, segundo diz, entregar o esquema que envolveria servidores, empresários, delegados de polícia, assessores, advogados e políticos do PSDB.
De acordo com David, Priscila seria uma das integrantes do esquema que supostamente teria recebido ‘blindagem’ em todas as investigações sobre as fraudes e corrupção no Detran-MS, pelo fato de ser parente de Beto Pereira.
Enquanto aguarda o gabinete do PGJ decidir sobre a proposta, David revelou ao Jornal Midiamax suposto esquema de corrupção no Detran-MS que seria comandado pelo deputado federal Beto Pereira (PSDB).
Consta na denúncia que Beto Pereira teria sido muito claro em seus objetivos. “Preciso de parceiros para ajudar na minha campanha”.
Conforme denunciado pelo despachante, Beto Pereira teria citado o nome da prima, Priscila Rezende de Rezende, logo no primeiro encontro dos dois, em dezembro de 2022, no escritório do parlamentar, no Bairro Tiradentes, em Campo Grande.
Funcionária concursada desde 2006, Priscila virou diretora dias depois em 17 de janeiro de 2023, conforme antecipado pelo primo deputado. Além disso, a prima de Beto assumiu a Dirve (Diretoria de Registro e Controle de Veículos).
Segundo Chita, a promoção da prima de Beto foi estratégica para o grupo, pois é justamente esta diretoria que cuida de operações como registro de acessos dos funcionários aos sistemas de registro de veículos.
Hoffaman diz que Beto Pereira perguntou a ele do que precisaria para ajudar o esquema criminoso de onde tiraria mesadas para usar na campanha eleitoral.
Um dos pontos cruciais para as fraudes seria ter alguém no comando da Dirve (Diretoria de Registro e Controle de Veículos). “Falei que precisava de alguém na Dirve, que é o setor que libera acesso, tira acesso, muda funcionário”, explica Chita.
Nesse momento, afirma que Beto Pereira contou já ter recebido informação do diretor-presidente do Detran-MS, Rudel Espíndola Trindade Júnior, a confirmação de que sua prima, Priscila, seria nomeada em breve para o comando da Dirve.
“Eu preferia um nome que eu tivesse indicado, mas ele colocou uma pessoa dele. Se resolver nosso problema, tudo bem”, lembra Chita.
Assim, no dia 17 de janeiro, cerca de um mês após a reunião citada pelo despachante, Priscila Rezende de Rezende, que é servidora concursada do órgão, foi designada para ocupar, inicialmente, de forma interina pela chefia do Dirve. Depois, ela assumiu a função de forma permanente.
A reportagem tentou obter pessoalmente o posicionamento de Priscila sobre a acusação. Na sede do Detran-MS, a equipe encontrou com Priscila, mas foi interrompida rispidamente pelo diretor-executivo do órgão, João César Mattogrosso. Em seguida, a assessoria de comunicação pediu para que os dois diretores se retirassem.
Ao Jornal Midiamax, a assessoria apenas adiantou que Priscila, se intimada, irá prestar os esclarecimentos devidos às autoridades competentes. Ainda, a comunicação do órgão informou que iria providenciar uma nota oficial da instituição sobre as denúncias.
A reportagem oficializou os questionamentos por e-mail, que foi devidamente documentado e teve confirmação de recebimento por parte da assessora. Porém, ainda não obtivemos resposta e o espaço segue, como sempre, aberto.
Os questionamentos também foram enviados para que Priscila e Rudel possam se manifestar, mas não foram respondidos.
O candidato Beto Pereira e sua assessoria de comunicação também foi acionados pela reportagem para se manifestarem sobre as denúncias apresentadas por David. No entanto, até esta publicação, não enviaram resposta.
A reportagem também questionou Gustavo Pereira sobre as acusações, mas não obtivemos resposta até esta publicação.
O ex-diretor-adjunto do Detran, Juvenal Neto, limitou-se a dizer que desconhece ‘esse assunto’.
O espaço segue aberto para manifestações.
Despachante propõe delação premiada ao MP
Hoffaman oficializou nesta semana ao MPMS (Ministério Público de MS) um pedido de acordo para colaboração premiada. Segundo ele, a delação poderia derrubar suposta quadrilha com servidores do órgão, empresários, delegados de polícia, assessores e políticos.
Em entrevista exclusiva ao Jornal Midiamax, David Chita, que tem mandado de prisão decretado e está foragido, garante que fugiu porque corre grave risco de vida em Mato Grosso do Sul, principalmente se for parar nas unidades prisionais do Estado.
Assim, ele constituiu um advogado de fora de MS para encaminhar o acordo. O despachante garante que está pronto para comprovar todas as denúncias caso tenha oportunidade de entregar o material probatório ao MPMS.
O pedido está na mesa do PGJ (Procurador-Geral de Justiça), Romão Avila Milhan Junior. No entanto, fontes dentro do MPMS relatam à reportagem que o assunto seria tratado ‘com muita cautela’ pela cúpula do órgão ministerial por causa dos políticos implicados.
Propina do Detran-MS para caixa 2 na campanha de Beto Pereira
Assim, David teria sido ‘recrutado’ por Beto para atuar em conluio com servidores do Detran-MS no esquema e repassar o dinheiro sujo diretamente a pessoas ligadas à organização do ‘caixa não-oficial de campanha’ do PSDB para chegar à Prefeitura de Campo Grande.
Então, ficaram combinados repasses mensais a três pessoas tratadas como a cúpula do esquema criminoso. Em troca, Beto Pereira supostamente atuou para facilitar a operação com nomeações dentro do Detran-MS, acesso à cúpula da Polícia Civil e da Casa Civil para ‘blindar’ a operação.
Segundo David Hoffaman afirma, o chefe, Beto Pereira, supostamente recebia R$ 30 mil todo dia 10. Já seu assessor e braço direito à época, Thiago Gonçalves, seria responsável por negociar e articular em nome do ‘chefe’ e, ainda segundo David, receberia R$ 20 mil todo dia 30.
Por fim, o então diretor-adjunto do Detran-MS, Juvenal de Assunção Neto, receberia R$ 20 mil no dia 20.
“E tem muito mais. O que estou contando para vocês não é nem 30% de tudo que eu sei. Tem muito mais coisas que podem aparecer se quiserem investigar e se não me matarem antes”, alerta Hoffaman.
Além dos pagamentos fixos, David conta que ainda repassava uma comissão por cada documento fraudado. Segundo ele, mais de R$ 1,2 milhão de reais foram repassados ao grupo chefiado pelo deputado federal no período em que o esquema criminoso operou.
“Beto [Pereira] sempre foi o chefe, nada era feito sem autorização dele”, reforça David Cloky Hoffaman Chita.
Beto Pereira também prometeu tirar delegado
Ao ser chamado por Beto Pereira para ajudar a formar caixa dois para sua campanha a prefeito de Campo Grande, o deputado federal teria sido muito claro em seus objetivos. “Preciso de parceiros para ajudar na minha campanha”.
Para que o esquema pudesse funcionar sem ‘problemas’, David pontuou o que precisava. O ponto central para que os serviços criminosos pudessem fluir seria tirar um delegado que atuava na Corregedoria do Detran-MS. Segundo ele, a quadrilha precisava de alguém mais ‘maleável’ no cargo.
Então, David relata que, no mesmo instante, Beto afirma ter muita influência com a cúpula da Polícia Civil à época e que iria providenciar o pedido.
Ainda, o despachante apontou outros setores estratégicos do órgão que precisariam ter ‘gente do esquema’. Beto também teria concordado em conseguir nomeações e acessos privilegiados ao sistema do Detran-MS para membros da quadrilha. Essa seria uma das funções de Priscila no órgão, conforme apontado por David.
O esquema de fraudes que cobrava propina de donos de veículos e, segundo David, supostamente repassava o dinheiro para caixa de campanha de Beto Pereira, passou a chamar a atenção dentro do Detran-MS. Em série de reportagens, o Jornal Midiamax já adiantava como operava a quadrilha que trouxe caminhões de todo o país para fraudar documentos em MS e virou alvo da Operação Miríade.