O fã fluido não aceita mais ser coadjuvante do esporte

O esporte sempre foi movido por paixão. Essa conexão emocional entre torcedores e times é uma das essências que tornam o espetáculo esportivo único. No entanto, vivemos uma era de transformações. A evolução tecnológica e as mudanças sociais estão desafiando a forma como os fãs interagem com seus esportes favoritos. O que antes era uma relação passiva agora se tornou ativa e cocriativa. Hoje, o fã exige mais do que assistir; ele quer participar.

Nos últimos anos, times, patrocinadores, ligas e outros players da indústria passaram a enxergar os torcedores de uma nova forma. Esses fãs deixaram de ser apenas espectadores ou consumidores e passaram a ocupar um papel central na experiência esportiva. Eles participam de decisões, moldam narrativas e até influenciam o funcionamento dos times.

Por trás desse movimento, está um conceito que venho desenvolvendo na academia e aplicando profissionalmente na Armatore: o fã fluido. Esse termo traduz a constante transformação existente no comportamento do torcedor. Ele não é fixo ou estático; ele muda conforme novos contextos, tecnologias e gerações. A Geração Alpha, por exemplo, já exibe características totalmente distintas das gerações anteriores, sendo a primeira completamente nativa digital. Para alcançar esse fã em constante evolução, é preciso adotar tecnologias emergentes e novas estratégias que o coloquem como protagonista.

É nesse cenário que 2025 desponta como mais um marco na transformação do engajamento esportivo. As inovações tecnológicas continuam a redefinir as relações entre fãs e esportes, alterando a percepção e a estratégia de todos que atuam no setor. Entre as principais apostas para o futuro do engajamento, vejo a inteligência artificial (IA), o streaming e as comunidades de criadores despontando e, por isso, são as minhas apostas.

Inteligência artificial e personalização do conteúdo

A inteligência artificial não é apenas uma ferramenta; é um divisor de águas na maneira como os fãs consomem esportes. Seu impacto é profundo e abrange desde a forma como os torcedores recebem informações até a personalização da experiência, criando conexões mais significativas e envolventes.

Uma pesquisa da IBM com mais de 18 mil torcedores em 10 países revelou que 50% dos fãs globais acreditam que a IA terá um impacto positivo nas experiências esportivas. Entre os jovens de 18 a 29 anos, essa adesão é ainda maior, chegando a 58%. Esses torcedores apontaram atualizações em tempo real (34%) e conteúdos personalizados (29%) como as melhorias mais desejadas.

O fã moderno é multitarefa e frequentemente disperso. Enquanto os Baby Boomers e a Geração X estão acostumados a assistir a jogos do início ao fim, os Millennials e a Geração Z alternam entre dispositivos e atividades. Cada segundo que esse torcedor passa “fora da tela” é uma oportunidade perdida. Ele pode estar jogando no celular, navegando no TikTok ou assistindo a uma série no streaming enquanto o jogo acontece.

Por isso, a IA se torna uma aliada indispensável. Ela permite que os produtores de conteúdo adaptem suas estratégias para capturar e reter a atenção desses públicos exigentes. Mais do que isso, oferece experiências altamente personalizadas que diferenciam o esporte de outros concorrentes pelo tempo e atenção do torcedor.

Plataformas de streaming e consumo multitelas

A forma como os fãs consomem esportes está mudando rapidamente, impulsionada pela ascensão das plataformas de streaming e pela onipresença dos dispositivos móveis. As transmissões tradicionais de TV ainda têm relevância, especialmente entre as gerações mais velhas, mas para os Millennials, a Geração Z e a emergente Geração Alpha, o streaming já é a principal porta de entrada para o mundo esportivo.

Segundo a pesquisa da IBM, 65% dos torcedores com idades entre 18 e 29 anos utilizam dispositivos móveis como principal meio para acompanhar eventos esportivos. Além disso, 54% preferem serviços de streaming por assinatura em vez de transmissões ao vivo na TV aberta ou na TV a cabo. Esses números reforçam uma realidade: o consumo de esportes tornou-se multiplataforma e multitelas.

Essa realidade exige que as organizações esportivas e as plataformas de streaming adaptem seus conteúdos para capturar e reter a atenção do público. Alguns caminhos incluem:

  • Conteúdos curtos e dinâmicos: melhores momentos (highlights) e análises rápidas têm maior apelo entre as novas gerações.
  • Integração com redes sociais: clipes e lances compartilháveis ajudam a aumentar o alcance orgânico.
  • Experiências de segunda tela: dados em tempo real, câmeras alternativas e quizzes complementam a transmissão principal.

Comunidades de criadores e conteúdo gerado por usuários

Nos últimos anos, as comunidades de criadores de conteúdo e o conteúdo gerado por usuários (CGU) tornaram-se pilares fundamentais para o engajamento no esporte. Essa tendência reflete uma mudança no comportamento dos fãs, que não querem apenas consumir conteúdos das marcas, mas também participar ativamente da narrativa esportiva.

Plataformas como TikTok, Instagram, YouTube e Twitch têm demonstrado como o conteúdo autêntico criado por fãs e influenciadores pode ampliar o alcance e a relevância das marcas esportivas. No Brasil, 44% da população afirma ser influenciada por perfis nas redes sociais ao tomar decisões de compra, e 76% já adquiriu produtos ou serviços com base em recomendações de influenciadores digitais.

Essa colaboração gera três grandes benefícios:

  1. Autenticidade e conexão emocional: criadores traduzem a linguagem das comunidades que representam, aumentando a credibilidade.
  2. Diversidade de perspectivas: eles ajudam as marcas a alcançar diferentes culturas e gerações.
  3. Engajamento participativo: campanhas que incentivam os fãs a criar conteúdos ampliam o alcance e fortalecem as comunidades.

Que venha 2025

O fã esportivo está no centro de uma transformação sem precedentes. Ele é multitarefa, participativo e fluido, exigindo experiências que vão além do simples consumo. Para se manterem relevantes, marcas, ligas e times precisam inovar e adaptar-se a esse novo cenário.

E você, como enxerga a relação entre fã, times e marcas?

Siga @fleury.i9 nas redes sociais ou fernandofleury no LinkedIn para ler mais sobre temas como esse.

Fernando Fleury é CEO da Armatore Market+Science, PhD em Comportamento do Consumo e trabalha com inovação e tecnologia para criar novos modelos de negócios para a indústria com a construção de soluções avançadas e modelos preditivos usando inteligência artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados para entender o ciclo de vida dos produtos, criar novos produtos e identificar e rastrear clusters a fim de aumentar a receita, o público e o envolvimento dos fãs. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte



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