A vida de um atleta é uma constante preparação buscando estar pronto para o grande momento. Essa dedicação envolve horas de treino, alimentação controlada e descanso adequado. Antes de uma disputa importante, até mesmo atividades simples são feitas de forma mais controlada a fim de poupar energia antes da competição.
Além do esforço físico, o descanso é essencial. A rotina de um atleta alterna momentos de intenso esforço e momentos de relaxamento, permitindo que ele suporte o desgaste diário e encontre prazer em estar sempre em busca do melhor desempenho.
A confiança vem dessa preparação, e é ela que garante a tranquilidade quando o momento da competição chega. Esse é o verdadeiro prazer do atleta: saber que teve a disciplina de fazer, com excelência, tudo que estava ao seu alcance para estar bem preparado, mesmo quando não estava com vontade.
Em uma conversa que tive com a ginasta Flávia Saraiva, a Flavinha, medalha de bronze na ginástica artística por equipes em Paris 2024, ela me disse que treinava de 7 a 8 horas por dia, folgando apenas no domingo. Em um ano, isso soma aproximadamente 2 mil horas de treino para competir por apenas um minuto e meio nas Olimpíadas. Esse contraste mostra a importância de cada momento de treino na vida do atleta.
Mas por que só treinar não basta? Porque, no grande momento, é crucial respeitar e confiar no que foi feito até ali. Para uma ginasta, é no minuto da competição que todo o seu potencial deve ser colocado em prática. Respeitar o que foi feito significa agir com confiança e determinação, mesmo diante das dúvidas que possam surgir.
Os vencedores sabem que o treino físico também fortalece a mente. Ao acreditar nisso, tornam-se mais resilientes e confiantes. Embora o foco pareça mental, essa força é construída com base na disciplina diária.
No futebol, muitos atletas têm hábitos antes dos jogos. Conheci jogadores que precisavam comer 12 uvas com doce de leite antes de ir ao campo. Outros aqueciam com um relógio que só era retirado na hora de vestir a camisa de jogo. Há ainda aqueles que meditam por cinco minutos antes de entrar em campo. Esses hábitos, que diferem de superstições, são formas de preparar a mente para a ação, dizendo ao cérebro: “Estamos prontos. Agora é hora de agir”.
A maior derrota não é ser superado pelo adversário, mas chegar ao momento de competir e não agir. Deixar que dúvidas e inseguranças comprometam a performance é a maior frustração que um atleta pode ter. Por isso, é essencial estar consciente do processo que te trouxe até ali, para que, nos momentos decisivos, você possa agir com confiança.
Isso também se aplica à vida cotidiana. Um aluno que estudou muito para o vestibular, mas não confia no que aprendeu, pode travar na hora da prova. O mesmo vale para o profissional que preparou um excelente trabalho, mas trava ao apresentá-lo. Ou o empresário que, após anos de experiência, não confia em seu instinto e falha em tomar uma decisão importante. Os vencedores sabem que, no momento de agir, é preciso confiar no que foi construído ao longo do tempo.
Portanto, quando falo de agir e de respeitar o processo que te trouxe até aqui, não estou dizendo que não haverá erros. Errar faz parte do processo, é um sinal de que você está praticando, arriscando e buscando o melhor resultado. Esse é o aspecto mais importante. Os atletas entendem isso e, por esse motivo, conseguem fazer o que deve ser feito no momento certo. O que você construiu é essencial, mas só terá valor se, no grande momento, você colocar tudo isso em prática e agir.
Diego Ribas é ex-jogador de futebol, com passagens por Santos, Flamengo, diversos clubes europeus e seleção brasileira. Atualmente, é palestrante, comentarista, apresentador do PodCast 10 & Faixa, garoto-propaganda de empresas como Genial Investimentos, Adidas, Colgate e Solides, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte