Série de seis episódios conta parte da história do craque, incluindo a conquista de 1994, que completará 30 anos em breve Autenticidade foi uma das primeiras palavras que Romário mencionou, em entrevista ao Extra, quando perguntado sobre seu retrato em “Romário, o cara”, série da Max em seis episódios que conta parte de sua trajetória, do início da carreira à Copa de 1994, nos Estados Unidos. Com mais de 80 entrevistas, a obra traz detalhes e ajuda a recontar a história e a personalidade do Baixinho, hoje senador, presidente (e atacante) do America, aos 58 anos.
—Aquilo ali é o Romário. Autêntico como jogador de futebol, cidadão, parlamentar e agora presidente do América. Essa série deu a oportunidade, principalmente para os mais jovens que não me acompanharam, de ver realmente quem é o Romário. Essa palavra é o que mais ouço dos moleques que vêm falar comigo. Você é f…, você é pi…, mas é muito autêntico, sou seu fã. Isso ficou bem claro (na série) e foi bem positivo. Depois que você ganha ou realiza alguma coisa, tem muito mais facilidade de dizer que faria aquilo ou ganharia. Eu tive a oportunidade de mostrar, principalmente pra aqueles que me acompanharam, que eu falava, fazia e depois falava para c… que fiz — disse.
A série é dirigida pelo jornalista e empresário de mídia Bruno Maia, que ressalta um longo processo de pesquisa e a ideia de que a obra simulasse uma história de ficção. Foram dez países visitados, com gravações em nove deles. Outro foco foi mostrar a imagem de Romário no futebol europeu:
— O cara ficou cinco anos e meio morando numa cidade no interior da Holanda (Eindhoven, quando atuou no PSV), naquele frio danado, numa época em que não tinha internet e o fluxo de pessoas não era tão simples. Era uma dedicação grande, falava holandês muito bem. Joga no Barcelona, é duas vezes artilheiro da Champions. Muitos feedbacks que a gente tem tido são de pessoas que não imaginavam o tamanho da devoção que ele tinha em Eindhoven, quão plásticos eram os gols que ele fazia, quão decisivo ele era e o quanto grandes jogadores europeus, se quisermos tomar isso como validador, o que não acho que seja o caso, falam do tamanho que ele teve. Voltou para o Brasil porque quis.
Patrício Diaz, gerente de conteúdo de não-ficção da Warner Bros. Discovery, relembra que a produção foi descobrindo novas histórias ao longo do caminho:
— A própria série foi chamando novos personagens, a partir das entrevistas com o elenco do tetra. Ele, a produção e nós entendemos que o jogo contra os Estados Unidos tinha uma importância muito maior. A partir daí, foi decidido ir para os Estados Unidos atrás de personagens como Alexi Lalas, Tab Ramos e Tony Meola, que acabam sendo muito importantes. Trabalhar com não-ficção é um pouco isso, ir para onde a história te pede para ir.
Romário diz que algumas participações recusadas poderiam deixar a série “ainda mais polêmica”. Dunga, Muller, Careca e Zagallo foram algumas das recusas. O Baixinho conta que recordou algumas das histórias e até discorda de algumas visões.
— Minha ex-mulher, quando eu ligo para ela na noite da (final) da Copa, ela diz que sentiu a primeira vez que fiquei com medo. Por…, totalmente equivocada, vou ficar com medo de jogar um jogo de futebol? Na Copa do Mundo? Estava amarradão e feliz. Enfim, entendimento dela.
A passagem pela Europa é muitas vezes deixada de lado quando contada a lenda de Romário. Mas bem demarcada na série, que vai de Roberto Baggio a Pep Guardiola entre os entrevistados que ajudam a entender o que é a figura do Baixinho no velho continente.
— Saí do Brasil com 22 anos, que eram os “16 ou 17 anos” lá atrás, era muito novo. A Europa te ensina muita coisa. Você é muito mais profissional que no Brasil. Tem muito mais cobrança, dos seus próprios colegas. Não só para mim, para todos que vão, é uma escola positiva. Para mim foram muito importantes esses anos de PSV, Barcelona e depois um pouquinho no Valencia. Valeu muito a pena — diz Romário, que credita a confiança que construiu à união entre as experiências dentro e fora do país — Na Europa, você ganha experiência de vida e profissional. Aprende coisas que não se ensina no Brasil. São escolas diferentes. Você vem com a malandragem e a sabedoria da escola brasileira e mistura o profissional e a identidade forte com a camisa que joga na Europa. É uma mistura que fez com que cada vez mais eu me tornasse um cara assim, consciente e convicto de que eu poderia falar porque eu iria fazer. Eu confiava muito em mim.
Romário (à esquerda) em treino do Vasco em 1998
Hipolito Pereira
No aniversário do tetra, elogios e conselho a Dorival
Na série, o desejo de Romário de ter Ronaldo, então com 17 anos, como companheiro num trio de ataque de ataque na Copa de 1994, é enfatizado. “Com certeza faríamos mais gols”, diz ele ao Extra. A menos de um mês do aniversário de 30 anos do tetracampeonato mundial do Brasil — dia 17 de julho —, Romário fez elogios ao técnico Dorival Júnior, atual comandante da seleção brasileira, e disse esperar evolução na equipe até 2026. Também mantém a posição daquele mundial, de colocar em campo quem estiver melhor.
— Hoje, o moleque de 16 anos já tem vaga em qualquer time do mundo. Por que não na seleção? Independente de quem seja, e hoje é o Dorival, um bom treinador e que tem demonstrado isso, tem que colocar os 11 melhores que ele tem. Quem gosta de nome é Bíblia. Um cara tem mais nome que o outro? Fo…, bota para jogar. Acredito que tenha que ter esse pensamento para sair da mesmice, porque ver um jogo da seleção brasileira está bem complicado. Mas estou bastante esperançoso que a gente dê uma melhorada até a Copa.
Romário com a taça do mundo em 1994
Ivo Gonzalez
Sobre o time de 1994, aponta o espírito daquela seleção na conquista:
— Saímos do Brasil com esse objetivo. Eram 24 anos, muitas vezes já tinha batido na trave, era a última Copa para muitos daquela geração. A gente sabia que perder era muito ruim. Tudo isso se juntou com a qualidade do time, o esforço, a vontade de cada um, e a gente conseguiu esse título.
Segunda temporada?
Hoje atuando pelo America, pelo qual vive a expectativa de voltar a jogar profissionalmente pela primeira vez desde 2009 — quando também atuou em partida do time carioca —, o Baixinho deseja que uma possível segunda temporada mostre sua trajetória até o milésimo gol, marcado com a camisa do Vasco em 2007:
— Deveria ir até o gol 1000. Aqueles que não viram, vão ver o Romário jogando no Flamengo, no Vasco, no Fluminense. Continuarão me conhecendo e vendo como foi minha vida depois desse período da Copa do Mundo. Apesar da gente falar de futebol, tem muita coisa fora dele.
Romário vive a expectativa de voltar a atuar pelo America
Alexandre Cassiano
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