Palestras ajudam usuários da rede de Assistência Social a superar a dependência de alcoolismo e drogas

Questões emocionais e familiares motivaram Nilton Vieira de Souza, 52, e Julismar Silveira de Matos, 41, a buscar refúgio nas ruas da Capital. As histórias desse processo de afastamento familiar são diferentes, mas se cruzam em um ponto em comum: o uso de substâncias psicoativas, como o álcool e as drogas.

No caso de Nilton, já são oito anos sem ver os filhos, enquanto que Julismar completa um ano longe da família. No entanto, a vida dos dois vem tomando um rumo diferente nos últimos meses, que pode colocá-los no caminho de casa novamente. Além do apoio que estão recebendo da Rede de Assistência Social, as palestras educativas que abordam desde as consequências para a saúde devido ao uso de drogas até os temas que buscam fortalecer a autoestima, têm feito diferença na vida dos dois acolhidos na UAIFA II (Unidade de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias).

Durante o mês de fevereiro, período marcado nacionalmente pelos debates sobre o tema, as rodas de conversa, palestras e atividades de conscientização relacionadas ao consumo de substâncias psicoativas dominaram a programação das unidades de acolhimento, envolvendo os profissionais das secretarias de Assistência Social, Saúde e Direitos Humanos, que reforçaram aos usuários os canais de apoio oferecidos pela Prefeitura de Campo Grande e a mensagem de que não estão sozinhos nesta caminhada.

E o trabalho surtiu efeito. Segundo a técnica de referência do SEAS, Ruti Lessa da Silva Candelouro, que organizou as palestras do mês de fevereiro, da campanha nacional em unidades da Secretaria de Assistência Social, em média de duas a três pessoas se interessaram em iniciar um tratamento na rede municipal ou por meio das comunidades terapêuticas quando ouvem uma palestra.

O número pode ser baixo em um universo de 30 usuários, por exemplo, mas ela garante que esse trabalho de formiguinha resulta em experiências e dados positivos no futuro, principalmente porque dar o primeiro passo e se manter no caminho da recuperação, é uma tarefa complexa que envolve, especialmente, fatores emocionais e psicológicos.

“O trabalho de conscientização é diário, sempre realizamos atividades educativas, mas em fevereiro reforçamos as ações para que a sociedade conheça melhor nosso trabalho e entenda a dificuldade que é sair do mundo das drogas”, disse Ruth.

Mão amiga

Foi assim com Nilton. Há duas semanas acolhido na UAIFA II, ele estava há oito em situação de rua, entre idas e vindas neste processo de recuperação. Hoje, ele garante que aceitou o acolhimento oferecido pelo Serviço Especializado em Abordagem Social para efetivar a mudança pessoal que busca.

“Cheguei aqui sujo, com a roupa do corpo. A equipe do SEAS me levou para uma UPA onde fui atendido e encaminhado para cá. Sempre aceitei o acolhimento e agora estou esperando a produção dos meus documentos para dar entrada no LOAS. São muito importantes esses debates e palestras para a gente ter mais conhecimento da nossa doença, né? Porque se você não tiver esse entendimento não consegue se ajudar e você pensa que está em um caminho sem volta e não é verdade, você pode voltar”, ressaltou Nilton, que já está mantendo contato novamente com a família e espera, em breve, retomar o convívio.

O LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) na verdade é o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência, que é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção, nem de tê-la provida por sua família.

Apesar de ter iniciado há dois anos o tratamento em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e ter o entendimento de sua condição, Nilton afirma que continua participando das palestras quando está acolhido. “É importante porque ajuda você a se manter firme, a melhorar sua autoestima. Eu me sentia um fracassado, um derrotado, mas esses profissionais estendem a mão e acreditam na nossa recuperação. Agradeço muito ao SEAS que nunca desiste da gente também e oferece ajuda várias vezes”, destacou.

Quem também está retomando o contato com a família é Julismar, há dois meses acolhido a UAIFA II. Ele chegou à unidade encaminhado pelo Centro POP. O próprio usuário foi quem buscou o equipamento, localizado na região central e que oferece alimentação e assistência psicossocial e jurídica aos usuários, além da oportunidade de realizar a higiene pessoal.

“Eu já estava há um ano na rua. Tenho família aqui em Campo Grande, mas o pessoal não dá muito apoio. No momento estou me sentindo forte, estou me sentindo bem, não estou usando drogas desde que retornei para cá. Estou com expectativa boa, até porque eu tenho um filho e quero voltar a ter essa convivência com ele”, ressaltou.

Mesmo ainda estando no início da caminhada, Julismar acredita que é nesta fase que as palestras podem fazer a diferença. “A gente chega na UAIFA se sentindo derrotado, mas quando você vai conversando, ouvindo as pessoas falando, sua cabeça muda, entendeu? Porque às vezes a gente fica muito recluso no lado negativo, por isso sempre procuro ser participativo nas palestras. O que a unidade oferece, é uma oportunidade única e a gente tem que tirar bom proveito, são oportunidades de ouro que só nos fortalecem”, disse.

Família restaurada

É essa oportunidade de ouro que o palestrante Luiz Antônio Curci pretende oferecer ao levar suas palestras para as unidades da Rede de Assistência, órgãos e entidades. Com um currículo de 12 anos realizando trabalhos voluntários com dependentes químicos e alcoólicos, Luiz cursou Teologia com foco no universo acadêmico e é pós-graduado em Aconselhamento em Teo Terapia, curso que busca a integração entre a teologia e a psicologia, com foco na compreensão e abordagem de questões espirituais e psicológicas de forma conjunta. Mas a experiência veio mesmo da atuação em comunidades terapêuticas, referendando o seu trabalho.

As palestras, como as ministradas na UAIFA II e no Centro POP reuniram mais de 50 pessoas, abordando todos os aspectos da dependência química, desde as relações familiares até a saúde, mas o objetivo mesmo é resgatar o amor próprio dos usuários. “Todos têm a oportunidade de mudar e minha esperança é que a pessoa, em algum momento, seja tocada porque uma pessoa transformada é uma família restaurada”, enfatizou.

A prova de que a técnica obtém resultados positivos é o comprometimento de Julismar com sua recuperação. E como forma de agradecer as orientações e o apoio emocional recebido pelas equipes ele já faz planos de estudar para, no futuro, prestar concurso e atuar na área de Assistência Social. É uma ideia que estou amadurecendo para agregar e nós precisamos de pessoas que nos deem atenção, por isso me faltam até palavras para agradecer esse trabalho do município”, concluiu.

Somadas às palestras, as equipes da SAS também participaram da blitz educativa “Campo Grande em Ação, Drogas Não”, organizada pela Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos e que aconteceu nos terminais da capital, junto a Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos.

A SAS disponibiliza os celulares do SEAS (67) 98404-7529 ou 98471-8149 para denúncias sobre pessoas em situação de rua. Cabe ressaltar que as equipes de abordagem da Política de Assistência Social fazem a oferta dos serviços à pessoa em situação de rua, que tem por opção aceitar ou não os serviços da Rede. As recusas de atendimento são um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV.



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Texto e tradução @nia_tae | Vídeo: alaa_Hamouda2
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Von Foerster calculou que, caso o crescimento continuasse no mesmo ritmo, os sistemas naturais e a infraestrutura humana não seriam capazes de sustentar tanta gente, levando a uma crise global sem precedentes. 

O crescimento populacional, de fato, desacelerou ao longo das últimas décadas em várias partes do mundo, o que reduz o risco imediato. Porém, o estudo ainda serve de alerta para os limites dos recursos e a necessidade de um uso sustentável do que temos.

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