BC admite 100% de chance de estouro da meta de inflação neste ano

O Banco Central admite oficialmente 100% de chance de estouro da meta de inflação neste ano, mostra relatório trimestral divulgado pela autoridade monetária nesta quinta-feira (19). Em setembro, a probabilidade estimada era de 36%.

Se a projeção, de fato, se concretizar, o futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, será obrigado a escrever uma carta aberta ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) logo após assumir o comando da instituição em janeiro de 2025.

“A inflação acumulada em 12 meses e a expectativa de inflação para 2025 subiram para patamar incompatível com o cumprimento da meta de inflação”, diz o BC no relatório.

De acordo com a autoridade monetária, a inflação acumulada em 12 meses aumentou de 4,24% em agosto para 4,87% em novembro, com surpresa de 0,44 ponto percentual em relação ao cenário apresentado no relatório anterior.

“Destaca-se a pressão maior que a esperada sobre preços de alimentos, que veio a se somar às pressões exercidas pelo aquecimento da atividade econômica e pela acentuada depreciação cambial”, justifica.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Para 2025, a autoridade monetária aponta 50% de probabilidade de o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ultrapassar o limite superior da margem de tolerância. No relatório anterior, a chance era de 28%. Já no caso de 2026, o salto foi de 19% para 26%.

Nos próximos anos, contudo, isso não reflete a probabilidade de descumprimento da meta. No modelo contínuo, a autoridade monetária descumprirá o objetivo caso a inflação se situe fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos (em qualquer mês do ano).

“Como as projeções são superiores à meta, as probabilidades de ultrapassar o limite superior são maiores do que as de ultrapassar o limite inferior”, diz o BC em trecho do documento.

A instituição cita, entre os fatores que podem dificultar o controle da inflação, as expectativas distantes da meta por muito tempo, a inflação de serviços mais resiliente devido ao aquecimento da atividade econômica e políticas econômicas de impacto inflacionário.

A autoridade monetária afirma que a inflação está acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta. “A inflação acumulada em quatro trimestres, depois de ter terminado 2023 em 4,6%, aumenta para 4,9% em 2024 e cai para 4,5% em 2025 e 3,6% em 2026, diante de meta de 3%”, diz.

No relatório, o BC também elevou a sua estimativa de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil neste ano, de 3,2% para 3,5%.

“A revisão da projeção de crescimento anual em 2024 reflete, sobretudo, a surpresa positiva no resultado do terceiro trimestre e a revisão das séries históricas do PIB e de seus componentes”, diz.

A projeção da autoridade monetária sobre a expansão da economia para este ano é mais otimista do que o último dado divulgado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em novembro, a SPE (Secretaria de Política Econômica) do Ministério da Fazenda ampliou a estimativa de crescimento do PIB para 3,3%.

Quanto à atividade econômica, o relatório mostra que, setorialmente, indústria e serviços avançaram no terceiro trimestre, enquanto a agropecuária recuou. Já o consumo das famílias manteve um crescimento robusto no período.

Para 2025, a estimativa da autoridade monetária para a economia brasileira é de avanço de 2,1%, ante previsão inicial de alta de 2% do PIB em setembro. A SPE, por sua vez, prevê um crescimento de 2,5% no próximo ano.

Apesar da revisão para cima, a instituição ressalta que permanece a perspectiva de desaceleração da atividade. Para justificar a perspectiva de crescimento em 2025 menor que o deste ano, o BC destaca a expectativa de menor impulso fiscal; o endurecimento da política de juros; o reduzido grau de ociosidade dos fatores de produção; e a ausência de forte impulso externo.

Em seu último encontro de 2024, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

Quanto aos passos futuros, o colegiado do BC antecipou que prevê aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões. Se o cenário se materializar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano –pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

Quanto à questão fiscal, o BC diz que a meta de resultado primário do governo tende a ser cumprida, mas alerta que o quadro fiscal ainda demanda atenção. Diz ainda que o pacote de medidas de contenção de despesas “não parece ter gerado impacto inicial positivo sobre a percepção dos analistas.”

“O governo central deve encerrar 2024 com déficit primário menor que o observado em 2023 e que o esperado pelos analistas ao longo do ano. A melhora está associada ao comportamento favorável das receitas. Contudo, há incertezas em relação ao cumprimento das metas fiscais nos próximos anos e as projeções indicam trajetória crescente da dívida pública”, afirma.

A partir do próximo ano, o relatório de inflação será substituído pelo de política monetária, que continuará sendo publicado trimestralmente.

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