A empresa especializada em inteligência de dados Sportradar lançou, nesta semana, a nova edição de seu relatório anual de integridade esportiva. A companhia, sediada na Suíça, presta serviços de combate a manipulações em apostas e resultados, para diversas organizações mundo afora, inclusive no Brasil.
O estudo, relativo a 2023, indica um total de 1.329 casos de suspeitas de fraude em todo o planeta. Um dado que chama a atenção é o amplo predomínio das modalidades masculinas, entre aquelas onde surgiram indícios de manipulação.
Nada menos que 1.295 casos suspeitos de fraude, registrados no ano passado, foram em esportes praticados por homens. Isso equivale a 97,4% do total. Enquanto isso, os eventos femininos tiveram somente 34 situações consideradas anômalas, de acordo com o relatório.
Intitulado “Corrupção de Apostas e Manipulação de Resultados em 2023”, o estudo analisou dados referentes a 850 mil eventos e partidas em 70 esportes.
Casos suspeitos apontados no monitoramento ocorreram em 11 modalidades e 105 diferentes países. Um dado positivo é que, apesar de representar um problema grave, a manipulação está muito longe de ser uma situação recorrente no universo esportivo. Pelo contrário: o relatório indica que a taxa de casos suspeitos de fraude ficou na casa de 0,21%, ou seja, uma a cada 421 jogos.
Em 99,5% dos eventos analisados, não houve qualquer indício de manipulação. E a taxa de casos suspeitos não chega a 1% em nenhum esporte.
Futebol é o esporte mais visado
Esporte mais popular o planeta, o futebol foi a modalidade mais visada pelas tentativas de fraude em 2023, com 880 casos. Em seguida, aparecem o basquete, com 205 eventos suspeitos, e o tênis de mesa, com 70.
A Sportradar utilizou informações coletadas em nível de conta, com acesso aos bilhetes de apostas, para detectar 85% dos jogos suspeitos no vôlei (27 casos) e 100% dos jogos suspeitos no tênis (61) e no tênis de mesa.
As outras modalidades citadas no relatório com eventos suspeitos são: e-Sports (46 casos), críquete (13), handebol (12), hóquei no gelo (8), futsal (6) e sinuca (1).
Com relação ao índice de casos suspeitos, o futebol também lidera a lista, com 0,63%, enquanto no tênis e no tênis de mesa os percentuais são de 0,05%.
O relatório da Sportradar mostra o Brasil na liderança do ranking dos países com mais casos suspeitos de manipulação, com 109 eventos anômalos verificados em 2023. Vale destacar, porém, que a situação melhorou na comparação com o ano anterior, com 44 jogos suspeitos a menos (redução de 29%, no total).
Do total de casos anômalos apontados pelo relatório, 15 foram em competições organizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), enquanto os outros 94 ocorreram em competições promovidas por federações estaduais. Os números do país são relativos a cerca de 9 mil jogos e eventos monitorados. O percentual de partidas suspeitas no Brasil ficou em 1,21%, superando a média global.
A queda registrada no ano passado, no país, representa a primeira desde 2020. A Rússia é outro mercado onde houve redução na quantidade de eventos suspeitos, na ordem de 37%. Por outro lado, Filipinas e Peru tiveram aumentos respectivos de 28% e 20%, nos totais de partidas com indícios de fraudes.
A Europa foi o continente com o maior número de eventos suspeitos (667, contra 620 em 2022). Em seguida, aparecem Ásia (302 casos, 62 a mais na comparação com o ano anterior) e América do Sul (217 jogos controversos, contra 225 em 2022). Na África foram 108 casos, no ano passado, enquanto a América do Norte registrou 35. Nenhum indício de fraude foi verificado na Oceania.
A empresa informa que seus dados e relatórios contribuíram para um total de 147 sanções esportivas e criminais, abrangendo 39 casos em 10 modalidades, em 23 países.
“O investimento contínuo no desenvolvimento de tecnologia é fundamental para detectar ocorrências de manipulação de resultados que seriam difíceis de encontrar de outra forma. Em combinação com o acesso a dados em nível da conta, a colaboração entre toda a indústria e especialistas humanos, temos um conjunto de ferramentas poderosas para ajudar a prevenir e detectar riscos para a integridade esportiva. Mais avanços na luta contra a manipulação de resultados serão possíveis, à medida que os modelos de IA [Inteligência Artifical] continuarem a aprender, e seguiremos aperfeiçoando a nossa experiência para proteger o esporte da manipulação”, afirma Andreas Krannich, vice-presidente executivo de integridade, proteção de direitos e serviços regulatórios da Sportradar.