Em entrevista à Contigo! Novelas, a cantora e atriz Isis Broken, a Corina de No Rancho Fundo, abre o coração ao falar dos desafios da maternidade trans
Cantora e atriz Isis Broken, que vive a personagem Corina na novela No Rancho Fundo, da TV Globo, destaca força da identidade e transformações com a maternidade. Em entrevista à Contigo! Novelas, a artista revela algumas “primeiras vezes” de sua vida. Entre elas, quando se identificou como mulher e se tornou mãe.
Primeira vez que cantou…
“Eu comecei com a minha família. Meus tios tinham uma banda de garagem e sempre se reuniam
na minha casa para cantar em família. Um dia meu tio me perguntou se eu queria cantar porque tinha uma voz bonita. Todo mundo ficou encantado. Tornou-se um momento feliz e especial para mim.
A partir disso, comecei a procurar produtoras para gravar minhas músicas, e recebi muitas negativas,
mas persisti nos meus sonhos. O primeiro videoclipe que produzi com o celular para a música
Clã ganhou visibilidade, rendendo-me 27 prêmios nacionais e internacionais. E com ele mostrei as
minhas raízes e cultura do meu estado de Sergipe”.
Atuou…
“Com os meus videoclipes gerando tanta notoriedade, surgiu o interesse da Globo e me convidaram
para fazer o meu primeiro papel como Mateusa, de Histórias Impossíveis. Como eu já estava acostumada com as telas, decidi fazer um curso de atuação oferecido pela emissora, e assim surgiu
minha estreia nas telinhas. Logo em seguida, veio o teste para Corina Castello, e foi muito mágico
e significativo, algo que não imaginava, estar ali, representando minhas raízes e ainda com a narrativa principal de não ser uma personagem trans”.
Se tornou mãe…
“A maternidade chegou de surpresa na minha vida, não estava esperando. Eu tinha acabado de começar a me relacionar com o meu esposo, que é um homem trans, e existe um tabu de que homens trans não podem engravidar devido aos hormônios, mas aconteceu. Claro, a surpresa mudou a nossa vida, mas sou uma mãe muito feliz. Apolo tem 2 anos e trouxe muito amor, união e alegria para a nossa família, sou muito grata pela sua chegada. Levantou um debate muito importante sobre os corpos trans não estarem limitados ao que a sociedade impõe. A maternidade trans tem esse espaço de muita luta, e eu sempre preciso dizer que sim, eu sou mãe!”.
Ganhou seu primeiro prêmio com a música…
“O meu primeiro prêmio foi no Music Video Festival, uma das maiores premiações de videoclipes
do País, com a música Clã, do meu primeiro disco, Bruxa Cangaceira, e foi muito especial porque
estava concorrendo com nomes fortes da música, como: Criolo, Urias e Elza Soares. Ao todo, foram
27 prêmios nacionais e internacionais, em países como Itália, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos
e Colômbia. Os meus videoclipes também foram exibidos no Museu de Arte de Viena”.
Se identificou como mulher…
“Toda a minha infância e adolescência foi um processo de descoberta, a minha mãe disse que eu era
uma mulher quando tinha três anos, ela me viu saindo do banheiro com a toalha como se fosse
um vestido e uma outra na cabeça como se fosse cabelo, e eu falei: “Ah mamãe, tô bonita?”, e ela me
respondeu: “Ela é uma menina”. Então durante toda a minha infância, eu não me via como menino, só tinha amigas meninas e queria brincar de boneca. Aos 12, comecei a minha transição, mas
como morava no nordeste, rolava muito preconceito. Então, às vezes para ter segurança, ficava
transitando entre o feminino e masculino”.
Sofreu transfobia…
“Na adolescência eu sofria transfobia, as pessoas tinham a mente muito fechada, e eu estava ali à
frente do tempo. Lembro de ir para escola maquiada e nas reuniões, meus pais ouviam reclamações
de que eu não deveria ir maquiada, porque homens não devem usar maquiagem. A partir disso,
meus pais me tiraram da escola e começaram a me apoiar muito. Minha mãe me deu a minha primeira saia, que ela usou enquanto estava grávida de mim, tenho ela até hoje. Esse apoio da minha família me ajudou demais, a ser quem eu sou hoje”.