Normalmente, painéis solares são grandes, caros e difíceis de serem instalados por quem não é habilitado em residências. Contudo, uma nova invenção pode estar prestes a mudar este cenário.
Em uma feira comercial de sustentabilidade em Berlim (Alemanha), um painel solar pequeno o bastante para ser instalado em uma varanda com facilidade absurda chamou a atenção. Depois de instalado, basta conectá-lo a uma tomada para que a energia solar seja irradiada pela casa da pessoa.
Ao The New York Times, a aposentada Waltraud Berg se disse emocionada com a invenção. “Fiquei absolutamente emocionada ao saber que algo assim existia, que você pode gerar sua própria energia e ser mais independente”, contou. Berg instalou, sozinha, vários painéis na varanda de seu apartamento em Berlim.
Painéis solares plug-and-play viram febre na Alemanha
- Sozinhos, cada um desses painéis levíssimos produzem energia para apenas o carregamento de um notebook, ou para manter uma pequena geladeira funcionando;
- Contudo, a tecnologia vem permitindo que vários lares alemães façam verdadeira transformação verde, contribuindo com o meio ambiente e sem precisar de grande investimento financeiro, ou o recrutamento de profissionais especializados;
- “Você não precisa furar ou martelar nada”, disse Berg. “Você apenas os pendura na sacada como roupa molhada na Itália”;
- Até o momento, mais de 500 mil desses sistemas foram instalados na Alemanha;
- Além disso, novas leis locais flexibilizaram a instalação de painéis solares, ajudando no crescimento do sistema por lá;
- Nos primeiros seis meses de 2024, foram adicionados 9 GW de capacidade fotovoltaica na Alemanha, quantidade essa de energia solar que um sistema produz, informa a Federal Network Agency, reguladora alemã.
Estamos vendo aumento contínuo em instalações solares em particular. Comparado à capacidade total no final de 2023, quase 10% a mais de capacidade solar foi adicionada. Desse total, dois terços foram instalados em edifícios, o que inclui sistemas de varanda.
Klaus Müller, presidente da Federal Agency Network, em entrevista ao The New York Times
A União Europeia (UE) vem tentando se afastar da dependência do gás natural da Rússia. Para tanto, busca quadruplicar a quantidade de energia gerada por fontes fotovoltaicas até 2030, chegando a 600 GW.
Até o mesmo ano, a Alemanha almeja chegar a um terço dessa quantidade (200 GW). Mas, em 2023, o país europeu pretende adicionar mais capacidade de energia solar do que qualquer país do velho continente, atesta a Rystad Energy.
Produção dos painéis solares
Parte dos painéis vendidos na Alemanha provém de empresas europeias, mas boa parcela advém de companhias chinesas, que detém domínio do setor. Isso, segundo Nicholas Lua, analista da Rystad, permite que a China os vendam a custos cada vez mais baixos.
“Painéis de pequena escala se beneficiaram das mesmas economias de escala que o sistema de fabricação solar da China tem à sua disposição”, observou ao Times.
O estímulo do governo alemão aos seus moradores para que instalasse painéis solares nos telhados de suas casas começou já no início dos anos 2000. Para quem realizasse a instalação, seria efetuado um pagamento, chamado de tarifa feed-in, para que fosse enviada energia para a rede nacional.
Contudo, esse sistema se tornou cada vez menos lucrativo nos últimos anos, de forma que esse tipo de investimento, em larga escala, se tornou menos atrativo.
Por sua vez, o novo formato plug-in envolve o roteamento da corrente contínua (CC) gerada pelos painéis para um inversor. Este, por sua vez, converte a CC em corrente alternada (CA). Dessa forma, o sistema pode ser conectado a uma tomada convencional e enviar a energia gerada pelo Sol para a casa toda.
Janik Nolden é um dos fundadores da Solago, startup que, além dos sistemas plug-and-play, também vende o clássico formato de telhado. Segundo Nolden, a maioria dos clientes da empresa se interessa na instalação dos painéis por conta própria.
Boa parte do que é vendido pela Solago é produzida na China, que, segundo seu fundador, produz painéis de melhor qualidade, além de serem mais baratos do que qualquer um produzido na Europa.
“Se meus clientes estivessem exigindo painéis feitos na Europa, eu os estocaria, mas eles não estão”, informou ao periódico estadunidense.
Como algumas pessoas vinham perguntando como instalar o sistema plug-in, Nolden passou a publicar vídeos, no qual explica como os painéis funcionam, além de como planejá-los, instalá-los e otimizá-los. “Faça você mesmo é o futuro. As pessoas querem fazer o máximo possível por si mesmas”, opinou.
A Solago iniciou com pequena loja no subúrbio de Düsseldorf (Alemanha), cresceu e, atualmente, tem enorme depósito, no qual 50 funcionários auxiliam no envio de oito caminhões de entregas em toda a Alemanha e até na Áustria.
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Interesse fora da Alemanha
Outros países europeus também têm interesse na tecnologia. Ela já é popular na Holanda, com o interesse crescendo em França, Itália e Espanha, em parte graças à queda constante dos preços dos painéis.
Na Alemanha, o preço dos painéis solares sai por € 200 (R$ 1.218,72, na conversão direta) em grandes lojas. Conjuntos completos, que incluem montagem, inversor e cabos, chegam a sair por cerca de duas vezes mais, ou € 400 (R$ 2.430,07).
Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços da energia elétrica alemã dispararam, mas, hoje, estão estabilizados em € 0,25 por kW/h (R$ 1,52). Contudo, seguem entre os mais altos no continente.
Outras leis que estão popularizando a instalação dos painéis mais em conta pela população alemã impedem que proprietários e cooperativas impeçam instalações do sistema e acabam com certos requisitos de registro mais burocráticos.
Christian Ofenheusle, fundador e CEO da EmpowerSource, que promove o uso solar em pequena escala, pontuou: “Estamos vendo mais diversidade, mais pessoas mais velhas e mais mulheres.”
Segundo ele, um grupo de usuários em franco crescimento é composto por jovens com famílias preocupadas com as mudanças climáticas.
Eles dizem que querem fazer uma contribuição. Mesmo que isso signifique economia de menos de € 100 [R$ 607,65] por ano, eles aceitarão de bom grado, porque é para a próxima geração.
Christian Ofenheusle, fundador e CEO da EmpowerSource, em entrevista ao The New York Times
Na linha dos painéis mais “amigáveis”, estão as bateria de pequena escala, que permitem aos usuários o armazenamento de eletricidade gerada nos horários de pico, para poder ser utilizada à noite.
Além disso, aplicativos, como o da Solago, permite aos usuários que verifiquem quanta eletricidade estão produzindo em certo momento.
O Times afirma que verificar essa informação virou verdadeiro vício para alguns, ao nível de usar redes sociais ou jogar videogame, gerando certa “rivalidades” amigáveis entre amigos e vizinhos, mas, ainda, aguçando a vontade por gerar mais e mais economia.
Inicialmente, Thomas Losch zombou de seu vizinho ao saber da instalação de energia solar dele, composta por diversos painéis solares plug-in conectados a medidores inteligentes, que permitem ao vizinho otimizar o uso de sua energia.
No fim, Losch foi vencido pela curiosidade e, há dois meses, também instalou o sistema em sua residência, mais especificamente, no telhado da garagem da casa. Agora, logo que acorda, já corre para o smartphone e visualiza quanta eletricidade o sistema está gerando.
“Agora, estou completamente viciado em como posso produzir energia do Sol. Tornou-se como tomar uma droga”, desabafou.
A situação não é incomum, afirmou Nolden, da Solago. Muitos de seus clientes adquirentes do sistema plug-and-play voltam para solicitar um sistema de telhado completo.
Após os dois meses que se passaram após instalar os painéis menores em sua casa, Losch já vislumbra tudo o que ele pode alimentar com energia solar se realizar uma instalação completa em seu telhado, tal como um EV com uma bateria maior.
O sistema já instalado pelo homem gera energia o bastante, durante o dia, para alimentar ar-condicionados portáteis nos quartos do andar superior da casa. E ele não está satisfeito apenas pelo fato de estar economizando dinheiro, mas, também, por estar reduzindo sua pegada de carbono.
“Não é como se eu estivesse salvando o mundo, mas estou fazendo minha parte. É uma sensação boa”, finalizou.
