O Dia de Finados, neste domingo (2), foi movimentado em todos os cemitérios de Campo Grande. Na data que move saudade e pesar, uma cena comovente chamou a atenção do público que visitava as lápides: um cão dormia sobre um túmulo com uma carinha de tristeza. A história do cãozinho chamado de Sanches esconde uma história emocionante. O tutor, um antigo funcionário do cemitério, partiu há cerca de duas semanas.
Apesar de estar deitado em cima de uma lápide específica, o antigo tutor de Sanches está sepultado em outro local. Inclusive, a lápide dele está marcada por uma patinha do cão sem raça definida. O funcionário Marcos da Silva Vargas, que trabalha no cemitério há 23 anos, conta que o animalzinho descansava ali em cima do mármore apenas pela sombra.
Mas, afinal, por que o animal permanece no local? Sanches é um cão idoso de 15 anos que apareceu no cemitério ainda filhote. Ele dava sinais de que havia sido maltratado após ser abandonado. Nisso, o antigo funcionário, Rosalino Sanches, resolveu cuidar do cão sem raça definida.
“Sanches é o cachorro mais velhinho que tem aqui, tem entre 14 e 15 anos. Apareceu ainda filhote e era bravo, arisco. O senhor Rosalino Sanches também era muito antigo aqui, se aposentou, mas continuou cuidando de muitos túmulos porque as pessoas o contratavam. Era uma pessoa muito bondosa”.
O nome do cão foi escolhido pelo coveiro justamente pela parceria entre os dois. “Como ele [Rosalino] não saía do cemitério e o cachorro também não, o cachorro virou Sanches. Demorou um ano para ele amansar e conseguir chegar perto dele”, descreve Marcos.
Partida e legado de Rosalino
Rosalino faleceu no dia 24 de outubro e também foi sepultado no Cemitério Santo Amaro. Os colegas participaram do velório e sepultamento. “Levamos ele [cachorro] no sepultamento, pois foi um parceiro dele [Rosalino] por muito tempo. Onde ele estava, o Sanches estava atrás. Fizemos um memorial e colocamos a patinha do Sanches na sepultura”, conta Marcos.
A Prefeitura de Campo Grande deu o nome de Rosalino a uma das avenidas do cemitério, que agora é chamada de “Avenida Rosalino Sanches”. A homenagem descreve o legado deixado pelo funcionário: “a um servidor exemplar, cuja dedicação e amor ao Cemitério Santo Amaro marcaram para sempre a história deste lugar”.

O abandono e lar
Outros dois cães foram abandonados no cemitério, Nega e Neguinho. Marcos conta que ambos acabam sendo cuidados pela equipe, que promete continuar cuidando de Sanches com a mesma dedicação de Rosalino. “Eles são bem gordinhos e ficam deitados nos lugares mais fresquinhos, com sombra”.
A história de Sanches é conhecida pelo Jornal Midiamax desde 2016. O cemitério Santo Amaro, um cantinho improvisado já chama a atenção: um paninho estendido, alguns comedouros com ração e água. Tudo muito simples para os moradores Sanches e Rosalina, a simpática duplinha de cão vira-lata que vivem ali, conforme relatos dos funcionários do cemitério.
Os cachorros não se abalam com o local “diferente”, assustador ou triste para muitas pessoas, pelo contrário. Bem cuidados e muito alegres, chamam a atenção. Além de Sanches, uma fêmea também ganhou o nome de Rosalina, também em homenagem ao coveiro Rosalino.











