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Após 'racha', BC retoma unanimidade e mantém Selic em 10,5% ao ano, mesmo sob pressão de Lula

Cesta básica sobe em 16 das 17 capitais pesquisadas em janeiro. Veja os maiores aumentos


Decisão interrompe ciclo de queda iniciado em agosto do ano passado. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano, após sete cortes consecutivos iniciados em agosto do ano passado, quando a taxa estava em 13,75%.
A decisão interrompe o ciclo de queda a contragosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse nesta terça-feira avaliar que “não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, mas em linha com a expectativa do mercado financeiro.
Segundo comunicado do Banco Central, a decisão foi tomada de forma unânime pelos nove integrantes do Copom, em contraste com a divisão (5 a 4) da reunião anterior, que terminou com redução de 0,25 ponto percentual na Selic.
Chama a atenção o voto do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que é considerado o favorito para ser indicado pelo presidente Lula para substituir o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, a partir de 2025 à frente da autoridade monetária.
Mesmo com críticas do presidente Lula ao atual líder do BC e ao que considera alto patamar dos juros na véspera do Copom, Galípolo votou pela manutenção da taxa básica. O voto de Galípolo era um dos principais focos de analistas de mercado, que busca nas posições dele sinais de como deve atuar o BC a partir do ano que vem. Ele tem a difícil missão de se equilibrar entre o que quer Lula e o que o mercado espera dele.
Em uma pesquisa realizada pelo Valor Data com 132 instituições, 123 esperavam estabilidade da Selic em 10,50%, enquanto apenas nove viam espaço para mais um corte de 0,25 ponto percentual, como na reunião de maio.
A manutenção da taxa ocorre em um momento de disparada do dólar, que tem impactos inflacionários, e do aumento dos riscos fiscais, especialmente após a mudança da meta de 2025 e da ausência até o momento de medidas concretas de corte de gastos.
Além disso, a inflação corrente medida pelo IPCA subiu de 3,69% em 12 meses até abril para 3,93% no período encerrado em maio, contra uma meta de 3,0% neste e nos próximos anos.
As expectativas de inflação futura, já distantes da meta, se afastaram ainda mais desde o Copom de maio. Entre os motivos estão temores sobre o compromisso do BC com a meta de inflação quando a maioria do colegiado for formado por indicados do governo Lula.
Para 2025, ano em que o BC mira para colocar a inflação na meta, houve alta de 3,64% para 3,80% na mediana do Boletim Focus. Mesmo a projeção do Copom já estava acima do alvo a ser perseguido no último encontro, em 3,3%.
Ainda houve deterioração no Focus de expectativa mais longa, de 2026, de 3,50% para 3,60%. Por fim, o cenário internacional está mais adverso para o Brasil diante do diagnóstico de que os juros americanos ficarão altos por mais tempo.
Na última reunião do Copom, no mês passado, o BC tinha deixado o caminho aberto para as decisões futuras, citando que as incertezas no cenário global, a resiliência da atividade doméstica e as expectativas de inflação longe da meta demandavam cautela.
A decisão de maio aumentou bastante a temperatura em torno do comitê em função do racha entre os quatro diretores indicados por Lula, que queriam um corte de 0,50 ponto percentual, e os cinco membros que já estavam no comitê no governo anterior, cuja decisão foi por uma queda de 0,25 ponto.
Ainda que os dissidentes tenham apresentado argumentos técnicos, ligados principalmente à indicação dada na reunião anterior por corte de 0,50 ponto, a divisão aumentou os temores de uma postura mais tolerante com a inflação a partir de 2025, quando os nomeados pelo presidente da República serão maioria. No fim do ano, acabam os mandatos do presidente do BC, Roberto Campos Neto, e de outros dois diretores.
Desse modo, aumentou a pressão sobre a posição dos quatro “emissários” de Lula na reunião deste mês, principalmente sobre Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, principal cotado para assumir a vaga de Campos Neto. Na avaliação do mercado, novo dissenso similar ao do encontro de maio deve alimentar a sangria dos ativos brasileiros no mercado financeiro.
A politização em torno do Copom aumentou ainda mais na semana passada devido à ida do presidente do BC a um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Jair Bolsonaro, em sua homenagem. Na ocasião, segundo o jornal Folha de S.Paulo, Campos Neto teria dito a interlocutores que aceitaria ser ministro da Fazenda de Tarcísio caso ele concorra ao Palácio do Planalto e ganhe as eleições em 2026.
Na terça-feira, em entrevista à CBN, Lula afirmou que a única coisa “desajustada” no país é o Banco Central e questionou a autonomia de Campos Neto.
— Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país.

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