Medidas ajudariam, por exemplo, a enfrentar até carros blindados usados pelos traficantes No último dia 22, três semanas antes de agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) serem alvos de um ataque de criminosos — que matou um policial e feriu outro — durante operação no Complexo da Maré, o comandante Aristheu de Góes Lopes formalizou ao menos 10 demandas ao Comando de Operações Especiais da Polícia Militar, ao qual é vinculado. Na prática, os pedidos visam reforçar não só o armamento, com 210 fuzis e 50 submetralhadoras, mas também equipar a tropa com drones, capacetes balísticos e até novos uniformes.
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Nas justificativas apresentadas pelo recém-empossado comandante do Bope, que chegou ao cargo no fim de abril, está por exemplo o enfrentamento a traficantes e milicianos. De acordo com os documentos assinados por Aristheu Lopes, os grupos criminosos utilizam “técnicas e armamentos letais”, como táticas de guerrilha, barricadas com seteiras (arquitetura militar) e “até veículos blindados” contra os agentes. “Tiros de precisão de longa distância” direcionados aos policiais também são mencionados.
Esse preâmbulo foi usado para embasar o pedido por 150 fuzis 7,62 x 51mm, armamento com maior poder de parada, além de menor transfixação do alvo. Segundo o pedido, o armamento atual está sendo usado há 10 anos e precisa ser atualizado para “garantir a eficácia das operações policiais”. Em 2022, no entanto, a própria PM, ao comprar fuzis calibre 5,56, dizia que a ideia era diminuir os efeitos colaterais com o uso desse armamento antigo, os 7,62.
Outros 20 fuzis de calibre .338 Lapua Magnum, de alta potência e precisão, usados somente por snipers, também estão na lista das demandas ao Comando de Operações Especiais. Essas armas, utilizadas com ferrolho, têm poder de fogo a longa distância e são capazes de atravessar inclusive barricadas e veículos blindados. O modelo, usado até na Guerra do Afeganistão, é empregado também para proteger autoridades em eventos externos. Segundo o comandante escreve no documento, as unidades deverão reequipar o Grupo de Atiradores de Precisão do Bope, uma vez que “o material bélico atual não tem atendido adequadamente às demandas de confronto que visam inibir a ação dos criminosos, bem como garantir a segurança externa de autoridades.”
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Também foram solicitadas 50 submetralhadoras silenciadas de calibre 9mm, para serem adotadas pela Unidade de Intervenção Tática (UIT). A divisão atua em retomadas de pontos sensíveis, resgates de reféns e entradas táticas em ambientes que requerem intervenção cirúrgica, precisa e sigilosa. A arma é descrita como leve e fácil de manusear, precisa e de disparo rápido.
Para fazer operações mais discretas, reduzindo a detecção sonora e visual, foi solicitada a compra de 40 fuzis semiautomáticos de calibre .308 Winchester com bipé e silenciador. Segundo o documento, o modelo dá estabilidade, sigilo e precisão em longa distância em missões de infiltração e exfiltração, onde surpresa e ocultação são fundamentais.
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A investigação para apurar a morte do terceiro-sargento Jorge Henrique Galdino Cruz, atingido durante operação na última terça-feira, mostra que os agentes foram até um galpão na comunidade do Timbau, onde desconfiaram da presença de bandidos. Eles não contavam que os traficantes estavam numa casa próxima, de onde abriram fogo.
E a preocupação com o reconhecimento de áreas do conflito é justamente o que embasou o pedido do comandante Aristheu por oito drones, pilotados de forma remota. “Em determinadas situações, onde o local do crime é considerado de risco e de difícil acesso, e haja necessidade de um levantamento virtual e fotográfico mais aprimorado, faz-se necessário o uso de equipamento tipo drone”, diz o texto. A ideia é enviar não só informações sobre a localização dos alvos, mas também mapear o comportamento dos criminosos, o que asseguraria o avanço da tropa.
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Acoplados aos equipamentos, estariam câmeras (térmicas e comuns), que permitiriam, por exemplo, no planejamento de operações futuras — o que evitaria “resultados negativos”, que acarretam prejuízo da corporação perante a população, conforme ressalta o texto. “Abrir mão do uso de drones é abrir mão da segurança das pessoas empenhadas no cenário de crise ou no teatro de operações, colocando em risco toda a equipe, fazendo as comunidades reféns de riscos em potencial”, pontua trecho do pedido.
Um episódio lembrado nos pedidos é uma operação realizada no Complexo do Alemão em 2021, quando um policial do Bope levou um tiro na cabeça, “causando lesões que afetaram sua mobilidade e ainda o mantém em tratamento”. Essa memória embasa o pedido pela aquisição de 300 capacetes balísticos, vistos como essenciais para “minimizar” riscos e aumentar a segurança dos agentes em operações.
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“O vasto arsenal de armas de diferentes calibres em posse dessas facções representa um perigo iminente para os policiais em seu cotidiano de trabalho”, diz o documento, que lembra a importância ao trabalho do batalhão, voltado a tomar “pontos sensíveis” e a resgatar reféns. O “perigo real” nas áreas de conflito no geral abrangeria ainda estilhaços de explosões ou impactos de ondas de choque, conforme descrito pelo pedido do comandante do Bope.
Ainda visando um trabalho de maior qualidade dos policiais, foram solicitados novos 200 macacões, que servirão de proteção contra chamas, com um tecido moderno. Os fardamentos atuais “apresentam desgastes decorrentes do tempo de vida e do uso diário”, lembra um dos documentos. Há ainda a preocupação de que os bandidos não consigam copiar o uniforme do Bope e, consequentemente, os agentes venham a ser confundidos com eles.
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Na lista de demandas, há ainda a compra de 12 escadas telescópicas, equipamento facilmente estendido e recolhido, que pode se adaptar facilmente em diferentes terrenos, além de auxiliar no “acesso seguro a áreas de difícil alcance” durante operações de resgate. Por fim, há ainda o pedido por novos veículos para o batalhão: 12 furgões, com capacidade para 16 passageiros, e dois micro-ônibus, com capacidade para até 35 passageiros.
Entre as justificativas, está a de que viaturas sofrem um desgaste maior do que carros de um cidadão comum, pontuando ainda que essa deterioração leva “a uma redução na produtividade, às vezes até interrompendo atividades policiais, o que resulta na perda de efetividade” da tropa. No caso dos furgões, eles podem ser usados para a “infiltração velada”, usados até descaracterizados, como auxílio ao “elemento surpresa”. Já os ônibus irão transportar a tropa, mas também podem ser usados em cursos do batalhão, tanto para as instruções, como para o transporte de alunos e instrutores.
Em nota, a Polícia Militar explica que as formalizações de demandas têm “cunho institucional”, norteando procedimentos licitatórios de investimentos e aquisições futuras. “Nesse cenário, os comandantes possuem como atribuição avaliar constantemente as necessidades de suas unidades e pontuar possíveis aquisições, déficits, substituições e realinhamentos, fundamentando assim as necessidades mencionadas nas demandas, sempre visando a melhoria dos serviços prestados”, informa a corporação. A PM ressalta ainda que “não há déficit de armamento, fardamento, viaturas e nenhum aparato logístico para a atuação das equipes” do Bope atualmente.
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